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19/04/2016Um livro que surgiu a partir de uma nova compreensão do autor, Vinícius Farias, seminarista de Brasília, diante das redes sociais, que ele passou a considerar como “novos areópagos” da evangelização.
“Conectados para o Encontro”, editora Paulus, portanto, pretende ser um subsídio para quem deseja ser um evangelizador das mídias sociais. Vinícius aponta, entre outros, que tipos de gafes podem ser evitadas e como um post no facebook deve brotar de uma espiritualidade exercitada e verdadeira.
Em entrevista a ZENIT Vinícius Farias da Silva, seminarista da Arquidiocese de Brasília, fala sobre o seu livro:
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Esta é uma nova edição do Conectados para Evangelizar com mais 10 capítulos e o prefácio do Adriano Gonçalves, certo?
Bom, há dois anos eu havia publicado independentemente uma versão deste livro. Na metade do ano passado, quando a editora Paulus demonstrou interesse por publicar, reformulei e atualizei praticamente todo o conteúdo, acrescentei um capítulo inédito e dois anexos que não existiam na primeira versão. Além disso, duas outras novidades foi o mencionado prefácio realizado pelo Adriano Gonçalves, apresentador do programa Revolução Jesus da Canção Nova e o belo projeto gráfico realizado pelo Gustavo Huguenin, que foi o vencedor do concurso para a escolha do logo da JMJ 2013 no Rio.
Qual é o conteúdo destes novos capítulos?
Minha ideia inicial seria a de fazer um pequeno manual didático com lições para ajudar as pessoas a conhecer as ferramentas (redes sociais) e ajudá-las a utilizar tais ferramentas de modo mais eficaz. Quando a editora assumiu o projeto, a ideia das lições foi trocada pela ideia de uma caminhada. É a imagem do cristão que caminha com os irmãos rumo ao encontro com Cristo. Nesse contexto as redes sociais seriam a “estrada” que nos conduz ao grande encontro. O capítulo 10, que trata do comportamento sadio em relação às redes sociais, surgiu a partir das palestras que dei sobre o tema. Enquanto os outros capítulos orientam quanto ao uso correto das redes sociais para a evangelização, o último capítulo é uma preocupação sincera com aqueles que usam as redes sociais como fim e não como meio. Ouvi casos de coroinhas no altar usando o whatsapp durante a homilia. Isso é sério. Eu diria que é uma deturpação da ferramenta que, como tudo na vida, pode ser usada para o bem e para o mal. Os anexos trazem um tutorial prático para a boa postagem e as minhas melhores postagens ao longo desse ano escolhidas por um jovem paranaense.
Por que você escolheu o Adriano Gonçalves para fazer o prefácio?
Bom, há algum tempo eu acompanho seu trabalho com a juventude, seja pelo livro “Santos de Calça jeans”, por seus artigos na Revista Canção Nova, pelo programa Revolução Jesus e principalmente pelo uso das redes sociais. Ele é um jovem que fala a linguagem dos jovens. Isso de modo natural, a partir do que ele mesmo vive. Ele escala montanhas, acampa, faz trilhas, enfim, tudo o que os jovens em geral gostam de fazer, sem deixar de pregar e assumir um namoro santo. Percebi tal autenticidade de vida atraia uma multidão de jovens para Cristo. Além disso, como eu, ele acredita que as redes sociais são lugares verdadeiros para encontros verdadeiros. O nome dele entrou logo no primeiro lugar da minha lista.
Por que você gosta tanto das redes sociais?
De modo muito simples: gosto das redes sociais porque elas são pontes para eu sair de mim mesmo. Como diria o papa Francisco, “sair do próprio mundinho”. Sempre fui muito independente, com alguma tendência a correr atrás dos meus sonhos apesar das pessoas. Sinceramente eu não confiava que as pessoas realmente pudessem me ajudar a resolver problemas. Era eu ou nada. Há mais de dez anos atrás, posso dizer que as antigas salas de bate-papo, depois no ICQ, Orkut, Messenger, dentre outros, me ensinaram a perceber que eu não estava sozinho. O mundo aqui fora prega que você tem de ser o melhor, funciona a lei do mais forte. Já nas redes sociais você depende do outro para tudo. É fato que quando nos tornamos dependentes demais das redes, corremos o risco de esquecer os outros “de fora”. Mas a dependência é apenas um desvio de uso de algo que desde sua raiz foi feito para o encontro interpessoal.
Para evangelizar eu preciso estar conectada? E estando conectada tenho que evangelizar?
