A Sagrada Escritura, no livro do Eclesiástico, traz palavras sábias a respeito de como devemos escolher os nossos amigos:
“Sejam numerosas as tuas relações, mas os teus conselheiros, um entre mil. Se queres um amigo, adquire-o pela prova e não te apresses em nele confiar. Porque há amigo de ocasião; ele não será fiel no dia da tua tribulação. Há amigo que se torna inimigo e que revelará querelas para tua vergonha. Há amigo que é companheiro de mesa mas que não será fiel no dia de tua tribulação. Na tua prosperidade é como se fosse outro tu, falando livremente a teus servos; se és humilhado, estará contra ti e se esconderá de tua presença. Afasta-te de teus inimigos e acautela-te com teus amigos.” (Eclo 6, 6-13).
Podemos dizer que João Bosco, guiado unicamente pela prudência, seguiu à risca estas orientações bíblicas sobre as amizades desde que chegou à escolha de Chieri. Também porque, como bem lembramos, este já havia sido um dos seus propósitos, no dia sua primeira eucaristia: “Fugir das más companhias como da peste”.
Nas “Memórias do Oratório de São Francisco de Sales”, João testemunha o que viveu nesta época: “Durante as primeiras quatro classes tive de aprender por minha conta como tratar os colegas. Dividira-os em três categorias: bons, indiferentes, maus. Estes últimos devia evitá-los absolutamente e sempre, assim que os conhecesse. Com os indiferentes havia de entreter-me por delicadeza e por necessidade. Com os bons podia travar amizade, quando fossem verdadeiramente tais. Como não conhecia ninguém na cidade, resolvi não contrair familiaridade com ninguém. Tive entretanto de lutar e muito com os que não conhecia bem. Alguns queriam levar-me ao teatro, outros a disputar uma partida, outros a nadar. Houve até quem quisesse induzir-me a roubar frutas dos pomares e nos campos. Um deles foi tão descarado que me aconselhou a roubar da minha patroa um objeto de valor para comprarmos caramelos. Livrei-me dessa caterva de infelizes fugindo rigorosamente de sua companhia, à medida que os ia descobrindo. De ordinário respondia que minha mãe me havia confiado à dona da casa onde estava hospedado, e que pelo amor que lhe tinha não queria ir a lugar algum nem nada fazer sem o consentimento da boa dona Lúcia.”
Esta obediência fez com João fosse muito estimado por dona Lúcia. Tanto assim, que encomendou aos seus cuidados o seu próprio filho que, também na escola, não conseguia ter um bom proveito nos estudos. Era de uma personalidade muito inquieta e não sabia dividir o tempo entre os seus deveres e os seus divertimentos.
João, embora estivesse em uma classe abaixo, ajudava o filho de dona Lúcia com as suas tarefas escolares. Interessou-se em ajudá-lo como se fosse seu próprio irmão. Com boas maneiras, com pequenos presentes, às vezes com algumas brincadeiras e, sobretudo, levando-o para as celebrações religiosas, João transformou o rapaz em um garoto dócil, obediente e estudioso.
A patroa ficou tão contente que acabou por liberar João da mensalidade da casa e das despesas com a alimentação, sobrando assim para ele apenas os gastos com os livros e com as roupas. Continuou ajudando o filho de dona Lúcia por mais dois longos anos, prestando-lhe essa amorosa e vigilante assistência.
Algo muito raro na vida de João neste tempo eram os momentos de descanso. Quando os outros estudantes estavam no recreio, ele se empenhava nos trabalhos manuais. Aprendeu com facilidade, em uma oficina de alguns carpinteiros que conhecia, a trabalhar com madeira. Tornou-se um hábil construtor de móveis.
Ainda havia amigos que tentavam levar João para a desordem. Como os convites eram sempre negados, não poucas vezes as reações eram desrespeitosas. Bosco, porém, não fazia caso e continuava a tratar todos com a mesma bondade.
Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
Animador das dimensões Vocacional, Missionária e de Evangelização e Catequese da Pastoral Juvenil Salesiana
E-mail: [email protected] / Facebook: www.facebook.com/glaucosdb
ESPAÇO VALCOCCO – CAPÍTULOS
Capítulo 1: Espaço Valdocco: somos Dom Bosco que caminha
Capítulo 2: Um começo de vida marcado pela pobreza e por uma fatalidade
Capítulo 3: Uma mãe corajosa, amorosa e cheia de fé
Capítulo 4: Antônio, José e João: três irmãos muito diferentes
Capítulo 5: O início dos estudos de João Bosco e o começo dos conflitos familiares
Capítulo 6: Um sonho que ficou gravado profundamente na mente
Capítulo 7: Um sonho que é memória e profecia
Capítulo 8: Um sonho que envia um pastor para os jovens
Capítulo 9: Um saltimbanco de Deus
Capítulo 10: Deus tomou posse do teu coração
Capítulo 11: A fúria de Antônio
Capítulo 12: Um lugar com a família Moglia
Capítulo 13: Uma experiência rica de família e trabalho
Capítulo 14: Um tempo para aprender a falar com Deus
Capítulo 15: Um amigo inesperado
Capítulo 16: Um pai para Joãozinho Bosco
Capítulo 17: Um desastre que desfalece as esperanças
Capítulo 18: “O vaqueiro dos Becchi” retorna para a escola
Capítulo 19: Mais dificuldades na escola de Castelnuovo
Capítulo 20: Um amigo para toda a vida
Capítulo 21: “Se eu for sacerdote, serei muito diferente”
Capítulo 22: Férias em Sussambrino
Capítulo 23: O sacrifício de pedir ajuda
Capítulo 24: Chieri, uma cidade repleta de história, piedade e estudos
Capítulo 25: O início dos estudos em Chieri
Capítulo 26: Uma memória extraordinária
Capítulo 27: O cuidado de João em escolher suas amizades
Capítulo 28: A Sociedade da Alegria: uma maneira de evangelizar os colegas
Capítulo 29: O cultivo da espiritualidade na Sociedade da Alegria
Capítulo 30: João Bosco, filho de Maria Santíssima e testemunho da santidade para os seus colegas
Capítulo 31: O ano escolar de 1832-1833: a crisma de João Bosco e a ordenação do Pe. Cafasso
Capítulo 32: O amigo Luís Comollo
Capítulo 33: Um trabalho exigente no Café Pianta
Capítulo 34: Uma presença que causava admiração e fazia a diferença
Capítulo 35: A amizade e a conversão do judeu Jonas
Capítulo 36: Um jovem com muitos talentos e habilidades
Capítulo 37: Crise vocacional de João Bosco e a decisão de fazer-se franciscano
Capítulo 38: “Deus te prepara outro lugar, outra messe”
Capítulo 39: O Pe. Cinzano, instrumento da providência divina no caminho vocacional de João Bosco
Capítulo 40: O dia em que João Bosco recebeu a batina
Capítulo 41: E João finalmente entra no seminário