Papa Francisco convoca “um minuto pela paz”
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“A eutanásia e o suicídio assistido são uma derrota para todos. A resposta a que somos chamados é nunca abandonar aqueles que sofrem, não desistir, mas cuidar e amar para restaurar a esperança”: é o que escreve o Papa Francisco num tuíte na conta @Pontifex, com o pensamento e a oração voltados para Noa Pothoven, a jovem holandesa de dezessete anos que escolheu morrer, domingo passado, 2 de junho, assistida por médicos especializados em suicídio assistido.
Não à cultura do descarte
Na esteira de seus predecessores, o Papa Francisco evocou muitas vezes, e com veemência, o respeito à vida desde a concepção até a morte natural. Em particular, em relação à eutanásia e ao suicídio assistido, disse que “são graves ameaças para as famílias no mundo inteiro”.
Enquanto “sua prática é legal em muitos Estados, a Igreja a contrasta firmemente” e “sente o dever de ajudar as famílias que cuidam” de seus entes queridos quer doentes, quer anciãos – afirmou (Amoris laetitia, 48). Cultura da morte e cultura do descarte não são um sinal de civilização, mas um sinal de abandono que pode disfarçar-se também de “falsa compaixão”, ressalta. Ao invés, é preciso assumir a fadiga de colocar-se lado a lado e acompanhar quem sofre.
Reencontrar o verdadeiro sentido da vida
“A dor, o sofrimento, o sentido da vida e da morte – afirma Francisco – são realidades que a mentalidade contemporânea tem dificuldade de enfrentar com um olhar repleto de esperança. No entanto, sem uma esperança confiável que o ajude a enfrentar também a dor e a morte, o homem não consegue viver bem e conservar uma perspectiva confiante diante de seu futuro.”
“Esse é um dos serviços que a Igreja é chamada a prestar ao homem contemporâneo” porque o amor, aquele que se faz próximo de modo concreto e que encontra em Jesus ressuscitado a plenitude do sentido da vida, abre novas perspectivas e novos horizontes também a quem pensa não aguentar mais, acrescenta.
Sobre o caso Noa Pothoven trazemos aqui a reflexão do presidente da Pontifícia Academia para a Vida, Dom Vincenzo Paglia, entrevistado pelo Vatican News – Radio Vaticano.
Dom Paglia, o caso dramático desta jovem mostra muito desespero, mas também muito abandono…
“Em primeiro lugar, gostaria de confiar nas mãos de Deus – que não abandona ninguém – esta jovem, mas também todos os seus familiares. Chegamos à dramática conclusão de uma vida igualmente dramática: os abusos, depois a anorexia e por fim a depressão… tudo isso coloca uma grande interpelação: não é possível que uma sociedade não saiba responder a esses sucessivos pedidos amor que são expressos inclusive dentro das várias situações tão difíceis que ela viveu. É uma grande derrota para a nossa sociedade, e para a sociedade europeia em particular, pensando que sobretudo os países do norte representam também uma sociedade desenvolvida, abastada, rica, mas como infelizmente muitas vezes se dá hoje em dia, caracterizada por uma solidão imperante. Somos talvez mais ricos, mas certamente todos mais sozinhos e todos mais frágeis. A geração adulta da Europa não está dando uma esperança forte aos mais jovens. O Papa Francisco, com o Sínodo sobre os jovens, quis suscitar em todos um ímpeto de responsabilidade para com eles conscientes de que precisam de um fogo interior que nós mais adultos devemos ter a responsabilidade de transmitir, sem apagá-lo. Faço votos de que não seja um grito que acabe sem ser ouvido.”
Como é possível que ninguém tenha conseguido ajudar essa jovem? Noa havia denunciado essa situação, tinha dito que na Holanda não existem estruturas especializadas para ajudar os adolescentes que sofrem como ela. É certamente mais fácil eliminar uma pessoa do que acompanhá-la em seu sofrimento…
“Não conheço bem a situação holandesa, mas certamente o tema do aumento dos suicídios no mundo juvenil, inclusive dos adolescentes, deve nos alarmar muito. O que surpreende é que a segunda causa de morte dos jovens na Europa é o suicídio: isso deveria nos fazer refletir. A Europa é já envelhecida, tem poucos filhos e não consegue nem mesmo manter os poucos que tem. Junto à esterilidade há uma ausência de futuro que deve ser revista: é preciso uma verdadeira revolução de fraternidade, de amor, de futuro, de mudança de perspectiva em vista de um bem comum para todos; do contrário, os jovens, os adolescentes mais frágeis, como se deu com essa jovem, serão as primeiras vítimas. Devemos fazer um sério exame de consciência – todos – com o que aconteceu.”
Esse é um caso que nos interpela a todos nós: como é possível tolerar que se deixe uma jovem morrer? Cada vez mais hoje, em nossa sociedade, se vê a falta de sentido da vida que é também incapacidade de encontrar um sentido para o próprio sofrimento, sinal de profunda solidão e de falta de amor…
“Essa é a fotografia da grande pobreza espiritual, além de cultural e humana, da sociedade que estamos edificando. O retirar-se em si mesmo leva àquela solidão radical, que depois encontra na depressão uma sua forma também clínica que certamente exige, além de todos os aspectos do tratamento médico, além de todas as legislações e escolhas econômicas adequadas, exige também um ímpeto de humanidade que é indispensável num mundo onde, infelizmente, os ideais materialistas e do bem-estar absoluto impedem aquela consciência do limite que é parte da nossa vida. A vida deve ser acolhida, defendida, protegida e acompanhada. Jamais nos é solicitado fazer o trabalho sujo da morte: quem ama, ajuda a viver. E se esse amor é forte, jamais ajuda a encurtar a vida; caso necessário, a acompanhá-la para que seja uma passagem a mais humana possível. O amor é mais forte do que o sofrimento e até mesmo a morte.”
Via Vatican News