Como eu digo no livro, no que diz respeito às redes sociais, a Igreja tem sido uma exímia incentivadora. Basta ler as palavras dos últimos papas nas mensagens para o Dia Mundial da Comunicação. O papa Bento XVI chama as redes sociais de “novos espaços de evangelização” e o papa Francisco de “lugares para o encontro com Cristo”. Respondendo à pergunta, não é indispensável estar conectado para evangelizar. Por outro lado, a Igreja está sinalizando nos últimos temos que é bom que estejamos nesses “novos areópagos” a fim de estarmos onde as pessoas precisam receber a Boa Nova. Ano passado noticiou-se que 50% dos brasileiros já têm acesso à internet em suas casas. Além do mais, temos mais linhas móveis no Brasil que gente. Isso sem falar no acesso à banda larga, que cresce vertiginosamente nos últimos anos. De modo geral, podemos dizer que o uso das redes sociais é efeito inevitável da globalização. Se nós, como Igreja, ignorarmos esses dados, outros ocuparão o nosso lugar. Eu não acredito que essa seja a melhor postura para um evangelizador atento aos “sinais dos tempos”. Bom, a grande inspiração para a minha postura de evangelizador nas redes sociais é o apóstolo Paulo. Quando penso em máximas como “ai de mim se não evangelizar” (I Cor 1, 9), “Pregai oportuna e inoportunamente” (II Tim, 4, 2), só para citar alguns exemplos, sinto que não devo estar nas redes só para falar de mim mesmo ou para vender a minha própria imagem. Por outro lado, ressalto que na medida em que o Evangelho se torna vida, não preciso necessariamente estar nas redes postando frases de santos ou da bíblia. É o testemunho que vai falar por mim.
Na sua opinião, todo sacerdote deveria estar inserido neste ambiente das redes sociais virtuais?
Não acho que as redes sociais sirvam para todos. Há padres e padres. Mas, veja, se o padre é disciplinado, se sabe usar com discernimento e entende as redes sociais como ferramentas e não como fins em si, eu diria que elas podem servir muito para o seu ministério. Só para citar um exemplo, grande parte do meu discernimento vocacional foi feito pelo Facebook. Assim, penso que no geral os padres estão sim convidados a usar as redes sociais. São verdadeiras oportunidades de chegar a ovelhas que nem mesmo ele sabia que tinha.
O que você pensa sobre esta era da hiperconectividade: bom, ruim ou os dois?
Digo no meu livro que a pessoa que está do seu lado… traduzo: fisicamente, tem sempre a prioridade. Não canso de repetir o exemplo de uma vez que saí com uma amiga para jantar, no meio da conversa parei para checar alguns e-mails e ouvi dela o seguinte comentário: “detesto encontros a três…”. Ora, mais do que nunca precisamos levantar a bandeira dos bons modos em relação às redes sociais. Conferir as mensagens do whatsapp, ver as notificações do facebook, postar a foto no Instagram, são coisas que fazemos em momentos de ócio, quando já não há ninguém que precise da nossa atenção e cuidado. Em se tratando da hiperconectividade, como disserto no livro, a pessoa “viciada” nas redes sociais, como comprovam estudos já realizados, apresenta sintomas parecidos com os das pessoas dependentes do álcool: ansiedade, irritação, angustia, sensação de vazio psicológico, etc. Em suma, se não ficamos atentos, corremos o risco de perder aqueles que amamos e no fim de tudo perdermos a nós mesmos.
Como seminarista, você é aquilo que posta? Como se portar nas redes?
Sou muito sincero. Posto aquilo que sou. Porém, isso não quer dizer que eu devesse postar aquilo que sou. Afinal, não somos 99% anjos como diz uma conhecida música sertaneja. A figura pública, ainda mais aquela que caminha para o sacerdócio, tem o dever de levar as pessoas para o caminho do bem. Nesse sentido, dizer tudo aquilo que vem na cabeça nas redes sociais não ajuda muito. Procuro tomar cuidado para fazer o seguinte discernimento quando vou postar algo: “É Cristo ou o Vinícius que estou anunciando aqui?”. Por essa razão, há algum tempo parei de postar posicionamentos políticos, econômicos, sobre turismo ou time de futebol. Não é que isso esteja vetado. Porém, percebi que as pessoas cresciam muito mais ao ler minhas reflexões sobre o Evangelho do Dia que sobre um outro tema qualquer. No meio católico, precisamos tomar muito cuidado com a cultura do criticismo. É aquilo que o saudoso papa João XXIII chamava de “profetas da desgraça”: pessoas que ficam policiando o comportamento dos padres, do irmão de pastoral e criticando publicamente como se estivesse prestando um serviço a Deus. Como o papa Francisco tem insistido, as pessoas precisam conhecer a alegria do Evangelho. Isso se faz, acredito, usando as redes sociais da forma correta, ou seja, para dar testemunho da experiência do Encontro com Cristo que se dá em nossa própria vida.
Por que você escolheu São Paulo, Campinas, Brasília e Porto Alegre para o lançamento da nova edição?
Bom, estudei dois anos em São Paulo num seminário interdiocesano. Conheci muitas pessoas (não só nas redes sociais) espalhadas por diversas regiões do país. Apostei que essas pessoas agradeceriam comigo a Deus por esse livro e, de fato, até o momento elas têm correspondido. Brasília é a minha diocese, onde nasci, cresci, me formei e conheci a fé. Não poderia estar de fora.
Qual é o preço do livro? Quantas páginas
O livro está à venda nas livrarias Paulus de todo o país pelo preço de 19 reais. É um para ler no ônibus, na ida para o trabalho: possui 96 páginas.
Por Zenit