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16/03/2016Invernos mais quentes, dias frios em pleno verão, períodos de seca e outros de fortes chuvas. “Eita tempo maluco” é uma expressão comum de ser ouvida nos últimos tempos. Mas nada de segredos: o que tem acontecido é decorrência das mudanças climáticas, fenômeno sobre o qual a população é convidada a refletir nessa quarta-feira, 16, Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas.
O que causa essa mudança no clima? Existe sim uma variabilidade natural. Professor Tércio Ambrizzi, do departamento de Ciências Atmosféricas da USP, explica que houve momentos na história, coisa de mil anos atrás, em que a Terra passou por períodos mais quentes ou mais frios, devido a um processo natural.
Mas o cenário mudou bastante nos últimos séculos: mais pessoas, veículos e indústrias contribuíram para o aumento da emissão dos gases de efeito estufa, sendo o mais conhecido deles o dióxido de carbono, CO2, proveniente, principalmente, da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento. “Quando você aumenta e sai desse equilíbrio natural, você começa a ter impactos. Um desses impactos é o aumento da temperatura”, explica.
Além da sensação de mais calor, um fator que a população já tem sentido é a alteração do comportamento da chuva. Basta recordar a estiagem em São Paulo em 2015, que levou a estado crítico os principais sistemas de abastecimento do estado. Na contramão, as fortes chuvas que têm atingido os paulistas desde o início desse ano. “Esses elementos já estão, de certa forma, associados ao aquecimento global e à mudança do clima e isso tende a se intensificar ao longo do século XXI”, afirma o pesquisador do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), Dr. Gilvan Sampaio.
Até o fim do século, o especialista afirma que, para o Brasil, a projeção é de redução do volume de chuva no Nordeste, em partes da Amazônia, principalmente no norte da Amazônia, e aumento do volume de chuva no sul do Brasil, além de uma frequência maior de variações extremas do clima.
A COP 21
Diante dessas alterações climáticas, a ONU promoveu, no fim do ano passado, uma conferência sobre o clima, a COP 21. No evento que reuniu delegados de 190 países do mundo, foi aprovado um acordo global para frear as emissões de gases do efeito estufa e lidar com os impactos da mudança climática. O objetivo geral é limitar a 1,52 °C o aumento da temperatura no planeta em comparação à média antes da Revolução Industrial.
Um dos diferenciais da COP 21, segundo professor Tércio, foi pedir aos países que já informassem em quanto estavam dispostos a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. Cada país enviou um número, mas o professor ressalta que a soma não foi suficiente para evitar o aumento da temperatura da terra acima de 2 graus daqui a 90 anos.
O lado positivo da reunião, segundo Tércio, foi que houve um acordo para os países cortarem suas emissões de gases de efeito estufa, embora sem a existência de um mecanismo para monitorar os países e estabelecer consequências caso algum deles não cumpra o combinado.
“Isso ainda não está definido. Mas pelo menos houve um direcionamento inclusive dos países mais poluidores da atualidade, que são Estados Unidos, China e a Índia, na rabeira (…) Eu acho que daqui pra frente, nas próximas reuniões, provavelmente será detalhado um pouco mais como vai ser feito esse monitoramento”.
Protocolo de Quioto: houve redução?
O grande acordo sobre o clima em vigor desde 2005 é o Protocolo de Quioto, que propôs a redução dos principais gases de efeito estufa. Redução, porém, que não foi constatada, afirma Gilvan.
O pesquisador explica que esse Protocolo prevê apenas a redução de emissões oriundas de processos industriais. Emissões associadas às chamadas mudanças de uso da terra, que são, por exemplo, as queimadas e o desflorestamento, não são contempladas.
“De fato, o que a gente observa é que as emissões continuam muito altas. Claro que o Protocolo de Quioto contribuiu para a redução dessa taxa de crescimento, mas as emissões continuam crescendo ao longo do último século e também no século XXI. Então, medidas têm que ser tomadas para que haja realmente uma redução efetiva dessas emissões e isso ainda não foi feito”.
A conscientização
Em sua “encíclica verde”, a Laudato si, sobre o cuidado da casa comum, o Papa Francisco também mostra preocupação com relação às mudanças climáticas, um problema global com graves implicações. Ele recorda que o clima é um “bem comum, um bem de todos e para todos” e atenta, em especial, para o impacto econômico dessas mudanças.
“Provavelmente os impactos mais sérios recairão, nas próximas décadas, sobre os países em vias de desenvolvimento. Muitos pobres vivem em lugares particularmente afetados por fenômenos relacionados com o aquecimento, e os seus meios de subsistência dependem fortemente das reservas naturais e dos chamados serviços do ecossistema como a agricultura, a pesca e os recursos florestais”, escreve Francisco no documento.
Para frear essas mudanças e, consequentemente, seus impactos, o professor da USP acredita na conscientização vinculada à educação. É preciso conscientizar a população, particularmente os governantes, para serem pró-ativos em vista de uma sociedade mais sustentável, defende ele. Por outro lado, acrescenta, deve-se incentivar a educação para que as crianças do amanhã entendam essa questão das mudanças climáticas.
“Que elas saibam que conviver num mundo sustentável é possível e, principalmente, é interativo, porque,na verdade, nós estaremos preservando o clima do amanhã. Ações que levem uma vida mais sustentável são fundamentais se a gente quiser salvar o nosso planeta de algo mais drástico que pode ocorrer no futuro”, conclui Tércio Ambrizzi.
Por Canção Nova