Nas férias de 1836, Luís Comollo, o grande amigo de João Bosco, recebeu a batina e entrou no seminário de Chieri. Novamente os dois amigos estão juntos, depois dos tempos de estudos na escola secundária. João, porém, já se encontrava um pouco mais adiantado. Estava para iniciar o segundo ano de filosofia.
Para conhecermos melhor a história desta bonita amizade, precisamos recorrer à biografia que o próprio Dom Bosco escreveu, depois da morte de seu amigo. Escreveu não só para homenagear o amigo, mas também para eternizar o seu testemunho incrível e radical de fé e de entrega aos desígnios do Senhor.
Comollo tinha em um de seus livros um pequeno papel com uma frase escrita no seu primeiro dia de aula: “Faz muito o que faz pouco, mas o que se deve fazer”. Era um rapaz extremamente obediente. Ficava muito aborrecido com murmurações e fofocas. Se possuía algo de bom para dizer a respeito de uma pessoa, falava. Do contrário, se calava.
Nutria uma devoção filial a Nossa Senhora e uma grande confiança em Jesus sacramentado. Ao entrar na fila da comunhão, seus colegas o viam com passos firmes e olhos baixos. E ao receber, fazia uma profunda e silenciosa ação de graças. Algumas vezes acabava por se emocionar nestes momentos de oração. João o aconselhou certa vez a controlar mais suas emoções ao rezar. Comollo respondeu que sentia em seu coração uma tamanha abundância de afetos e alegria que, se não chorasse, poderia afogar-se consigo mesmo. Outras vezes dizia que, ao comungar, sentia-se pleno de suavidade e de uma alegria que não conseguia explicar.
João respeitava essa ardorosa devoção de Comollo, mas dentro de si, tinha uma aversão a tudo que pudesse chamar a atenção dos outros. Sua piedade não era menos fervorosa que a de Comollo, mas tinha outro aspecto. João, depois de comungar, voltava ao seu lugar e, ajoelhado, inclinava a cabeça e, de mãos postas, permanecia imóvel durante todo o tempo de ação de graças. De vez em quando se percebia seus lábios dizerem em voz alguma jaculatória que gostava.
A biografia de Comollo escrita por Dom Bosco deixa transparecer toda a amizade e proximidade que os dois possuíam: “Este maravilhoso companheiro foi para mim uma benção. Sabia corrigir-me quando era necessário, mas com tanto afeto e caridade que até me considerava feliz por dar motivos para a reprimenda, pois era um prazer ser corrigido por ele. Possuíamos muita familiaridade e instintivamente me sentia inclinado a imitá-lo e, embora muitos quilômetros longe de sua virtude, certamente devo a ele não ter sido influenciado pelos maus colegas e ter perseverado em minha vocação. Apenas em uma coisa não queria imitá-lo: na mortificação. Não entendia como um jovem de 19 anos precisava jejuar rigorosamente durante toda a quaresma e nos outros tempos mandados pela Igreja; e jejuar todos os sábados em honra da Santíssima Virgem, renunciar muitas vezes ao café da manhã, comer às vezes pão e água e suportar qualquer desprezo e injúrias sem demonstrar o menor sinal de ressentimento. Tudo isso me desconcertava. Porém, ao vê-lo cumprir tão exatamente os deveres de estudo e piedade, não podia deixar de pelo menos reconhecer naquele companheiro um ideal de amizade, um convite ao bem, um modelo de virtude para quem vive no seminário”.
Esta humildade de João ao falar sobre Comollo não pode nos enganar. Também ele era um modelo para muitos de seus companheiros no seminário. O Pe. Juan Francisco Giacomelli, por exemplo, colega e amigo muito próximo de Dom Bosco no tempo de seminário, testemunhou: “Entrei no seminário um ano depois de João Bosco. Na primeira vez que me sentei no salão de estudo da filosofia, vi na minha frente um seminarista que me parecia ser um pouco mais velho. Possuía um aspecto agradável, os cabelos enrolados, mas pálido e magro; parecia doente. Realmente alguém disse que dificilmente chegaria ao fim dos estudos. Entretanto, apesar de sua frágil saúde, foi adquirindo cada vez mais força. Era o nosso querido Dom Bosco. Desde então me senti atraído por ele com um grande simpatia. Também ele me olhava com compaixão quando, em uma época, sofria com piadas que alguns colegas faziam de mim.”
Também no seminário Dom Bosco constituiu um grupo, com uma proposta mais ou menos parecida com a Sociedade da Alegria, dos tempos da escola secundária. Era um grupo de incentivo ao cumprimento dos deveres de piedade e de estudo. Os principais sócios eram Guillerme Garigliano, João Giacomelli e Luis Comollo. Assim Dom Bosco falou deles: “Estes três companheiros foram para mim um tesouro. O grupo de estudos, iniciado no ano anterior, seguia muito bem, acrescentando-se novos membros no ano seguinte. Discutiam as dificuldades filosóficas nem sempre bem entendidas em sala de aula, sempre usando a língua latina, segundo uma proposta de Comollo. Era um momento muito proveitoso para todos, que conseguiam treinar o uso do latim e depois usá-lo com muita facilidade. As perguntas de Comollo eram célebres. Sabia animar a discussão com investigações úteis e narrações, embora sempre muito discreto, mantendo-se calado enquanto outro está falando. Às vezes acontecia de deixar uma ideia pela metade, para dar a vez a outro que queria falar.”
João Bosco, portanto, fez no seminário experiências profundas de amizade que, segundo ele mesmo testemunhou, colaborou muito para a sua caminhada e para a sua perseverança. No futuro, na vivência do seu sistema educativo, dará grande importância para as amizades, atribuindo a eles um papel importante no amadurecimento e na realização da vida dos seus jovens.
Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
Animadordas dimensões Vocacional, Missionária e de Evangelização e Catequese da Pastoral Juvenil Salesiana
[email protected]