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A esperança é um dos grandes temas do novo livro do Papa Francisco, A vida após a pandemia (Roma: Librerie Editrice Vaticana, 2020). Seu ensinamento é preciso: nesses tempos de pandemia e crise econômica, nossa esperança vem da fé em Cristo. Nela encontra-se a “esperança que não decepciona” (cf. Ro 5, 5).
O Deus Todo Poderoso, capaz de criar os grandes buracos negros do espaço e controlar o movimento das galáxias e dos planetas, cuida especificamente de cada um de nós, das coisas que nos inquietam, do nosso presente e do nosso futuro – por isso temos esperança.
Mas, se é assim, como dizer que essa confiança em Deus não decepciona, se vemos tantas pessoas que sofrem, multidões mortas em guerras e catástrofes naturais? Por conta de todas essas tragédias, para aqueles que não creem, a fé é uma ilusão, que só gera uma falsa esperança, que só se mantém pelo autoengano e pela mentira. De fato, pode até acontecer que nós católicos, em algumas situações, interpretemos a esperança que vem da fé como uma espécie de força mágica do pensamento positivo – e acabemos frustrados. Mas essa não é a verdadeira esperança cristã.
Por isso, nesses tempos difíceis em que vivemos, torna-se particularmente importante entender, numa perspectiva cristã, o que são essa fé e essa esperança que não decepciona.
Entender o que são a fé e a esperança
Bento XVI, em sua encíclica Spe salvi (SS 7), justamente sobre a esperança, nos ajuda a compreender como uma compreensão errônea da fé nos leva a não entender também a esperança cristã. Ele explica que, por muito tempo, uma passagem clássica da Carta aos Hebreus (Hb 11, 1) foi traduzida e entendida de forma equivocada. Costuma ser lida como “A fé é permanecer firmes naquilo que se espera, estar convencidos daquilo que não se vê”. Uma tradução melhor, contudo, seria “A fé é a posse antecipada das coisas que se esperam; um meio de se demonstrar as coisas que não se veem” (Bíblia de Jerusalém). A fé não se resume a “acreditar nas coisas que não se veem”, mas trata-se de reconhecer uma realidade que já está presente entre nós, ainda que de forma precária, embrionária, uma Presença que nos acompanha e que já age em nossa vida.
Aquilo que já aconteceu, a experiência do encontro com Cristo que já vivemos, nos leva a confiar no futuro. Por isso, a fé e a esperança nascem da memória e do testemunho das maravilhas que Deus fez por seu povo e por cada um de nós. Memória não é uma simples lembrança, mas a consciência de um fato que se faz presente, mesmo que tenha relação com o passado. Exemplo: um pai pode se lembrar sempre de seus filhos pequenos, como são bonitinhos e alegres; mas “faz memória” deles quando, diante de uma dificuldade no trabalho, resolve se esforçar e continuar batalhando pelo bem deles. Essa memória, que se torna consciência da companhia de um Outro, que dá força e que já se mostrou atuante em outros momentos de nossa vida, é a raiz da fé e da esperança cristãs.
Essa esperança, por sua vez, não é a ilusão de que nossos sonhos irão se realizar. Isso poderá acontecer ou não. A esperança cristã é a da realização do ideal último da nossa vida. Não quer dizer que vamos poder comprar “aquela casa”, ganhar dinheiro ou não termos doenças, mas sim que o ideal último de nossa vida – a felicidade a que almejamos – se realizará, quer tenhamos casa, dinheiro e saúde, quer não tenhamos nada disso – pois Deus nos acompanha mesmo nas tribulações. Não se trata da promessa de coisas e situações particulares, mas a promessa do “cêntuplo aqui e da eternidade” (cf. Mc 10, 30).
Uma promessa imensa
Cada um de nós, cada uma das milhares de pessoas que – ao redor do mundo – estão morrendo ou sofrendo pela morte de um ente querido com Covid-19, pelo desemprego ou a crise financeira, está no coração de Deus e poderá realizar plenamente sua humanidade, desde que se entregue sinceramente à Sua graça.
Esta é, sem dúvida, a promessa mais pretensiosa que já foi feita ao ser humano, pois diz respeito a toda a humanidade, em todos os tempos. É feita a cada um de nós, em todos os momentos de nossa vida, inclusive nesse de pandemia. Não quer dizer deixarmos de lutar e nos esforçar, mas fazê-lo na perspectiva da companhia de Cristo. Que nós e aqueles que amamos tenhamos a liberdade de nos entregar a esse grande amor de Deus e assim vivermos com esperança as dificuldades atuais.
Nota
Quem quiser aprofundar essa reflexão, pode ler o livro de Luigi GIUSSANI, É possível viver assim? Uma abordagem diferente da existência cristã (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998).
Via Aleteia