DNJ 2019 retoma temática da Campanha da Fraternidade sobre Políticas Públicas
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23/09/2019
A Igreja é um projeto da Trindade: foi pensada na eternidade pelo Pai, inaugurada na história pelo Filho e continuada, ao longo dos séculos, pela ação do Espírito que, por sua vez, sopra “onde quer, como quer e onde quer”. Essa verdade nunca se deve perder: a Igreja é humana, mas é sobretudo divina. Cremos a Igreja porque ela vive sustentada também por um tripé: Tradição, Escritura e Magistério. Confiamos que o Espírito ilumina o colégio episcopal – sucessor legítimo do colégio apostólico -, nas decisões e nos rumos a se tomar na Igreja, tal como dissera o apóstolo Tiago, chefe da comunidade de Jerusalém: “pareceu-nos bem, ao Espírito Santo e a nós” (cf. At 15,28).
No dia 15 de outubro de 2017, Francisco, o bispo de Roma – ou chefe da Igreja, ou Romano Pontífice, ou Sumo Pontífice, ou Papa, como quiserem – anunciou e convocou, antes da oração do Ângelus, na Praça de São Pedro, um sínodo para a Amazônia.
“Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”: este foi o tema escolhido para o sínodo dos bispos, que se realizará no Vaticano, de 6 a 27 de outubro deste ano. “A finalidade principal desta convocação é encontrar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, sobretudo dos indígenas, muitas vezes esquecidos e sem a perspectiva de um futuro sereno, também por causa da crise da floresta amazônica, pulmão de importância fundamental para o nosso planeta”, disse.
O Instrumentum Laboris (instrumento de trabalho), publicado no dia 17 de junho, destacou alguns pontos críticos para a discussão, como os desmatamentos, os garimpos descontrolados, os projetos hidrelétricos exacerbados e o desrespeito às tribos indígenas. Entre os temas relacionados à Igreja, encontram-se as dificuldades com relação às tradições culturais e a assistência pastoral no vasto território da Amazônia, levando-se em consideração, principalmente, a falta de sacerdotes no local, que, por sua vez, afeta diretamente no ápice da missão da Igreja, que é a Eucaristia. Certamente ali também se discutirá a posição específica dos leigos como lideranças das comunidades locais, e se pensará nas tarefas destinadas às mulheres.
Este sínodo é importante para a Igreja e para o mundo porque a região da Amazônia, não é de hoje, é chamada de “pulmão verde do mundo”. Logo, abusos, especialmente a nível ecológico, afetam diretamente toda a humanidade.
Na mensagem de Francisco, bispo de Roma, para o dia mundial das missões de 2019, intitulada Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo, o Papa escreveu: “A coincidência providencial do Mês Missionário Extraordinário com a celebração do Sínodo Especial sobre as Igrejas na Amazônia leva-me a assinalar como a missão, que nos foi confiada por Jesus com o dom do seu Espírito, ainda seja atual e necessária também para aquelas terras e seus habitantes. Um renovado Pentecostes abra de par em par as portas da Igreja, a fim de que nenhuma cultura permaneça fechada em si mesma e nenhum povo fique isolado, mas se abra à comunhão universal da fé. Que ninguém fique fechado em si mesmo, na autorreferencialidade da sua própria pertença étnica e religiosa. A Páscoa de Jesus rompe os limites estreitos de mundos, religiões e culturas, chamando-os a crescer no respeito pela dignidade do homem e da mulher, rumo a uma conversão cada vez mais plena à Verdade do Senhor Ressuscitado, que dá a verdadeira vida a todos”.
