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O vazio das ruas na hora de um jogo da seleção sugere reflexões, segundo o bispo de Jales (SP), dom Reginaldo Andrietta. Em seu artigo “Jogar Solidariamente”, ele afirma que a ansiedade por vitórias, mesmo simbólicas, dá o que pensar: “Por que o ser humano se excita tanto com competições? Por que uma nação inteira se torna histérica com a vitória de sua seleção, sabendo que isso não agrega nada à qualidade da vida social. Ao contrário, alimenta seu sentimento de superioridade?”.
E continua questionando: “a que serve a vanglória? A cultura competitiva é, realmente, benéfica? O ser humano se torna feliz aplacando outros ou colaborando-se? Por que os jogos cooperativos são tão pouco tomados em conta, até mesmo nas escolas, onde, supostamente se ensinam valores? Por que os meios de comunicação não lhes dão importância e difundem tanto o esporte competitivo?”.
A resposta, segundo ele é óbvia. “A sociedade capitalista se move pela competição. Nela, o poder é objeto de luta. Muitos ambicionam o poder do Estado e se perpetuarem nele, mesmo sem legitimidade e credibilidade popular. As empresas traçam estratégias para influenciarem igualmente o Estado, abocanharem recursos destinados ao bem público e tornarem-se hegemônicas no mercado. As nações também defendem seus interesses em detrimento das demais”, diz.
Dessa forma, dom Reginaldo garante que não se constrói um projeto comum de sociedade. “Rejeita-se a contribuição dos cidadãos, de suas associações e instituições sociais. Os grupos economicamente influentes se impõem. O Estado se submete à forma desses grupos jogarem. Cada um defende a si próprio, contra os demais. Associam-se, no entanto, na defesa de seus interesses corporativos. Até o mundo religioso é influenciado por essa lógica competitiva”, afirma.
O ensinamento de Cristo a esse respeito, de acordo com dom Reginaldo é “iluminador”: “Ele exortou seus discípulos a não reproduzirem relações de dominação existentes na sociedade: ‘Sabeis que os governadores das nações as dominam e os grandes as tiranizam. Entre vós não deverá ser assim. Ao contrário, aquele que quiser tornar-se grande entre vós, seja aquele que serve, e o que quiser ser o primeiro, seja o servo de todos’” (Mt 20,24-27).
O que dom Reginaldo diz, então, do esporte? No artigo, o bispo afirma que ele é saudável, se praticado de forma cooperativa e lúdica. Sendo, no entanto, “extremamente competitivo e mercantil”, e por isso, segundo ele “dá fluidez ideológica à engrenagem do sistema capitalista e nutre a cultura da supremacia de uns sobre os outros, favorável aos mais fortes”. “O que ganhamos, então, com vitórias em competições?”, questiona.
O bispo de Jales afirma que existe outro tipo de alegria que valha muito mais a pena: a de entrar nos campos reais da vida; jogar no time da classe trabalhadora; driblar o desemprego, o salário baixo e as condições precárias de vida; dar um olé nos que governam para as elites; marcar gols a favor dos socialmente excluídos; e vencer o sentimento de povo derrotado.
“Que tal, então, em lugar de torcermos histericamente por uma taça simbólica, que alimenta arrogância, acordarmos, enxergarmos e entendermos os desafios de nosso momento político? Ele é oportuno para retirarmos de campo os que fazem gol contra, mudarmos as regras do jogo, e podermos, enfim, jogar solidariamente, com garra, arte e alegria, em favor do bem comum”, finaliza o bispo.
Por CNBB