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O propósito dessa pequena série de textos é ajudá-lo a identificar se você tem vivido uma vida mundana e, em caso positivo, mostrar que a única forma autêntica de viver a fé em Cristo é buscar levar uma vida de santidade. Essas duas maneiras de viver a fé são radicalmente diferentes. O mundano é uma pessoa que ama a Deus, mas é cheia de amores nesse mundo e por isso vive dividida. Sua resposta ao sacrifício salvífico de Jesus na cruz é limitada, cheia de reservas, porque sua segurança ainda está nas coisas do mundo. Aquele que quer ser santo sabe que precisa amar incondicionalmente a Deus e por isso precisa desapegar-se de todas as coisas que o prendem ao mundo. O caminho para amar a Deus é a oração, a porta pela qual se entra no castelo interior, como disse Santa Teresa d’Ávila. Um dos meios especiais que Deus usa para nos ajudar a vencer nossas paixões desordenadas e amá-Lo acima de todas as coisas são os sacrifícios, as dores, as tribulações ofertadas com amor, como oportunidade de conversão. Ser santo, enfim, não é complicado: “Toda santidade consiste em amar Jesus Cristo, nosso Deus, nosso sumo bem e nosso Salvador” (Santo Afonso Maria de Ligório). Amar Cristo, por sua vez, significa imitá-Lo em tudo, especialmente no seu grande e definitivo ato de amor: “Quem não tomar sua cruz para seguir-me, não é digno de mim. Quem se agarrar à vida irá perdê-la, quem a perder por mim a conservará” (Mt 16,24-25).
Diante de tudo isso, você pode estar se perguntando: e eu com isso? Esse negócio de santidade é para padre e freira, ou para quem é da Canção Nova ou de alguma dessas comunidades. Minha vida é muito corrida, meu emprego é muito exigente, tenho filhos, faculdade, um marido que não é de Deus. A santidade, a Igreja nos ensina, é para todos. Ao dizer isso, a Igreja quer dizer que a santidade está ao alcance de todos, independentemente da situação em que viva. Como isso é possível? Porque ninguém alcança a santidade por seus méritos, mas pela graça de Deus. A parte que nos cabe é pedir a Deus a graça de amá-lo mais e mais.
Persista e pratique uma vida de santidade
Há dois pontos centrais que impedem um bom católico, o chamado “praticante”, de perseguir com afinco a vida de santidade. Quero encerrar essa série propondo a você, leitor, uma reflexão bem concreta sobre eles. O primeiro é a incapacidade de se enxergar como mundano, como um miserável diante de Deus. “Eu não tenho apegos, meu único apego é o Senhor”. “Não sou mundano. Minha vida é rezar. Amo a Deus mais do que tudo nesse mundo”. Se alguma dessas frases reflete o que você pensa sobre si mesmo, então ou você já é um verdadeiro santo, ou está cego pela soberba. Medite sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, percorra todo o seu sofrimento redentor, desde a agonia no Horto das Oliveiras, passando pelos açoites, os insultos, os escarros, a coroação de espinhos, o caminho até o Calvário, as quedas, a crucifixão e a morte dolorosa. Pergunte-se, diante dos sofrimentos de Jesus, como você tem vivido a sua vida, se ela tem sido uma oferta à altura do ato de amor que é a cruz. Pergunte-se se você tem amado as pessoas como Jesus ama você, a ponto de aceitar injustiças, ofensas, desrespeito, traições. Se você for sincero com você mesmo e com Deus, a resposta inevitável a essas duas perguntas é que você ainda não ama a Cristo como deve. Isso vale para mim, para você, para qualquer um. Os santos todos viviam a angústia de saber que por mais que se esforçassem, ainda não amavam o Senhor como ele merecia ser amado. Se isso não pesa no seu interior, se essa realidade não o aflige, reze insistentemente pedindo a Deus a graça de amá-lo e de reconhecer quão longe você está de corresponder ao amor de Cristo!
Eu tenho plena clareza de que meu coração ainda está muito longe de exclamar, como Santo Afonso de Ligório:
Ó Jesus, meu Amado,
Nada desejo fora de Vós.
A Vós, meu Deus, entrego-me todo,
Disponde de mim como Vos aprouver!
O segundo ponto central tem a ver com a famosa frase “mas você não sabe como é a minha vida”. Quantos de nós nos esquivamos de uma vida de compromisso com Deus com base nessa frase! “Minha vida é corrida demais”, ou “Você não sabe o marido/a esposa que tenho”, ou ainda “Sou muito doente”, “Não tenho tempo para isso ou aquilo” etc. Entendamos que cada santo foi santo vivendo a sua própria vida, nunca vivendo a vida de outra pessoa. Santa Teresa d’Ávila foi santa no Carmelo, enfrentando uma vida cheia de enfermidades; Santa Dulce dos Pobres foi santa em meio aos pobres, na Bahia; São João Paulo II foi santo sendo Papa, enquanto São João Maria Vianney foi santo sendo um simples pároco num vilarejo escondido da França. Quer ser santo? Abrace a sua cruz, ou seja, a sua vida como ela é, e siga Jesus. Entenda que não se trata de você querer ser o salvador dos outros, porque pensar assim levará você à soberba de se considerar superior espiritualmente às pessoas próximas de você. Não! O santo se enxerga como um miserável, como alguém que é pior que qualquer outra pessoa na face da terra. É o seu marido que bebe e não vai à Igreja? Peça a Deus a graça de amar essa realidade como uma oportunidade de VOCÊ se converter e amar mais a Deus e ao seu próprio marido. Você trabalha num ambiente desagradável, ganha pouco e está cercado por pessoas mentirosas e mundanas? Louve a Deus, porque essa é a oportunidade que Ele está lhe dando para VOCÊ se converter e amar mais. Você é explorado no seu trabalho, ignorado por seus filhos, foi abandonado pela esposa ou pelo marido? Lembre-se das pessoas que traíram Jesus, que o ignoraram e maltrataram e faça a oração que Ele mesmo fez: “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem”.
Seja santo sendo você mesmo
Não queira fugir da sua própria realidade. Seja santo onde você está, do jeito que você está, com suas limitações, dores, angústias e tribulações. Lembre-se de que não estamos sós: é Deus quem combate em nosso favor. Encerro pedindo a Deus, com Santo Afonso de Ligório, a graça de amá-lo acima de todas as coisas:
“Ó amor infinito, digno de um infinito amor, quando vos amarei, ó meu Jesus, como vós me amastes? Eu quero sempre começar a amar-vos, prometo-vos sempre, mas nunca o começo. Quero começar hoje e amar-vos deveras. Ajudai-me, inflamai-me, desprendei-me da terra e não permitais que eu continue a resistir a tantas finezas de vosso amor”.
Por José Leonardo Nascimento, via Canção Nova