Papa encoraja cultura de acolhimento a migrantes
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14/08/2017Com as palavras daquele hino à liberdade que é o Magnificat, “na América Latina a piedade mariana pode se transformar legitimamente em grito de libertação para superar as estruturas de divisão e de pecado existentes em vários níveis”. Porque “o abismo entre ricos e pobres, a situação de intimidação em que vivem os mais fracos, as injustiças, as omissões e as submissões humilhantes que eles sofrem, contradizem radicalmente os valores da dignidade pessoas e da solidariedade fraterna” que “o povo latino-americano traz no coração como imperativos recebidos do Evangelho”.
Assim pronunciou-se o Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato, ao concluir no sábado no Santuário de Aparecida o 11º Congresso Mariológico.
Diante do atual aumento da pobreza, “agora é a hora propícia para uma nova fantasia da caridade que, para além do socorro, tenha a capacidade da proximidade, da acolhida, da solidariedade com quem sofre, de forma que o gesto de ajuda seja percebido não como óbolo humilhante, mas como fraterna partilha”.
Pobreza, termômetro para julgar a renovação da Igreja pós-conciliar
Relançando “a relevância teológica e pastoral da pobreza para uma renovada evangelização da sociedade contemporânea”, o purpurado antes de tudo fez presente como “em todos os continentes a comunidade eclesial é chamada a considerar e a viver a pobreza como a estrutura portadora da mensagem evangélica hoje”.
“A relação Igreja-pobreza – observou a seguir – não se alicerça em razões socioeconômicas ou políticas, mas na fé em Cristo”. De fato hoje, sublinhou, “a pobreza aparece como o termômetro para julgar a renovação da Igreja pós-conciliar”.
Magnificat, hino à pobreza espiritual
“Jesus desde a sua infância é rodeado por pessoas humildes e pobres, a primeira entre todos Maria, sua Mãe”, recordou ele. Maria, por isto, “pertence ao grupo de fiéis com um coração de pobre: o Magnificat acolhe as aspirações dos pobres e é um hino à pobreza espiritual”. Nossa Senhora “é a pobre ideal do Reino de Deus”, tanto que justamente “no Magnificat ela expressa a realização do programa da redenção”.
E assim – explicou – “o Deus exaltado no Magnificat é o Deus que rompe as fronteira da raça para estender os benefícios da salvação a toda a humanidade”.
Concretamente, “é o Deus que privilegia os oprimidos e os humilhados e inverte as situações injustas criadas pelos poderosos”. E “também os lugares e as circunstâncias de alguns acontecimentos fundamentais da redenção – como Nazaré, Belém, o refúgio em uma gruta-estrebaria, o nascimento de Jesus em uma manjedoura – fazem explícita referência à pobreza: trata-se de locais privados de glória”.
Maria, além disso, “é uma jovem de província comprometida com o artesão José e vive na periferia, em Nazaré, um povoado distante de Jerusalém, das suas riquezas e das suas instâncias de poder”.
Eis que “Deus se manifesta na promoção dos pobres e no rebaixamento dos não-pobres, e no Magnificat aos orgulhosos é reservada a humilhação e aos pobres e aos humildes a glorificação”.
Pobreza, disponibilidade em acolher a manifestação de Deus
“A valorização dos pobres, com os quais Cristo identificou-se para participar a sua graça – afirmou o Cardeal – não é a exaltação da pobreza e da miséria, mas o reconhecimento do valor espiritual de não ter, de não poder e de não saber no quadro de uma religiosidade iluminada por Deus”.
A pobreza, “diferentemente do ideal da riqueza proposto pelos sábios deste mundo, é a disponibilidade em acolher a manifestação de Deus”.
Justamente “a atitude de Maria e dos outros protagonistas das narrativas do Evangelho, é o espelho que reflete e engrandece a fé da Igreja, chamada ao seguimento de Cristo também nisto”.
Igreja, fonte inexaurível de obras de misericórdia
Desde sempre a Igreja “mostra o ágape de Deus na caridade pelos necessitados”, tanto que – observou o purpurado – “a história documenta, mediante personagens e grupos, que a Igreja é fonte inexaurível de obras de misericórdia corporal e espiritual”.
Além da esmola, “promoveu uma cultura da partilha” da qual “a humanidade tem sempre mais necessidade”.
Igreja na América Latina “sob o sinal da Mãe de Deus”
Falando em um contexto latino-americano, o Cardeal Amato recordou como a Igreja no continente está “sob o sinal da Mãe de Deus, a “Morenita”, como a Virgem é afetuosamente chamada pelos mexicanos”. É considerada, por todos efeitos, como “Mãe da América Latina e Mãe da Igreja na América Latina, autêntica estrela da evangelização”.
“Poucos anos após a descoberta da América – observou o purpurado – e apenas dez anos após a conquista do Império asteca, de fato, em 1531 acontece a aparição da Virgem de Guadalupe ao índio Juan Diego, na colina de Tepeyac, ao norte da Cidade do México”.
Maria marca início de novo cristianismo
Ela “marca o início vitorioso de um cristianismo ‘novo’”. A sua novidade “é essencialmente teológica: não devia-se tratar, de fato, da simples continuação do cristianismo europeu, mas de um cristianismo profundamente inserido também na cultura e na vida do povo indígena”.
Nossa Senhora indica assim “o princípio formal de cada nova evangelização cristã, que diz encarnação total da fé no espaço e no tempo, na linguagem, nos símbolos culturais e na “carne” dos novos povos”.
América Latina, continente radicalmente cristão e mariano
O purpurado então, relança “a dimensão popular do cristianismo latino-americano, em que Maria é vista como parte integrante não somente da fé do povo, mas da sua história, da sua cultura e da sua própria alma: a América Latina é um continente radicalmente cristão e mariano”.
E “a religiosidade popular mariana aparece como uma autêntica “sabedoria cristã” e um verdadeiro “instinto evangélico”: é vínculo de união das multidões, realizando a universalidade concreta do anúncio cristão”.
Precisamente a partir desta consideração “deriva que a religiosidade do povo latino-americano muitas vezes se transforme em um grito por uma verdadeira libertação”, explicou o Cardeal.
Magnificat, carta magna da liberdade dos filhos de Deus
É um fato, ademais, que “o Cântico do Magnificat se revele como a carta magna da liberdade dos filhos de Deus: nele é expressa a alegria pela libertação operada pelo Senhor que salva os oprimidos e humilha os opressores e os poderosos, e que está sempre do lado dos humildes e dos pobres”.
E justamente “mediante o Magnificat, Maria se torna nossa contemporânea: a autêntica espiritualidade deste hino, de fato, não é intimista ou passiva, contém pelo contrário uma carga altamente dinâmica e libertadora”.
Maria, portanto – conclui o Cardeal Amato – “é uma mulher forte e corajosa, que invoca a justiça de Deus sobre os opressores dos pobres; é uma mulher comprometida, que saber tomar as suas decisões”.
Como Deus, “também Maria se coloca do lado daqueles cuja dignidade deve ser recuperada por quem a justiça deve ser feita: somente assim se antecipa e se historiciza o Reino de Deus neste mundo. “
Por Rádio Vaticano