Papa e o martírio de João: a vida vale somente se doada no amor
08/02/2019Vaticano apresenta Dia de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas
08/02/2019
Depois do pedido de Maduro ao Papa para relançar o diálogo na Venezuela, na quinta-feira (07/02) a Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou um comunicado, através do Diretor interino Alessandro Gisotti afirmando:
“O Santo Padre sempre se reservou e portanto se reserva a possibilidade de verificar a vontade de ambas as partes determinando se existem condições para seguir este caminho”
Já em Abu Dhabi, Alessandro Gisotti tinha referido que o Secretário de Estado, Pietro Parolin confirmara o episódio do líder venezuelano Maduro. Maduro, em entrevista a uma emissora italiana, informara que havia enviado uma carta ao Papa Francisco para favorecer a reconciliação na Venezuela.
Mediar, se for pedido por ambas as partes
No voo de regresso de Abu Dhabi, durante a entrevista coletiva, o Papa falou sobre a crise venezuelana, confessando que ainda não tinha lido a carta enviada pelo presidente venezuelano, mas confirma que é necessário fazer gestos “facilitadores” para uma aproximação. O primeiro passo é o pedido de ambas as partes.
Veremos o que se pode fazer. Mas, para que ocorra uma mediação, é necessária a vontade de ambas as partes, ambas as partes pedindo. Também para os países, essa é uma condição que deve fazê-los pensar antes de pedir uma facilitação ou a presença de um observador, ou uma mediação. Ambas as partes, sempre.
Recordando o compromisso da Secretaria de Estado na crise venezuelana, Francisco não esconde os poucos resultados alcançados no passado como nos colóquios na República Dominicana entre o governo e a oposição, mediados entre o ex-presidente espanhol Zapatero, representante da Unasur, União das Nações Sul-americanas. Na época, a diplomacia vaticana trabalhou também com dom Emil Paul Tscherring, hoje Núncio Apostólico na Itália e na República de San Marino, continuou depois com Dom Claudio Maria Celli, que teve uma longa carreira na Secretaria de Estado. E ali – afirmou Francisco durante o voo papal – não tivemos frutos”.
No Panamá pensando na Venezuela
A crise na Venezuela chega a uma virada, em 23 de janeiro passado, quando o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Juan Gerardo Guaidó Márquez, declarou-se presidente interino.
Era o dia da chegada do Papa Francisco ao Panamá para a Jornada Mundial da Juventude. No Angelus de 27 de janeiro, o Pontífice recordou o povo venezuelano, exortando a buscar sempre “o bem de todos os habitantes do país”.
“Aqui no Panamá, pensei muito no povo venezuelano ao qual me sinto particularmente unido nesses dias. Diante da grave situação que está vivendo, peço ao Senhor para que se busque e alcance uma solução justa e pacífica para superar a crise, respeitando os direitos humanos e buscando exclusivamente o bem de todos os habitantes do país. Convido todos vocês a rezar, colocando essa intercessão sob a proteção de Nossa Senhora de Coromoto, Padroeira da Venezuela.”
Este não é o primeiro apelo que Francisco faz. Em 2014, com o estourar da crise, o Papa enviou uma mensagem para relançar o diálogo, falando “do heroísmo do perdão e da misericórdia”: elementos necessários para libertar-se “do ressentimento, do ódio” e para tomar “uma estrada realmente nova”, “longa e difícil, que requer paciência e coragem”, “a única que pode conduzir à paz e à justiça”.
Em maio de 2017, Francisco exortou, na carta aos bispos venezuelanos, a construir pontes, resolver os problemas graves do país, expressando “profunda dor pelos confrontos e a violência” que, segundo as estimativas recentes do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, custaram a vida de 43 pessoas, nos últimos dias, e cerca de 850 prisões.
Um país dilacerado
A situação humanitária da Venezuela é a grande preocupação dos bispos do país, dilacerado há anos, não obstante as reservas de petróleo que possui. Os dados das agências humanitárias mostram uma realidade formada por miséria e abandono: 12% da população, segundo o Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), está desnutrida e o índice de desnutrição alcançou o nível mais elevado dos últimos 25 anos. A ONU estima que cerca de 2,3 milhões de venezuelanos fugiram do país desde 2015.
Apelo do cardeal Urosa
Numa entrevista a Aci Prensa, o cardeal Jorge Urosa Savino, arcebispo emérito de Caracas, convidou a rezar para resolver pacificamente a crise.
No domingo, 10 de janeiro passado, foi promovido o Dia de Oração, organizado pelas presidências da Conferência Episcopal Venezuelana, da Conferência dos Religiosos e Religiosas e do Conselho Nacional de Leigos, a fim de pedir ao Senhor “a paz, a reconciliação e a liberdade”.
O purpurado fala do compromisso da Igreja com a população, através de iniciativas como “Solidarity Pot” (Pote de solidariedade), distribuição de alimentos aos pobres.
A Caritas Venezuela ajudou e cuidou, em 2018, de 18.890 crianças e 988 mulheres grávidas. Mais de 14 mil pessoas participaram dos Dias da Saúde e a população vulnerável foi monitorada através de 92 centros nutricionais. Além disso, foram entregues 1.030 filtros de água e 4 milhões de remédios.
Cardeal Porras: reforçar a fraternidade
Numa entrevista ao jornal italiano “Il Fatto Quotidiano”, o cardeal Baltazar Enrique Porras Cardozo, arcebispo de Mérida, contou que “o país chegou ao extremo”, pois faltam água potável, eletricidade, medicamentos e alimentos.
O administrador apostólico de Caracas ressaltou que os bispos sentem a proximidade do Papa, “sempre interessado pela Venezuela” e constantemente informado sobre o que está acontecendo. “O que todos queremos”, sublinhou, “é reforçar a fraternidade dos venezuelanos” que “não querem abrir uma ferida que não se cicatrizará nunca”. “Está em jogo algo precioso: a unidade do país”, concluiu o cardeal.
Bispos pedem uma solução pacífica
“Não queremos derramamento de sangue, por nenhuma razão no mundo”, disse o bispo auxiliar de Caracas, dom José Trinidad Fernández, secretário-geral da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), no final de uma coletiva de imprensa, através da qual a Igreja no país se expressou mais uma vez sobre a situação da nação.
“Sabemos que o povo venezuelano é pacífico. É necessária uma solução negociada e pacífica, que respeite a todos. Serve muito neste momento o Mandamento “não matar” e este deve ser um processo de paz, não de guerra”. “Certo, prosseguiu o secretário-geral da CEV, “o nosso é um pedido de diálogo e o reiteramos muitas vezes em nossos pronunciamentos. Um diálogo que deve levar a uma transição pacífica e a uma mudança política que o povo está pedindo. Uma mudança política para chegar a eleições claras e transparentes”.
A Igreja na Venezuela continua evidenciando a situação dramática da população, a falta de alimentos e remédios. “É fundamental abrir o país para as ajudas humanitárias, estamos numa situação dramática, inaudita, as crianças estão desnutridas e faltam medicamentos básicos, os mais comuns”.
“Nós bispos somos inspirados pela recente mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, em que se fala da exigência de uma boa política a serviço da paz. É o que procuramos fazer neste momento em que o tecido social deve ser reorganizado. Não queremos mais ver pessoas detidas arbitrariamente e crianças procurando comida no lixo”, concluiu.
Via Vatican News