São José de Anchieta, presbítero
09/06/2018São Barnabé, apóstolo
11/06/2018“Somos afetados por crises climáticas. No entanto, os efeitos das mudanças climáticas não são distribuídos uniformemente. São os pobres que mais sofrem com os estragos do aquecimento global”. A frase foi um alerta do Papa Francisco aos executivos de empresas do setor de petróleo, gás natural e outras atividades relacionadas à energia, reunidos na manhã deste sábado, 9, no Vaticano. Em Roma para o simpósio dedicado aos temas da transição energética e do cuidado do lar comum, os executivos ouviram do Santo Padre sobre o importante papel que desempenham em sociedade e sobre a necessidade de estarem cercados de boas orientações antes de tomadas de decisão.
Sobre a energia gerada pelas empresas e os principais desafios de tal processo, o Pontífice alertou: “Muitas das áreas de nossas vidas são condicionadas pela energia, e infelizmente ainda há muitas pessoas que não têm acesso à eletricidade: fala-se até de mais de um bilhão de pessoas. Daí o desafio de ser capaz de fornecer a enorme energia necessária para todos, de forma que a exploração dos recursos evitem desequilíbrios ambientais ou que causem um processo de degradação e poluição, a partir do qual toda a humanidade hoje e amanhã seria gravemente ferida”.
Durante seu discurso, o Santo Padre afirmou também sobre as muitas formas de degradação provenientes do consumo desenfreado de energia. “A qualidade do ar, o nível dos mares, as reservas de água doce, o clima e o equilíbrio dos ecossistemas não podem sofrer por causa das modalidades com que os seres humanos saciam sua ‘sede’ de energia”, reforçou. Sobre este tipo de consumo, Francisco foi categórico: “Para satisfazer esta ‘sede’, não é lícito aumentar a verdadeira sede de água, pobreza ou exclusão social”.
A necessidade de dispor de quantidades crescentes de energia para o funcionamento das máquinas não pode, segundo o Papa, ser satisfeita ao preço de envenenar o ar e comprometer seriamente a existência de todas de espécies de seres vivos na Terra. Francisco citou um trecho de sua Encíclica Laudato Si para explicar a nocividade da falta de informação e compromisso com o ambiente: “É falso o pressuposto de que existe uma quantidade ilimitada de energia e meios utilizáveis, que a sua regeneração imediata é possível e que os efeitos adversos da manipulação da natureza podem ser facilmente absorvidos”.
Diante de tantas questões delicadas, o Pontífice reconheceu a complexidade da demanda energética e os principais desafios, teóricos e práticos, para a comunidade internacional. Por isso, o Santo Padre apontou a necessidade de uma estratégia global de longo prazo, que forneça segurança energética e a estabilidade econômica, protegendo a saúde do ambiente e o desenvolvimento humano integral. A resolução de problemas relacionadas à mudanças climáticas são compromissos apontados pelo Papa como específicos e importantes de serem resolvidos.
“Na Encíclica Laudato Si, apelei a todas as pessoas de boa vontade (ver nn. 31-64) para o cuidado do lar comum, e precisamente para uma transição energética (n. 165) que evite mudanças desastrosas, mudanças climáticas que poderiam comprometer o bem-estar e o futuro da família humana e seu lar comum. Neste contexto, é importante que, com seriedade e compromisso, prossigamos em direção a uma transição que aumente constantemente o uso de energia com alta eficiência e baixa taxa de poluição”, afirmou.
Sobre o acesso à energia nos países mais vulneráveis, o Papa reafirmou a ideia de uma diversificação das fontes de energia que acelerem o desenvolvimento sustentável de energias renováveis. “Se quisermos eliminar a pobreza e a fome, conforme exigido pelas metas de desenvolvimento sustentável da ONU, os bilhões de pessoas que não têm eletricidade hoje devem poder tê-la de maneira acessível. Mas, ao mesmo tempo, é bom que essa energia seja limpa, contendo o uso sistemático de combustíveis fósseis”, frisou.
Acordo de Paris
O Santo Padre relembrou a adoção de 196 países ao Acordo de Paris, realizado em dezembro de 2015, que limitava o crescimento do aquecimento global. Desde a data, Francisco salientou a ainda crescente taxa de emissões de CO 2 e concentrações atmosféricas devido aos gases de efeito estufa. “Isso é bastante perturbador”, opinou. O Pontífice prosseguiu reforçando o impacto ambiental sob as decisões econômicas e a necessidade de sempre ser considerado os custos humanos e ambientais de longo prazo, envolvendo instituições e comunidades nos processos de tomada de decisão.
“O progresso foi feito através de seus esforços. As empresas de petróleo e gás estão desenvolvendo abordagens mais aprofundadas para avaliar o risco climático e modificar seus planos de negócios. Isso é digno de louvor. Investidores globais estão revendo suas estratégias de investimento para levar em conta considerações ambientais. Novas abordagens para ‘finanças verdes’ estão surgindo. Certamente, houve progresso. Mas isso é suficiente? Nós nos viramos no tempo?”, questionou.
Para Francisco não há avanço sem uma consciência crescente de que todo o ser humano pertence a uma única família ligada por laços de fraternidade e solidariedade. “Somente pensando e agindo com a constante atenção a essa unidade fundamental que supera todas as diferenças, somente cultivando um sentido de solidariedade universal e internacional, podemos realmente prosseguir resolutamente no caminho indicado”.
Por fim, o Papa exortou todos os executivos a contribuírem com duas grandes fragilidades do mundo atual: os pobres e o meio ambiente. “Convido vocês a serem o núcleo de um grupo de líderes que imagina a transição energética global de uma maneira que leve em conta todos os povos da Terra, bem como as futuras gerações e todas as espécies e ecossistemas. (…) Com gratidão, os abençoo e oro para que o Deus Todo-Poderoso conceda a cada um de vocês grande determinação e coragem para servir ao lar comum em uma forma renovada de cooperação”, concluiu.