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Durante a maior parte da minha vida, nunca pratiquei jejum. Em meus 20 e poucos anos, decidi tentar. Não fui bem. Se a palavra “faminto” ainda não tivesse sido cunhada (ou seja, raiva provocada pela fome), tenho certeza de que minhas próprias emoções depois de não comer por longas horas a teriam trazido rapidamente para o nosso vocabulário.
Eu sou como um hobbit que fica irritado quando só toma um cafezinho e, como carnívoro com uma primitiva dependência de proteínas, quando jejuo de uma refeição ou duas e, além disso, também me abstenho de carne, Deus ajude a pobre alma que tem de conviver comigo.
Como alguém que não tinha o costume de se abster de carne às sextas-feiras, continuo a esquecer o hábito várias vezes de maneira embaraçosa.
Não é incomum eu estar com bacon quase pronto quando ouço a voz amorosa da minha mulher atrás de mim: “querido, é sexta-feira”. Meus ombros caem e eu fico todo embaraçado. E assim começo a entender o verdadeiro significado da penitência.
Eu não estou sozinho. Nosso escritório da paróquia recebe um dilúvio de telefonemas sempre que o dia de São Patrício coincide com uma sexta-feira. Os interlocutores perguntam ansiosamente sobre o enigma da carne do dia de São Patrício – comer ou não comer? De um modo geral, essa é a pergunta para todos nós. Por que jejuamos? Existe algum benefício ou estamos nos torturando sem sentido? E, se decidirmos tentar, por que é tão difícil conseguir fazer o jejum?
Quando falamos em jejum, normalmente o que queremos dizer é desistir de uma refeição inteira ou de uma série de refeições para fins espirituais ou pessoais. Não comer carne às sextas-feiras continua sendo uma prática comum para muitos cristãos e, em outras variações, também para outras tradições religiosas. Não comer carne é mais adequadamente chamado de abstinência, mas neste artigo vou tratar o jejum e a abstinência como conceitos relacionados. Ambas são maneiras pelas quais nos privamos e, para mim, ambas podem ser muito difíceis.
De certa forma, é bom que a prática permaneça difícil. Quando nos privamos, o que renunciamos é valioso, uma coisa boa da qual realmente sentimos falta. Nós, humanos, somos particularmente vulneráveis a buscar coisas boas demais e, como resultado, somos capazes de desordenar nossos afetos.
Por exemplo, quando a vida causa um rompimento romântico em nosso caminho, corremos para um pote de sorvete. Quando nos sentimos tristes ou não conseguimos dormir o suficiente, tomar um café açucarado é tentador. Começamos a confiar, nesse caso, na comida como terapia emocional ou como um substituto fácil para outras coisas boas que deveriam estar em nossas vidas.
Inconscientemente, até que comecei a pensar mais profundamente sobre o jejum, toda a minha vida tinha sido um banquete longo e indulgente. Os morangos estão disponíveis mesmo fora da estação, os bons lanches são mais acessíveis, uma pizza está ao alcance de um telefonema…
Tomamos isso como garantido e confiamos demais nisso como uma indulgência fácil, algo que pode rapidamente se transformar em substituto do crescimento espiritual ou pessoal. Quando se trata de Comer, Rezar e Amar, de longe, o mais fácil dos três é comer. E a comida pode ser elevada a um lugar onde não deveria estar. O banquete constante ameaça nos entorpecer perante outros tipos de fome.
Jejuamos porque a fome física que sentimos é um lembrete de que as partes mais importantes de nossas vidas não são visíveis aos olhos. Amor, verdade, amizade, alma humana, felicidade, misericórdia, graça e a realidade de Deus não podem ser vistos ou consumidos da maneira que faríamos com uma refeição. Eles são ainda mais valiosos por isso, porque falam não apenas com o corpo, mas também com a alma, e essa alma invisível é o que nos anima e nos torna tão especiais.
O jejum é uma forma física de oração, um longo olhar para o Céu para lembrar que nossas almas também podem estar com fome, e se não encontrarmos alimento espiritual, morreremos de fome mesmo que estejamos cercados por todas as supermercados do mundo.
O jejum nos oferece um grande dom – a oportunidade de crescer em autodomínio. Não há nada que seja mais importante do que a liberdade de nossas próprias almas.
Portanto, quando houver uma luta para jejuar ou praticar a abnegação, lembre-se de que a luta é extremamente valiosa porque nos ajuda a desaprender o processo de se contentar com prazeres fáceis e, em vez disso, alcançar aqueles que são mais dignos.
O jejum não é para sempre, mas, praticando-o, descobrimos que o verdadeiro banquete está em um lugar diferente do que poderíamos supor inicialmente. A luta é real, mas vale a pena.
Via Aleteia