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20/12/2018A esperança é um hábito que pode ser aperfeiçoado
20/12/2018
“Meu filho queria uma bola, uma roupa e eu não podia comprar. A situação foi ficando cada vez pior. Cheguei a pesar apenas 54 quilos porque passei fome”. O relato da vida difícil nos últimos anos é do caminhoneiro Michael Chaves, 38 anos, que vivia na cidade de Guacara junto com a esposa e três filhos de 12, 7 e 5 anos. A família faz parte do grupo de 102 venezuelanos que foi acolhido na tarde de segunda-feira (17) na Universidade Católica de Pernambuco. “Quero fazer a formação de motorista para voltar a trabalhar”, disse sonhando com dias melhores.
As dificuldades do passado deram lugar a esperança também para a família Zambrano. O operador de máquinas Daniel, 35 anos, trouxe a mulher, Raysel, 33, e os filhos Heffri (13), Royfrelis (7) e Cláudia (4). Antes da crise econômica da Venezuela, ele trabalhava na construção de represas transportando containers em Puerto Ordaz. Cheguei a ter dois carros, mas tive que vender um. O outro quebrou e eu não tinha mais como consertar nem trocar os pneus”, contou Michael que abandonou o veículo e a casa para tentar vida no Brasil.
Os migrantes desembarcaram na Base Aérea do Recife e foram recebidos no auditório Dom Helder Camara. Homens, mulheres, seis recém-nascidos e 24 crianças de 6 a 10 anos que serão beneficiados pelo Programa Pana. “Essa situação dos migrantes é um apelo para a gente ser aquilo que a gente quer ser: uma Universidade aberta, humanística. A acolhida dos venezuelanos é uma forma de compreender melhor a nossa missão”, disse o Reitor da Unicap, Padre Pedro Rubens, lembrando que o Superior Geral dos Jesuítas, Padre Arturo Sosa, é venezuelano e que a data de hoje tem um simbolismo por ser o aniversário do Papa Francisco (também jesuíta).
“Queremos criar uma cultura de solidariedade e uma cultura de acolhimento. Nós precisamos, de uma certa forma, mudar a mentalidade de não ser uma mentalidade que se fecha e sim uma mentalidade que se abre para receber todas as pessoas”, disse o secretário da Cáritas Regional Nordeste 2, Ângelo Zanré, ao se referir às palavras do Pontífice.
O Programa Pana tem como objetivo ser referência na acolhida, proteção e integração de imigrantes e refugiados no Brasil. O termo Pana vem da língua do povo Warao e significa amigo. Financiado pelo governo dos Estados Unidos, a iniciativa tem como parceiros a Cáritas brasileira e suíça. Foram instaladas Casas de Direito como a da Unicap em seis estados: Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Distrito Federal e Rio Grande do Sul.
Na Casa de Direitos que funciona no 1º andar do bloco E da Católica, o acolhimento será oferecido através de uma equipe formada por quatro profissionais – psicólogo, assistente social, educador e assistente administrativo – que vão intermediar o acesso dos migrantes e refugiados às politicas públicas e ao sistema de garantia de direitos. Na Católica, o espaço fornecerá também formação em Língua Portuguesa, Cultura Brasileira, Legislação Trabalhista, Economia Solidária, serviços de saúde, atendimento psicológico e jurídico com apoio do Instituto Humanitas Unicap.
Governo do Estado e Prefeitura do Recife vão acompanhar os venezuelanos dando suporte no encaminhamento profissional e matriculando as crianças em idade escolar. O Ministério Público estadual também é parceiro do projeto. No Recife, a Casa de Direitos estará aberta para atender migrantes e refugiados de todas as nacionalidades.
Os venezuelanos serão instalados em doze imóveis alugados pela Cáritas (10 casas e dois apartamentos) nos bairros da Boa Vista, Torreão, Encruzilhada, Santo Amaro e Coelhos. Cada residência recebeu nome de personalidades históricas: Chico Mendes, Irmã Dorothy Stang, Hebert de Sousa, Zilda Arns, Marielle Franco, Dom Helder Camara, Bispo Oscar Romero, Margarida Alves, Frida Kahlo e Dom Luciano Mendes de Almeida.
Por Unicap, via Aleteia