Não é hora de se opor ao sínodo: ele acontecerá e basta. Confiamos na Providência Divina que elegeu Francisco para bispo da diocese de Roma, que “preside as demais igrejas na caridade”; este que, por sua vez, iluminado pela ação do Espírito, convocou o sínodo. O Espírito não age mais num Papa que em outro: Ele age. Não é hora de levantar bandeiras e nem de assumir posições, mesmo porque, há muito de especulação da própria imprensa em muito do que o Papa diz e pensa. Aliás, até hoje, Francisco não mudou em absolutamente nada a doutrina, exceto, no Catecismo da Igreja Católica, o parágrafo que dizia respeito à pena de morte, proibindo-a de modo definitivo. Não dá para ser católico pela metade. Ou confiamos que o Espírito age na Igreja ou não. Creio, com todas as minhas forças, que sim.
A história já nos ensinou o que pode acontecer se fecharmos os olhos para uma realidade iminente, ainda que o Espírito continue a nos motivar e a querer nos abrir os olhos. No dia 8 de dezembro de 1864, por exemplo, Giovanni Maria Mastai Ferreti (1792-1878), o papa Pio IX (1846-1878), assustado com o movimento moderno e com a secularização que, de alguma forma, já se iniciara, referiu-se àquelas novidades – ali chamadas de modernismo -, como “uma praga cruel da mais alta abominação” (Encíclica Cuanta Cura, 1864). Também o Espírito iluminou Pio IX à época, não duvido, mas é preciso colocar cada posicionamento também no seu devido contexto, para não cometermos anacronismos – julgarmos o passado com os critérios de hoje.
Quase um século depois, em 1959, o papa João XXIII convocou um Concílio para a Igreja, e disse, na sessão solene de abertura, em 1962: “[…] Chegam-nos dolorosamente aos ouvidos considerações feitas por diversas pessoas, guiadas por preocupações de ordem religiosa, sem dúvida, mas nem sempre fruto de uma apreciação correta dos fatos ou de um juízo prudencial mais elaborado. São pessoas que só veem desastres e calamidades nas condições em que atualmente vive a humanidade. Lamentam os tempos em que vivemos em comparação com o passado. Parecem desconhecer a história, que é mestra da vida. Imagem que na época dos Concílios passados tudo corria às mil maravilhas no que concerne à doutrina cristã, aos costumes e à liberdade da Igreja. Temos o dever de discordar desses profetas da miséria, que só anunciam infortúnios, como se estivéssemos no fim do mundo. No momento histórico em que vivemos, a sociedade parece entrar numa nova ordem. Devemos estar prontos para reconhecer os misteriosos desígnios da Providência, que juntamente com todos os seres humanos, leva-nos a alcançar objetivos que ultrapassam nossas próprias expectativas, e tudo dispõem para o bem da Igreja, inclusive as dificuldades que atravessamos”. Com posturas diferentes, ambos os papas deixaram-se guiar pelo Espírito e direcionaram a Igreja àquilo que criam ser o melhor. Hoje não é diferente.
Acompanhemos, portanto, os preparativos do sínodo da Amazônia com nossas orações e preces. Oremos pelo cardeal Dom Claudio Hummes, OFM, nomeado relator e o principal organizador deste acontecimento. De fato, é o Espírito quem conduz a Igreja, sempre; nós, clérigos e leigos, somos apenas instrumentos do Senhor. Deixemos, portanto, que Ele guie, dirija e impulsione a Igreja para onde Ele quiser, sem querer ter o controle de tudo, pois, como escreveu o Papa Francisco, não existe maior e melhor liberdade do que esta (cf. EG 278).
Por Pe. Tiago Cosmo da S. Dia é do clero diocesano de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, atualmente vigário paroquial na Basílica de Nossa Senhora da Penha e coordenador diocesano da Pastoral da Comunicação. É jornalista e bacharel em Filosofia e Teologia pela Faculdade de Filosofia e Teologia Paulo VI, em Mogi das Cruzes. É pós-graduado em Religião e Cultura, pelo Centro Universitário Assunção (UNIFAI), em São Paulo, e em Cultura e Comunicação, pela PUC-SP, em parceria com o SEPAC-Paulinas.