Papa reza pelas vítimas de ataque em escola nos EUA: tais atos não se repitam
15/02/2018Depois das Cinzas
16/02/2018Natália Lambert e Leonardo Cavalcanti publicaram entrevista no Jornal Correio Braziliense realizada com dom Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB sobre o tema da Campanha da Fraternidade. Reproduzimos a Entrevista.
Por que a escolha do tema violência? Que tipo de violência a campanha pretende enfrentar?
A Campanha da Fraternidade, realizada pela CNBB desde os anos de 1960, já tratou da violência tanto de maneira direta e explícita como apontando a presença dela em vários outros temas. Este ano, a realidade a ser refletida e rezada não é exatamente a violência, mas a superação dela. A violência é palpável e sofremos o impacto da mesma. O importante é buscar como Igreja, sociedade, comunidade, caminhos de relações mais fraternas. A campanha propõe refletir e agir para superar qualquer tipo de violência. Partimos da constatação de que há múltiplas formas de violência e podemos superá-la com a participação de todos, construindo a fraternidade por meio da promoção de uma cultura da paz, de reconciliação e de justiça.
A violência nas redes sociais também será abordada?
A CNBB preparou um vasto estudo sobre a violência e os caminhos que podemos trilhar para superá-la. O principal resultado desse estudo é um texto-base no qual se encontra uma boa síntese do que pretendemos refletir durante a Quaresma. A violência nas redes sociais, especialmente na polarização política, reflete a cultura da violência em geral. O texto-base afirma: “Considerando que o poder midiático influencia na formação de opinião e no comportamento das pessoas, precisamos estimular a cultura da tolerância, do respeito e da paz em nossa prática cotidiana e nas redes sociais. Por esta razão, ao fazer uso das redes sociais com postagens e mensagens que contribuam com o crescimento das pessoas e da sociedade, bem como não alimentar ou reencaminhar vídeos ou mensagens que estimulem o ódio, estaremos diminuindo a violência midiática”.
Como a Igreja pode contribuir no combate à violência?
O agir é uma consequência da nossa fé. Para combater, é preciso não somente fazer grandes coisas, mas agir no cotidiano, como diz o Papa Francisco: “Todos desejamos a paz, muitas pessoas a constroem todos os dias com pequenos gestos; muitos sofrem e suportam pacientemente a dificuldade de tantas tentativas para a construir”. A complexa realidade da violência no Brasil pede uma diversidade de iniciativas para a superação. Não há uma fórmula pronta. Refletir, discutir e rezar é o primeiro passo. Outros passos são: propor a ética como medida das relações sociais; exigir uma segurança pública para todos, questionando o investimento que se faz na preparação das pessoas; manifestar descontentamento com a corrupção, que é uma das violências que deterioram as relações políticas e sociais. Cada um de nós é convocado a mudar, de algum modo, nos ambientes que vivemos e com as pessoas com as quais dividimos nosso destino social.
Os jovens são as principais vítimas da violência. Como alcançar esse público?
Papa Francisco convocou uma Sínodo sobre os jovens com a temática voltada para a juventude no mundo inteiro. Por isso, nossos jovens têm procurado refletir sobre a situação de violência que eles enfrentam todos os dias. No âmbito da campanha, procuramos apresentar pistas de ação bem concretas para estimular a participação dos jovens nos conselhos municipais e estaduais da juventude nos quais poderão dar ideias, elaborar e acompanhar a execução de políticas públicas. Além disso, toda a comunidade é chamada a dar atenção e acompanhar, com seriedade, os jovens usuários de drogas para ajudá-los no duro caminho de volta à saúde plena e, além disso, denunciar a rede do narcotráfico.
Qual a opinião da Igreja sobre a violência nos presídios?
Na elaboração dos subsídios, buscamos incluir a gritante situação do sistema carcerário, especialmente o aumento da violência nos ambientes prisionais promovido por disputas de facções criminosas. São mais de 650 mil presos, vivendo em condições degradantes. Em vez de praticar os ideais de recuperação e reintegração das pessoas, as prisões transformam-se em depósitos de supostos “maus elementos” a serem reprimidos e, se possível, esquecidos pela sociedade. De dentro das prisões, presos gerenciam organizações criminosas que controlam parte da criminalidade violenta dentro e fora das prisões. A CNBB mantém sua solicitude para com essa realidade por meio do cuidado constante da Pastoral Carcerária. É urgente discutir com a sociedade o nosso sistema prisional, o modo e os motivos do encarceramento e os trâmites da justiça em relação aos presos.
O que a Igreja tem a dizer sobre cristãos que defendem o porte de arma?
O estudo que foi feito na preparação da campanha deste ano dedicou um capítulo importante para a questão do desarmamento. Em 2005, houve um referendo e a população brasileira rejeitou o dispositivo do estatuto que proibia a venda de armas no Brasil. Hoje, se percebe que a violência aumentou e as pessoas não se sentem mais seguras porque podem portar armas. A paz é fruto da justiça e não do armamento. Ele nem sequer é uma forma preventiva para se conter a violência. Na verdade, o armamento é um dos instrumentos que contribui para as manifestações de violência. É uma espécie de “olho por olho, dente por dente”. Por isso, somos favoráveis ao Estatuto do Desarmamento como ferramenta para o enfrentamento da violência. A campanha deste ano é oportunidade para que todos, cristãos e pessoas de boa vontade, reflitam sobre esse e tantos outros problemas relacionados a violência e se lembrem que não somos adversários, mas irmãos.
Por CNBB