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04/07/2016O Papa Francisco concedeu uma entrevista ao jornal argentino La Nación, que foi publicada na edição deste domingo, 3.
O Pontífice recebeu pela segunda vez em seu escritório na Casa Santa Marta o jornalista Joaquín Morales Solá, que conhece Bergoglio há 20 anos.
Na entrevista foram tratados temas que dizem quase exclusivamente à vida política, social e eclesial Argentina. O encontro ocorreu em 28 de junho, dia em que se celebraram os 65 anos de sacerdócio do Papa emérito Bento XVI.
Bento XVI: revolucionário
“Um revolucionário”, o definiu Francisco. “A sua generosidade foi incomparável. A sua renúncia, que tornou evidentes todos os problemas da Igreja, não teve motivações pessoais. Foi um ato de governo. O seu último ato de governo”. Sobre as condições de saúde do Papa emérito, o Pontífice destacou: “Tem problemas para se locomover, mas a sua cabeça e a sua memória estão intactas, perfeitas”.
Nenhum problema com Macri. Não gosto de conflitos
Quanto ao relacionamento considerado “frio” com o presidente argentino Mauricio Macri, o Papa respondeu: “Não tenho qualquer problema com o presidente Macri. Não gosto de conflitos. Macri me parece uma pessoa de boa família, uma pessoa nobre”.
Recordou, depois, de ter tido alguma divergência com ele no passado, mas se tratou de “uma única vez, em Buenos Aires”, durante os seis anos em que Macri foi prefeito da cidade e Bergoglio, o Arcebispo. “Uma só vez em tanto tempo é uma média muito baixa”, destacou o Papa.
Outros problemas, acrescentou, “foram discutidos e resolvidos em privado e este acordo de privacidade foi respeitado por ambos”. “Não tenho qualquer reprovação pessoal a fazer ao Presidente Macri”, reiterou.
Audiência com Hebe de Bonafini, líder das Mães da Plaza de Mayo
O Papa respondeu ainda a uma pergunta sobre a audiência concedida a Hebe de Bonafini, líder do ramo mais intransigente das Mães da Plaza de Mayo, que no passado criticou Bergoglio acusando-o, falsamente, de ter colaborado com o regime militar.
A senhora depois admitiu seu erro publicamente. A audiência concedida “foi um gesto de perdão” – explicou Francisco. “Ela me pediu perdão e eu não o neguei”, porque o perdão “não se nega a ninguém”. “É uma mulher que teve dois filhos assassinados. E eu meu inclino, me ajoelho diante de tamanho sofrimento. Não importa o que ela disse a meu respeito. E sei que disse coisas terríveis no passado”.
Sala de Imprensa vaticana, única porta-voz do Papa
Sobre as vozes que circulam na Argentina de que, no país, haveria um porta-voz diferente da Sala de Imprensa, Francisco explicou: “Não existem outros porta-vozes oficiais, nem na Argentina nem em outros países. Repito: a Sala de Imprensa do Vaticano é a única porta-voz do Papa”.
Scholas Occurrentes
Outra questão disse respeito às Scholas Occurrentes, a Fundação reconhecida pela Santa Sé que nasceu em Buenos Aires há mais de 15 anos, impulsionada pelo então Arcebispo Bergoglio, e que atua em prol da formação dos jovens.
Recentemente, o Pontífice convidou os responsáveis pelo organismo a não aceitarem uma doação em dinheiro por parte do governo. Mas não se tratou de uma decisão “contra o governo de Macri”, destaca o Papa.
“Esta interpretação é absolutamente errada. Não aludia de modo algum ao governo. Disse somente aos responsáveis das Scholas, com afeto, aquilo que poderia ajudá-los a evitar eventuais erros na gestão da Fundação. Continuo acreditando que não temos o direito de pedir dinheiro ao governo argentino, que tem tantos problemas sociais por resolver”, explicou o Papa.
Quero uma Igreja aberta e compreensiva
Por fim, respondendo a uma pergunta sobre os “ultraconservadores da Igreja”, o Papa Francisco afirmou: “Eles fazem seu trabalho e eu, o meu. Eu desejo uma Igreja aberta, compreensiva, que acompanhe as famílias feridas. Eles dizem não a tudo. Eu continuo firme pela minha estrada, sem olhar para os lados. Não corto cabeças. Nunca gostei de fazer isso. Rejeito o conflito.”
Por Canção Nova, com Rádio Vaticano