Santa Inês de Praga (ou Boêmia)
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02/03/2017A Quaresma teve início neste 1º de março com a celebração do rito da imposição das cinzas. O Papa, de 5 a 10 de março, participará com a Cúria na Casa do Divino Mestre, em Ariccia, dos tradicionais Exercícios Espirituais, este ano pregados pelo Padre franciscano Giulio Michelini, 53 anos, milanês, docente do Instituto Teológico de Assis. Mas, como ele recebeu o convite do Papa?
“Devo dizer a verdade que, imediatamente, a quem me apresentou a proposta – um dos colaboradores estreitos do Papa Francisco – eu reagi dizendo logo: “Bem, confio”. Conversei com quem me ajuda, a cada pouco me aconselho com o meu diretor espiritual, e ele me disse assim: “Olha, Padre Giulio, mas foste tu que pediu?. E eu respondi: “Jamais faria isto!”. E depois me disse: “Fale como se falasse a um dos discípulos de Cristo, como tu fazes”. E isto me deixou sereno”.
RV: O senhor é um especialista no evangelista Mateus e será exatamente a Paixão narrada por Mateus a inspirar as suas meditações…
“O Evangelho de Mateus é o Evangelho da Igreja, isto é, aquele que mais valoriza a figura de Pedro; não somente é o único Evangelho que utiliza a palavra ‘ecclesia’ – Igreja – duas vezes, mas é o Evangelho que mais fala de Pedro. E portanto me pareceu bonito estar diante de Pedro e falar com ele do Evangelho que é o primeiro Evangelho, ou chamado também de “Evangelho eclesial” da Igreja”.
RV: Além disto, mais de uma vez o Papa fez referência à vocação de Mateus, que tanto influenciou a sua vida espiritual, nas suas escolhas: não é assim?
“E é de fato uma idéia importante, porque naquela vocação – como o Papa Francisco observou – há o olhar de misericórdia de Jesus. Ora, nós sabemos que o Evangelho de Mateus é o Evangelho da misericórdia. A palavra éleos – misericórdia – aparece mais vezes no Evangelho de Mateus do que nos outros Evangelhos. E portanto, mesmo se Lucas é aquele que, por exemplo, nos narra as parábolas da misericórdia, como aquela do capítulo 15, a ovelha perdida, o filho pródigo, a moeda perdida, deve ser dito no entanto que Mateus insiste sobre isto e o Papa identificou-se com o olhar de Jesus que chama Pedro, porque foi chamado e foi usada de misericórdia para com ele”.
RV: Estas são meditações oferecidas à Cúria e ao Papa. Recordemos que o tempo dos Exercícios Espirituais, ao menos como os havia pensado Santo Inácio de Loyola, é um tempo em que cada cristão deveria refazer-se. Neste início de Quaresma, o que o senhor poderia nos dizer a este respeito? Qual é a finalidade dos Exercícios Espirituais?
“O problema é justamente este, de que na nossa vida, às vezes, nós vamos em frente porque fazemos tantas coisas; talvez nos faça bem parar, quer durante o dia, quer em um tempo especial como a Quaresma, onde nos perguntamos: “Para onde estou indo? O que estou fazendo? Por que estou fazendo? Estou fazendo bem? Quem me guia? É o Espírito que me guia? É o meu desejo de sucesso que me guia, do dinheiro? Como vivo os meus relacionamentos?”. Quem sabe poderíamos dizer: façamos a cada dia um balanço, uma verificação e a Quaresma, no fundo, é isto, porque paramos. Assim, eu proponho um jejum, em particular das coisas que às vezes nos distraem e que são, por exemplo, o bombardeio mediático, e sobre isto deveríamos estar muito atentos. Enquanto estávamos fazendo esta entrevista, chegaram para mim, acredito, cinco mensagens no whatsapp e agora sou obrigado a vê-las! Realmente, às vezes a quantidade de informações, mesmo banais, que nos chegam, são no fundo também perigosas. Portanto, esta é uma forma de pausa um pouco para recuperar e parar. Temos realmente necessidade disto, sobretudo neste tempo”.
Por Rádio Vaticano