João Bosco carecia do acompanhamento de alguém mais experiente e provado na vida espiritual que lhe pudesse dar uma orientação precisa de como discernir sua vocação. Tendo recebido a orientação do Pe. Comollo (tio de seu amigo Luís Comollo) que deveria entrar no seminário diocesano, Bosco não pestanejou. Passou a investir todas as suas energias para dar este passo.
Antes de entrar no seminário, naquele tempo, se deveria receber solenemente a batina, o hábito eclesiástico. Havia um exame admissional antes desta celebração, que tornava o jovem rapaz um clérigo, um candidato ao sacerdócio. João passou neste exame com um ótimo resultado.
João terminou sua etapa de estudos na escola de Chieri muito satisfeito com o que viveu naqueles anos. Deixou o testemunho que, em todo aquele tempo, não havia escutado naquela escola nenhuma conversa ou uma palavra sequer que divergissem dos bons costumes da religião. Terminado o curso de retórica, dos 25 alunos que compunham a classe de João, 21 abraçaram a vocação sacerdotal; três se tornaram médicos e um se tornou comerciante.
Ao se despedir no colégio, era notável o quanto João Bosco havia conquistado a amizade e a simpatia não só de seus colegas, mas de todos por ali. O prefeito dos estudos, o diretor espiritual e cada um dos professores tinham uma grande estima por João.
Voltando para a sua terra, João preferiu alguns dias mais tranquilos, longe mais voltado às boas leituras, que ele confessou haver descuidado nestes últimos tempos. Mas não deixou, nem assim, de se fazer presente entre os seus amigos e com os pequenos, entretendo-os com histórias, jogos e cantos religiosos. Aliás, mais do que isso, observando que alguns dos maiores desconheciam totalmente algumas questões da fé, passou a ensiná-los as orações e tudo que era importante saber com aquela idade. Era, podemos dizer, uma espécie de oratório, para onde acorria diariamente cerca de 50 meninos. Ocupou-se com esse trabalho por quase todos os meses de setembro e de outubro (praticamente todo o tempo de férias).
Aproximava-se, porém, o dia de receber a batina e João ainda tinha muitas dificuldades financeiras para poder providenciar a sua entrada no seminário. João contou com a ajuda de seu amigo Pe. Cafasso que se pôs de acordo com o Pe. Cinzano (novo pároco que chegou no lugar do Pe. Dassano), para ver como poderiam providenciar a sua entrada no seminário sem muitos gastos. Decidiram recorrer à generosidade do Pe. Luís Guala, diretor e fundador do Convitto Eclesiástico de São Francisco de Assis, em Turim, que gozava de grande influência ante o arcebispo Dom Luís Fransoni.
Certo dia o Pe. Cinzano chamou João e o levou para Rivalba, em uma fazenda onde o Pe. Guala descansava naqueles dias. João não sabia para onde e nem porque estava indo. Após uma conversa e muita insistência do Pe. Cinzano, Pe. Guala aceitou pedir a gratuidade total da entrada de João no seminário. Esta era a parte mais difícil de se conseguir.
O próximo passo era conseguir a batina que a sua pobre mãe não poderia comprar. O Pe. Cinzano conversou com alguns de seus paroquianos que, com alegria, aceitaram ajudar João. Segundo o Pe. João Batista Lemoyne, autor de alguns volumes das “Memórias Biográficas de Dom João Bosco” um senhor chamado Sartori deu a João a batina; um outro senhor chamado Pescarmona deu o chapéu; o vigário paroquial doou um de seus mantos e outras pessoas lhe compraram o colarinho clerical, o barrete, as meias e um par novinho de sapatos.
Foi assim que, com a ajuda paterna e providencial do Pe. Cinzano, João conseguiu todos os meios necessários para receber a batina e ingressar no seminário da Arquidiocese de Turim. Algumas testemunhas dizem que ouviram algumas vezes o Pe. Cinzano dizer a respeito de João:
– Este jovem será grande. Eu irei morrer e não verei os seus êxitos, mas vocês verão como o mundo inteiro irá falar dele.
Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
Animador das Dimensões Vocacional, Missionária e de Evangelização e Catequese da Pastoral Juvenil Salesiana
E-mail: [email protected] / Facebook: www.facebook.com/glaucosdb
ESPAÇO VALCOCCO – CAPÍTULOS
Capítulo 1: Espaço Valdocco: somos Dom Bosco que caminha
Capítulo 2: Um começo de vida marcado pela pobreza e por uma fatalidade
Capítulo 3: Uma mãe corajosa, amorosa e cheia de fé
Capítulo 4: Antônio, José e João: três irmãos muito diferentes
Capítulo 5: O início dos estudos de João Bosco e o começo dos conflitos familiares
Capítulo 6: Um sonho que ficou gravado profundamente na mente
Capítulo 7: Um sonho que é memória e profecia
Capítulo 8: Um sonho que envia um pastor para os jovens
Capítulo 9: Um saltimbanco de Deus
Capítulo 10: Deus tomou posse do teu coração
Capítulo 11: A fúria de Antônio
Capítulo 12: Um lugar com a família Moglia
Capítulo 13: Uma experiência rica de família e trabalho
Capítulo 14: Um tempo para aprender a falar com Deus
Capítulo 15: Um amigo inesperado
Capítulo 16: Um pai para Joãozinho Bosco
Capítulo 17: Um desastre que desfalece as esperanças
Capítulo 18: “O vaqueiro dos Becchi” retorna para a escola
Capítulo 19: Mais dificuldades na escola de Castelnuovo
Capítulo 20: Um amigo para toda a vida
Capítulo 21: “Se eu for sacerdote, serei muito diferente”
Capítulo 22: Férias em Sussambrino
Capítulo 23: O sacrifício de pedir ajuda
Capítulo 24: Chieri, uma cidade repleta de história, piedade e estudos
Capítulo 25: O início dos estudos em Chieri
Capítulo 26: Uma memória extraordinária
Capítulo 27: O cuidado de João em escolher suas amizades
Capítulo 28: A Sociedade da Alegria: uma maneira de evangelizar os colegas
Capítulo 29: O cultivo da espiritualidade na Sociedade da Alegria
Capítulo 30: João Bosco, filho de Maria Santíssima e testemunho da santidade para os seus colegas
Capítulo 31: O ano escolar de 1832-1833: a crisma de João Bosco e a ordenação do Pe. Cafasso
Capítulo 32: O amigo Luís Comollo
Capítulo 33: Um trabalho exigente no Café Pianta
Capítulo 34: Uma presença que causava admiração e fazia a diferença
Capítulo 35: A amizade e a conversão do judeu Jonas
Capítulo 36: Um jovem com muitos talentos e habilidades
Capítulo 37: Crise vocacional de João Bosco e a decisão de fazer-se franciscano
Capítulo 38: “Deus te prepara outro lugar, outra messe”
Capítulo 39: O Pe. Cinzano, instrumento da providência divina no caminho vocacional de João Bosco
Capítulo 40: O dia em que João Bosco recebeu a batina
Capítulo 41: E João finalmente entra no seminário