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14/01/2016No próximo domingo, 17 de janeiro, o Papa Francisco realizará uma visita à Sinagoga de Roma. Será o terceiro Pontífice a visitar o Templo Maior após João Paulo II e Bento XVI. O Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Cardeal Kurt Koch, concedeu uma entrevista ao L’Osservatore Romano, onde fala da visita do Santo Padre ao e do Jubileu.
OR: Precisamente no início do Jubileu da Misericórdia o Papa Francisco visita a mais antiga comunidade da diáspora ocidental. Qual o significado deste gesto?
“Me parece uma belíssima continuidade na tradição. João Paulo II foi o primeiro Papa na história a visitar a Sinagoga de Roma, em 13 de abril de 1986. Depois dele, o fez Bento XVI em 17 de janeiro de 2010, no dia que precede o início da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Para este dia, na Itália, a Conferência Episcopal convocou a celebração do Dia do Judaísmo. Estou muito contente de que várias Conferências Episcopais tenham escolhido instituir este dia. A data não foi escolhida ao acaso, pois a sua colocação na véspera do início da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos quer significar que o judaísmo está muito próximo do cristianismo. Gostaria também de recordar as boas relações do Papa Francisco com o mundo judaico, que remontam aos seus anos de episcopado na Argentina. Recordo, particularmente que o Papa tem também uma grande amizade com o Rabino Abraham Skorka, que o acompanhou na sua viagem à Terra Santa. A visita do Papa Francisco à Sinagoga de Roma tem em si uma mensagem que o Pontífice considera muito importante e que não se cansa nunca de dizer claramente: é absolutamente impossível ser cristãos e, ao mesmo tempo, ser antissemita. Nestes tempos, em que assistimos a novas ondas de antissemitismo na Europa, me parece ser uma mensagem ainda mais importante. É certamente um sinal muito bonito que o Papa queira aprofundar a relação com a comunidade judaica de Roma, que viveu a sua fé por muito tempo antes da chegada do cristianismo”.
OR: Foi publicado há cerca de um mês o documento da Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo “Porque o dom e o chamado de Deus são irrevogáveis”. Como nasceu esta iniciativa?
“Cinquenta anos após a promulgação da Nostra Aetate era importante realizar uma reflexão posterior sobre a relação entre cristianismo e judaísmo. Em primeiro lugar, era fundamental expressar gratidão por tudo aquilo que foi possível realizar neste meio século. Em segundo lugar, era oportuno preparar uma nova fase de diálogo entre judeus e católicos sobre algumas temáticas teológicas a serem aprofundadas no futuro”.
OR: Qual é a natureza do documento?
“É claro que não se trata de um texto de diálogo. Para sê-lo, deveria ter sido preparado juntamente com os judeus. Certamente, antes da publicação do texto o entregamos a especialistas judeus, mas permanece como um documento católico. É dirigido aos fieis, para que conheçam a existência do diálogo com o judaísmo e as raízes judaicas do cristianismo, podendo assim participar deste diálogo. Por isto, não é um texto doutrinal ou magisterial, mas teológico que serve para aprofundar alguns temas”.
OR: Que resposta vocês obtiveram por parte do mundo judaico?
“Sou muito agradecido que também alguns rabinos consideram que chegou o tempo de discutir estas temáticas. Após a publicação do documento chegaram convites para um renovado diálogo. O mundo judaico, de fato, acolheu bem o texto. Ao mesmo tempo, quase que contemporaneamente, alguns rabinos de todo o mundo publicaram uma declaração sobre o diálogo com os cristãos. Nós recebemos este texto com grande alegria e gratidão”.
OR: Qual foi o fio condutor do diálogo com os judeus em 2015?
“No ano passado, com a Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo, recordamos em particular o 50º aniversário da promulgação da Declaração Conciliar Nostra Aetate e celebramos esta recorrência em várias partes do mundo: no Brasil, Estados Unidos, Suiça, Alemanha, e por fim, em dezembro passado, em Israel”.
OR: Que balanço se poderia fazer das atividades do dicastério no ano que passou?
“Em 2015 prosseguimos, sobretudo, os diálogos em andamento e visitamos diferentes Igrejas e comunidades eclesiais. E o Papa Francisco recebeu muitos representantes de outras Igrejas em audiência. Tivemos também a alegria do dom da Encíclica Laudato Si, que foi apresentada em Roma pelo Metropolita Ortodoxo John Zizoulas. Foi sem dúvida um evento ecumênico. Não esqueçamos, também, que no ano passado o Papa estabeleceu a celebração, também na Igreja Católica, do Dia de Salvaguarda da Criação, em 1º de setembro, em coincidência com aquela promovida pelo Patriarca de Constantinopla”.
OR: Qual é a valência ecumênica do Jubileu da Misericórdia?
“O fulcro central do Ano Santo a nível ecumênico é a celebração das Segundas Vésperas no dia 25 de janeiro, na Basílica São Paulo fora-dos-muros, na conclusão da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. De fato, a temática da misericórdia de Deus é essencialmente ecumênica, porque o ecumenismo não é somente um diálogo sobre questões difíceis e controversas, mas deve concentra-se também sobre temáticas centrais e comuns da nossa fé. E a misericórdia de Deus é o coração da nossa fé. Soube de dioceses que inseriram algumas celebrações ecumênicas do Ano Santo no programa. Estas iniciativas me parece muito importantes, porque é necessário aprofundar o tema da misericórdia também no âmbito ecumênico”.
OR: Que eventos importantes aguardam o discastério em 2016?
“De 30 de janeiro a 6 de fevereiro, no Cairo, realizar-se-á a Plenária da Comissão Mista Internacional com todas as Igrejas Orientais Ortodoxas sobre o tema dos Sacramentos da iniciação cristã, sobretudo o Batismo. Não é uma temática fácil, porque algumas Igrejas Orientais Ortodoxas têm ainda a prática do rebatismo. Este é um problema, porque o Batismo e o seu recíproco reconhecimento são o fundamento do ecumenismo e se uma Igreja segue ainda esta prática é um ponto difícil sobre o qual devemos discutir.
Espero que no próximo outono possamos ter uma Plenária da Comissão Mista Internacional com todas as Igrejas Ortodoxas para continuar o diálogo sobre as relações entre sinodalidade e primado. Não é absolutamente fácil a discussão sobre este tema. Haverá, além disto, um momento para recordar o 50º aniversário da primeira visita do Arcebispo de Cantuária a Roma após a Reforma, ou seja, o encontro do Arcebispo Michael Ramsey com Paulo VI, ocorrido em 23 de março de 1966, e para recordar também a instituição de uma representação pessoal junto com o Centro Anglicano em Roma. Por fim, para este ano, devemos e queremos programar uma Plenária do nosso Pontifício Conselho”.
Por Rádio Vaticano