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20/11/2020
“América Latina: Igreja, Papa Francisco e os cenários da pandemia”: é o título de um Seminário virtual realizado esta quinta-feira, promovido pela Pontifícia Comissão para a América Latina (CAL), pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais e pelo Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM).
Os participantes puderam enriquecer suas reflexões com a contribuição oferecida pelo próprio Papa Francisco, que enviou uma videomensagem analisando os desafios da pandemia no contexto latino-americano.
Problemas agravados
O Pontífice reiterou alguns conceitos, como por exemplo, de que a emergência não só evidenciou os problemas e as injustiças socioeconômicas já existentes, mas os agravou.
E isso aparece evidente quando se constata que nem todos dispõem dos recursos necessários para adotar as medidas elementares de proteção contra a Covid-19: um teto para respeitar o distanciamento social, água e produtos sanitários para se higienizar e desinfetar os ambientes, um trabalho seguro. “A pandemia tornou ainda mais visíveis as nossas vulnerabilidades preexistentes”, constatou o Pontífice.
Entre essas vulnerabilidades, o Pontífice citou a degradação do meio ambiente e os incêndios que destruíram vastas regiões, como o Pantanal e a Amazônia.
Responsabilidade, transparência e honestidade
Diante dos efeitos devastadores da pandemia, Francisco pediu propostas criativas para aliviar o peso da crise, sobretudo sobre os mais vulneráveis. Não se trata de esmola, afirma o Papa, mas de uma nova hermenêutica para abordar o problema, partindo das periferias humanas para encontrar caminhos viáveis.
No Reino de Deus, a organização social se baseia em contribuir, compartilhar e distribuir, e não em possuir, excluir e acumular. A saída parte de uma depuração do pensamento, afirmou o Papa, acrescentando que todos somos chamados a trabalhar, individual e coletivamente, com responsabilidade, transparência e honestidade.
“A pandemia nos mostrou o melhor e o pior dos nossos povos e o melhor e o pior de cada pessoa”, disse ainda Francisco. Agora, mais do que nunca, é necessário retomar a consciência da nossa pertença comum. O vírus nos lembra que o melhor modo de cuidar de nós é cuidar de quem está ao nosso lado.
Não deixemos roubar a esperança
Além da pandemia, a América Latina combate outros males sociais, como a falta de trabalho, terra e trabalho – “os três famosos T (techo, tierra, trabajo)” –, aos quais se acrescentam a corrupção.
“Diante deste tenebroso panorama, os povos latino-americanos nos ensinam que são povos com alma que souberam enfrentar com coragem as crises e souberam gerar vozes que, clamando no deserto, abriram caminhos para o Senhor (cfr. Mc 1, 3). Por favor, não deixemos roubar a esperança! O caminho da solidariedade como justiça é a melhor expressão de amor e de proximidade. Destas crises podemos sair melhores, como testemunharam tantos nossos irmãos e irmãs no dom cotidiano de sua vida e nas iniciativas que o Povo de Deus gerou.”
A este ponto do discurso, o Pontífice se dirigiu diretamente à classe governamental, à qual “me permito convidar, mais uma vez, a reabilitar a política”. Isso significa não utilizar mecanismos que façam desta grave crise um instrumento de caráter eleitoral e social. “A profundidade da crise requer proporcionalmente uma grandeza da classe política-dirigente, capaz de elevar o olhar e guiar e orientar as legítimas diferenças na busca de soluções aplicáveis para os nossos povos.”
A corrupção é uma lepra
Como profundo conhecer da realidade local, Francisco constatou com pesar uma “grandíssima capacidade” dos latino-americanos em descreditar o outro, cujo resultado vai em detrimento da comunidade. Chegou a hora que o bem comum seja colocado a serviço do povo e não dos próprios interesses, alertou o Papa, falando também dos riscos da corrupção inclusive dentro da Igreja, “uma verdadeira lepra que adoece e mata o Evangelho”.
Perante estes desafios, a oração do Papa se voltou para Nossa Senhora de Guadalupe, para que a “nossa terra latino-americana não se ‘desmadre’, ou seja, não perca a memória de sua mãe. “A unidade é superior ao conflito”, concluiu Francisco, fazendo votos de que o manto da Virgem “nos proteja como um único povo”.
Via Vatican News