“A Pastoral Carcerária quer ouvir o clamor que ecoa por detrás das grades”
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13/01/2016O volume “O nome de Deus é Misericórdia” foi apresentado na manhã de ontem no Instituto Patrístico Augustinianum de Roma.
Além do autor da conversação com o Papa, o vaticanista Andrea Tornielli, participaram do evento o Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, e o ator e diretor cinematográfico italiano Roberto Benigni (na foto, com o Cardeal Parolin). O comovente testemunho do encarcerado Zhang Agostino Jianquing, e ainda, a participação do diretor da Livraria Editora Vaticana, Pe. Giuseppe Costa. A apresentação foi moderada pelo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi.
Um livro para aprofundar o mistério da Misericórdia de Deus e entender o que esta representa na vida e no Pontificado do Papa Francisco. É o significado mais profundo do livro “O nome de Deus é Misericórdia” nascido da entrevista, ou melhor, como precisou Pe. Lombardi, da conversação do Pontífice com o vaticanista Tornielli. Publicado no Ano Santo, o volume – editado em 86 países – representa, segundo o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, um valioso subsídio para o Jubileu da Misericórdia:
“Este livro-conversação é preciosíssimo justamente no contexto deste Ano jubilar. Com esse livro-conversação temos a sua experiência da misericórdia, em sua vida sacerdotal, em seu ministério, em sua espiritualidade.”
“Quem está em busca de revelações – disse o Cardeal Parolin em sua fala – talvez fique desiludido”. Efetivamente, o volume quer “tomar o leitor pela mão para entrar no mistério da Misericórdia, que é a carteira de identidade do cristão”, ressaltou o purpurado.
“O volume, que é de fácil leitura, tem uma característica que é peculiar de seu autor principal, ou seja, o Papa. De fato, é um livro que abre portas, que quer mantê-las abertas e pretende indicar possibilidades; que deseja fazer resplendecer, ou ao menos mostrar, o dom gratuito da infinita misericórdia de Deus, “sem o qual o mundo não existiria” – como disse uma vez uma anciã ao então Dom Bergoglio, pouco após tornar-se bispo auxiliar de Buenos Aires.”
O livro, acrescentou o cardeal, não dá respostas definitivas, nem entra na casuística, mas “alarga o olhar ao encontro com o amor infinito de Deus” que supera as lógicas humanas.
E recordou que Francisco não somente nos recorda que vivemos num mundo que perdeu o sentido do pecado, mas que cada vez mais precisa de misericórdia.
Em seguida, o Cardeal Parolin evidenciou a importância da misericórdia não somente na conversão pessoal, mas também nas relações entre os Estados e os povos. O Papa Francisco tem convicção disso, disse o purpurado, como o tinha São João Paulo II, em particular, após os atentados de 11 de setembro:
“A mensagem do Papa, a mensagem cristã da misericórdia e do perdão, as muitas portas santas que são escancaradas, o chamado a deixar-se abraçar pelo amor de Deus é algo que não diz respeito somente à conversão de cada um de nós, à salvação da alma de cada pessoa; é algo que nos diz respeito também como povo, como sociedade, como país e pode ajudar-nos a construir relações novas e mais fraternas porque quem experimentou em si a abundância da graça no abraço de misericórdia, quem foi e continua sendo perdoado, pode restituir ao menos um pouco daquilo que gratuitamente recebeu.”
É um livro comovente porque mostra que o abraço de Jesus nos levanta se nos abandonamos ao amor de Deus, disse ainda o Cardeal Secretário de Estado.
A participação sucessiva suscitou comoção: o testemunho de Zhang Agostino Jianquing, jovem encarcerado de origem chinesa, detido em Pádua – nordeste da Itália –, que contou como após anos de violência encontrou a fé propriamente no cárcere, através de um voluntário que o levou ao encontro com o Senhor:
“Após o Batismo entendi toda a misericórdia da qual fui objeto, mesmo quando não me dava conta disso. E este livro do Papa Francisco ajudou-me a compreender melhor aquilo que aconteceu comigo. Eis o motivo do nome ‘Zhang Agostino: Agostino porque pensando em Santo Agostinho, em sua história, comoveu-me particularmente sua mãe, Santa Mônica, por todas as lágrimas que derramou por seu filho, esperando reencontrar o filho perdido. É de certo modo como a minha situação: pensando em minha mãe e no rio de lágrimas que derramou por mim, esperando que eu pudesse reencontrar o sentido da minha vida.”
