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23/11/2015Milhares de educadores e estudantes de todo o mundo se reuniram com o Papa Francisco na manhã de sábado (21/11) na Sala Paulo VI, no Vaticano, no encerramento do Congresso Mundial promovido pela Congregação para a Educação Católica.
A modalidade do encontro foi de testemunhos e perguntas feitas por estudantes e professores e respostas por parte do Pontífice, que não tinha um discurso pronto. Para Francisco, não se pode falar de educação católica sem falar de humanismo.
Transcendência
“Educar de modo cristão não é fazer uma catequese, proselitismo, é levar avante os jovens e as criaças nos valores humanos em toda a realidade. E uma dessas realidades é a transcendência”, disse o Papa, que considera o fechamento à transcendência a maior crise educacional.
O Pontífice lamentou a educação seletiva e elitista. “Parece que têm direito à educação os povos que tem certo nível, certa capacidade. Mas certamente não têm direito à educação todas as crianças. Esta é uma realidade mundial que nos envergonha, que nos leva rumo a uma seletividade humana que, ao invés de aproximar os povos, os afasta. Afasta os ricos dos pobres, uma cultura de outra.”
O Papa falou ainda do fenômeno da exclusão, que leva à ruptura do pacto educativo entre a família e a escola, entre a família e o Estado. “Os trabalhadores mais mal pagos são os educadores. Isso significa que o Estado não tem interesse”, criticou.
Um grande pensador brasileiro
Para ele, o trabalho do educador é buscar novos caminhos na educação informal, como as artes e os desportos. E o Papa chamou em causa os brasileiros, citando implicitamente Paulo Freire:
“Um grande educador brasileiro dizia que na escola formal devia-se evitar cair somente num ensino de conceitos. A verdadeira escola deve ensinar conceitos, hábitos e valores. Quando uma escola não é capaz de fazer isso, esta escola é seletiva, exclusiva e para poucos”, disse Francisco, acrescentando que o critério de seleção puramente racional tem como base “o fantasma do dinheiro”.
Quanto à figura do educador, o Pontífice considera que este deve saber arriscar; caso contrário, não pode educar.
“Arriscar significa ensinar a caminhar, ensinar que uma perna deve estar firme e, a outra, deve tentar avançar. Educar é isto. O verdadeiro educador deve ser mestre de risco, mas de risco consciente.”
Periferias
Francisco falou ainda da necessidade de ir às periferias. No campo educativo, afirmou, significa acompanhar os alunos no crescimento, não somente fazer beneficência e dar de comer e ensinar a ler. Significa segurar pelas mãos e caminhar juntos, fazer com que os jovens de periferia, feridos em sua humanidade, “cresçam em humanidade, em inteligência, em valores e em hábitos”.
“A maior falência de um educador é educar ‘dentro dos muros’: muros de uma cultura seletiva, muros de uma cultura de segurança, os muros de um setor social elevado.”
Por fim, o Papa deu como “lição de casa” aos presentes que repensem as obras de misericórdia na educação. “Como posso fazer para que este Amor do Pai, que é especialmente ressaltado neste Ano da Misericórdia, chegue às nossas obras educativas?”
O Pontífice concluiu agradecendo aos educadores “mal pagos” por tudo o que fazem, encorajando-os a prosseguirem. “Devemos reeducar tantas civilizações!”
Por Rádio Vaticano