O Papa: não devemos ter vergonha de pedir, de rezar
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09/12/2020
Por ocasião do 150º aniversário da declaração de São José Padroeiro da Igreja Católica, o Papa Francisco aprovou nesta terça-feira, 8 de dezembro, a Carta Apostólica Patris corde, com o objetivo de “aumentar o amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo”.
O Santo Padre oferece neste documento algumas reflexões pessoais sobre a “figura extraordinária” de São José, “tão próximo da condição humana de cada um de nós”.
Na Carta Apostólica, o Pontífice sublinha que São José esteve “sempre pronto a cumprir a vontade de Deus manifestada na sua Lei e através de quatro sonhos”.
Sublinha também que “teve a coragem de assumir a paternidade legal de Jesus, a quem deu o nome revelado pelo anjo”.
Lembre-se de que, “para defender Jesus de Herodes, residiu como forasteiro no Egito. Regressado à pátria, viveu no recôndito da pequena e ignorada cidade de Nazaré, na Galileia, longe de Belém, a sua cidade natal, e de Jerusalém, onde se erguia o Templo”.
“Depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum Santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como José, seu esposo”, sublinha o Santo Padre.
Em sua Carta Apostólica, o Papa Francisco oferece uma reflexão sobre São José como um pai amado, um pai na ternura, um pai na obediência, um pai na acolhida, um pai de coragem criativa, um pai trabalhador e um pai nas sombras.
Pai amado
Francisco ressalta que “a grandeza de São José consiste no fato de ter sido o esposo de Maria e o pai de Jesus”.
“Por este seu papel na história da salvação, São José é um pai que foi sempre amado pelo povo cristão”. Ele também lembra que “enquanto descendente de Davi, de cuja raiz deveria nascer Jesus segundo a promessa feita ao rei pelo profeta Natan, e como esposo de Maria de Nazaré, São José constitui a dobradiça que une o Antigo e o Novo Testamento”.
Pai na ternura
Como ensina Francisco nesta Carta Apostólica, “Jesus viu a ternura de Deus em José”. “Assim ele ensina-nos que ter fé em Deus inclui também acreditar que Ele pode intervir inclusive através dos nossos medos, das nossas fragilidades, da nossa fraqueza. E ensina-nos que, no meio das tempestades da vida, não devemos ter medo de deixar a Deus o timão da nossa barca. Por vezes queremos controlar tudo, mas o olhar d’Ele vê sempre mais longe”.
Pai na obediência
O Papa lembra que “de forma análoga a quanto fez Deus com Maria, manifestando-Lhe o seu plano de salvação, também revelou a José os seus desígnios por meio de sonhos, que na Bíblia, como em todos os povos antigos, eram considerados um dos meios pelos quais Deus manifesta a sua vontade”.
“José sente uma angústia imensa com a gravidez incompreensível de Maria”, recorda o Bispo de Roma, mas “com a obediência, superou o seu drama e salvou Maria”.
Depois de fugir para o Egito para salvar a Sagrada Família da maldade de Herodes, “no Egito, com confiança e paciência, José esperou do anjo o aviso prometido para voltar ao seu país”.
“Logo que o mensageiro divino, num terceiro sonho – depois de o informar que tinham morrido aqueles que procuravam matar o menino –, lhe ordena que se levante, tome consigo o menino e sua mãe e regresse à terra de Israel, de novo obedece sem hesitar”.
Desta forma, “Ao longo da vida oculta em Nazaré, na escola de José, Jesus aprendeu a fazer a vontade do Pai”.
Pai no acolhimento
“José acolhe Maria, sem colocar condições prévias. Confia nas palavras do anjo”.
“José deixa de lado os seus raciocínios para dar lugar ao que sucede e, por mais misterioso que possa aparecer a seus olhos, acolhe-o, assume a sua responsabilidade e reconcilia-se com a própria história”.
Nesse sentido, “o acolhimento de José convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são, reservando uma predileção especial pelos mais frágeis, porque Deus escolhe o que é frágil”.
Pai com coragem criativa
A coragem criativa, explica Francisco, “surge quando se encontram dificuldades. Com efeito, perante uma dificuldade, pode-se estacar e abandonar o campo, ou tentar vencê-la de algum modo. Às vezes, são precisamente as dificuldades que fazem sair de cada um de nós recursos que nem pensávamos ter”.
Portanto, embora “o Evangelho não dá informações relativas ao tempo que Maria, José e o Menino permaneceram no Egito. Mas certamente tiveram de comer, encontrar uma casa, um emprego”.
“Não é preciso muita imaginação para colmatar o silêncio do Evangelho a tal respeito. A Sagrada Família teve que enfrentar problemas concretos, como todas as outras famílias, como muitos dos nossos irmãos migrantes que ainda hoje arriscam a vida acossados pelas desventuras e a fome”.
“Neste sentido, creio que São José seja verdadeiramente um padroeiro especial para quantos têm que deixar a sua terra por causa das guerras, do ódio, da perseguição e da miséria”.
Pai trabalhador
Há um aspecto de São José que tradicionalmente se destacou: “sua relação com o trabalho”.
“São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho”.
Esta identificação de São José com o trabalho digno é agora mais necessária do que nunca: “Neste nosso tempo em que o trabalho parece ter voltado a constituir uma urgente questão social e o desemprego atinge por vezes níveis impressionantes, mesmo em países onde se experimentou durante várias décadas um certo bem-estar, é necessário tomar renovada consciência do significado do trabalho que dignifica e do qual o nosso Santo é patrono e exemplo”.
Pai na sombra
O Papa enfatiza que José é para Jesus “a sombra na terra do Pai celeste: guarda-O, protege-O, segue os seus passos sem nunca se afastar d’Ele”.
“Não se nasce pai, torna-se tal… E não se torna pai, apenas porque se colocou no mundo um filho, mas porque se cuida responsavelmente dele. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outrem, em certo sentido exercita a paternidade a seu respeito”.
Francisco explica que “na sociedade atual, muitas vezes os filhos parecem ser órfãos de pai. A própria Igreja de hoje precisa de pais”.
Nesta área, o Papa recorda outro nome que recebe José, o de “castíssimo”.
“Não se trata duma indicação meramente afetiva, mas é a síntese duma atitude que exprime o contrário da posse. A castidade é a liberdade da posse em todos os campos da vida. Um amor só é verdadeiramente tal, quando é casto. O amor que quer possuir, acaba sempre por se tornar perigoso: prende, sufoca, torna infeliz”.
José “soube amar de maneira extraordinariamente livre. Nunca se colocou a si mesmo no centro; soube descentralizar-se, colocar Maria e Jesus no centro da sua vida”.
Via ACI Digital