Em seguida, com palavras comoventes, Zhang Agostinho agradeceu ao Papa, a quem pôde encontrar propriamente com a publicação do livro, por sua constante atenção e cuidado para com os encarcerados:
“Caro Papa Francisco, obrigado pelo afeto e a ternura que jamais deixa de nos testemunhar. Obrigado por seu incansável testemunho. Obrigado pelas páginas deste livro das quais emerge o coração de um pastor misericordioso. E nós o recordamos sempre em nossas orações.”
Da comoção suscitada pelo detento passou-se à alegria contagiante: a última participação, muito aguardada, foi a do ator e diretor cinematográfico Roberto Benigni, que arrancou o efusivo aplauso dos presentes. O ator iniciou ressaltando os sentimentos que teve com a leitura do livro:
“É um livro – digamos – que nos acaricia, que nos abraça, que nos ‘misericordia’, que é um termo inventado pelo Papa. Misericórdia – atenção! – não é uma virtude assim, que está sentada na poltrona… é uma virtude ativa, que se move: olhem para o Papa, jamais está parado! Move não somente o coração, mas também os braços, as pernas, os calcanhares, os joelhos, move o corpo e a alma, jamais está parado! Vai ao encontro dos míseros, da pobreza, não fica parado um segundo…”
Benigni prosseguiu sua reflexão sobre a Misericórdia evidenciando que esta, junto ao perdão, é a mensagem mais forte que está emergindo do Pontificado de Francisco.
“E a misericórdia para Francisco – atenção! – não é uma visão adocicada, condescendente ou, pior ainda, ‘bondosista’ da vida: não! É uma virtude severa, é um verdadeiro desafio, mas não somente religioso-teológico: é um desafio social, político! Aquilo que Francisco está fazendo é impressionante. E o que Francisco faz para vencer esse desafio, digamos, incrível? O que é que lhe dá forças? É propriamente a medicina da misericórdia. Vejam só, ele vai buscá-la entre os derrotados, entre os últimos dos últimos. Aonde foi publicamente quando começou seu Pontificado? Foi a Lampedusa, propriamente aonde chegam os últimos dos últimos. E onde abriu a Porta Santa do Jubileu? Na República Centro-Africana, em Bangui, no lugar mais pobre dos pobres dos pobres do mundo: justamente no lugar mais pobre Francisco vai ao encontro da proximidade, da dor do mundo, do sofrimento, porque ali, no meio da dor nasce a misericórdia.”
Num mundo que pede a condenação, ressaltou Benigni, Francisco quer, ao invés, a misericórdia. E não vê contraposição com a justiça:
“E então, diz, porém, se se perdoa tudo, para que serve a justiça? Mas a misericórdia – nos diz o Papa Francisco – é a justiça maior. A justiça é o mínimo da misericórdia. A misericórdia não elimina a justiça: não a suprime, não a corrompe. Vai além. Um mundo somente com a justiça seria um mundo frio, não? E se sente que o homem não precisa somente de justiça: precisa também de algo diferente. No livro se sente que Francisco nos faz perceber exatamente isso, porque a misericórdia é propriamente a fonte de seu Pontificado…”
Por fim, o autor do livro com o Papa, o vaticanista do diário “La Stampa” Andrea Tornielli agradeceu aos que – a começar pelo editor – acreditaram neste projeto editorial e quis unir a figura de Bergoglio à de São João XXIII, que sabia olhar com misericórdia para os pecadores, abraçando todos, inclusive os encarcerados, como faz hoje o Papa Francisco.
Por Rádio Vaticano