Por Anderson Bueno
Em 2014 o salesiano irmão Luis Antonio Amiranda respondeu sim ao desafio proposto pelo visitador de Moçambique e ex-inspetor de São Paulo, Pe. Marco Biaggi, para passar dois anos no país africano e auxiliar o trabalho da Congregação Salesiana por lá. Retornando a São Paulo ele conta como foi a rica experiência.
“A minha ida para Moçambique foi muito tranquila porque em uma brincadeira na tomada de posse do diretor aqui do Bom Retiro, que era o Pe. Edmilson Moraes, o Pe. Marco Biaggi estava indo para Moçambique e numa roda de conversa ele perguntou quem toparia ir trabalhar com ele. Vários salesianos falaram “Eu vou! Eu vou! Eu vou!” E no embalo eu também iria.
Uns meses depois veio uma carta-convite insistindo muito que precisava de “alguma pessoa meia doida” para trabalhar com ele lá e eu resolvi aceitar o desafio. Então a inspetoria aqui (São Paulo) me enviou para passar dois anos em Moçambique.
Foi uma experiência rica, impagável. Uma experiência tanto humana quanto cultural, como de vida religiosa impagável, sou muito feliz, foi muito bom, muito rico! A gente vai com uma experiência, uma expectativa de que a gente vai para se doar, para ser missionário, para ensinar e de repente a gente toma um tombo muito grande, aí a gente aprende muito mais do que a gente leva, a gente recebe muito mais do que a gente leva para eles.
No primeiro ano a gente trabalhou muito ali numa capela vizinha, trabalhou com oratório e eu administrava a parte financeira da faculdade e da casa inspetorial. No segundo o Pe. Marco precisava de alguém para trabalhar em uma outra obra chamada São José de Lhanguene, onde tem uma grande paróquia, uma escola comercial vinculada com o governo, uma escola profissional e um grande internato para crianças praticamente órfãs, filhas da guerra, onde foi um trabalho que a gente pode, como salesianos, se integrar muito mais e se realizar como pessoa.
O país é um país de extrema pobreza, um país que ainda continua em guerra. A guerra não está declarada oficialmente, mas ela existe todos os dias. A corrupção, e aí vocês podem dizer “Ah, mas no Brasil também tem corrupção”, mas lá tem mais, então vocês imaginem o nível disso. A questão de trabalho é muito difícil, então 90% do comércio é informal. O povo não pode plantar, ter grandes plantações que essa guerrilha, essa guerra vem e destrói ou pega o material para o inimigo ou próprio amigo, ninguém sabe quem é amigo ou inimigo, então a produção é muito pouco e tudo vem de fora e portanto é tudo muito caro. Então a fome anda de mãos dadas com as pessoas.
São pessoas que sentem muitas necessidades, só que é um povo bom, um povo muito acolhedor, muito aberto a tudo o que você leva de esperança, de religiosidade, é um povo muito bom, muito santo. Mesmo sem muitas teorias da vida religiosa acabei voltando um religioso muito melhor do que eu fui, uma pessoa humana muito melhor, muito mais tranquila, mais serena, mais receptiva do que eu fui.
A vida missionária é um desejo muito grande que Dom Bosco teve desde antes dele montar a congregação, na formação dele ele sempre desejou ser missionário. Ele nunca foi para uma missão ad gentes, mas ele tinha certeza que estaria presente na missão ad gentes em outros países através da Família Salesiana, dos Salesianos Cooperadores, que foram o primeiro grupo, dos próprios Salesianos, das Salesianas (Filhas de Maria Auxiliadora) e de tantos jovens que hoje nós temos por aí. Dom Bosco está realmente inteiro em cada jovem e naqueles que se dispõem a fazer missão”.