As missões, opção estratégica de Dom Bosco
A Congregação Salesiana nasce do espírito “missionário” de Dom Bosco, que sendo sacerdote diocesano, ligado à pastoral estruturada prefere a busca de quantos estão “longe” e “fora” da igreja.
Sua “missão juvenil interna” – na congregação salesiana – chega a ser efetivamente a plataforma ideal “das missões estrangeiras”. A orientação missionária acontece, como sabemos, bem mais tarde, em 1875, quando a “Congregação dos Oratórios”, já aprovada definitivamente, se converte também, de algum modo, em “Instituto para as missões estrangeiras” e o salesiano missus ad iuvenes (enviado para os jovens) se torna missus ad gentes (enviado ao povo).
Falando da grande necessidade que tem de missionários e de tantos milhões de homens que ainda se devem converter – registra o cronista, com data de 20 de maio de 1875 – a conversa versou sobre Ásia (…). Só a China (o império chinês) milhões de almas para salvar… E a Índia.
Nós estamos acostumados a falar da Europa, do Piemonte, contar e estudar sua história e observar todos os seus progressos e regressos, e o Piemonte não é mais que um grãozinho no meio de um lago.
“E o átomo do nosso Oratório em Valdocco? – disse sorrindo Dom Bosco – e, no entanto nos dá tanto trabalho… E deste rincão… Se pensa em mandar missionários aqui e ali”.
A impaciência pastoral não permite Dom Bosco deter-se em metas já alcançadas e o empurra a fazer, com que, com novas metas, sua Sociedade religiosa alcance contínuo dinamismo.
Dom Bosco tinha vontade de livrar-se de demasiadas ataduras locais e legais, civis e canônicas, tanto que, a quem temia que com o estender-se mais, além do oceano, terminasse com o empobrecimento do número de salesianos na Itália, lhe replicava:
“Não veem que aqui suspendem os padres. Para dar-lhes licença para confessar tem que se remover ceu e terra. Mando pedir faculdade para pregar e não dão, senão com muitas limitações. É preciso que eu busque um terreno no qual se possa trabalhar mais facilmente”.
Neste contexto, a iniciativa americana se conjuga com a expansão contemporânea da obra na França.
O primeiro grupo de missionários salesianos parte da Europa, do porto de Gênova no dia 11 de novembro de 1875. Chega à Buenos Aires e começam a Missão da Bem-aventurada Virgem da Misericórdia para os imigrantes italianos, Oratório Festivo e depois colégios.
Em 1877 os salesianos dão um passo para o Uruguai – Villa Colón. Las Piedras é fundação de 1879. De Villa Colón [que fica entre Las Piedas e Montevidéu], partem os salesianos para o Brasil, aqui chegando aos 14 de julho de 1883 sete sacerdotes salesianos, coordenados pelo inspetor Pe. Luís Lasagna. Chegam ao Brasil, estabelecendo-se em Niterói (RJ), nossa Casa Mãe no Brasil, onde funciona a primeira escola salesiana no país, o Colégio Santa Rosa.
05 de junho de 1885 foi fundado o Liceu Coração de Jesus em São Paulo [em 81 foi lançada a primeira pedra da capela que dará depois o santuário, em 1882 querem um estabelecimento de ensino junto da igreja]. E a coisa começa, depois é entregue aos salesianos.
1890 – São Joaquim em Lorena.
1892 – O Colégio Maria Auxiliadora em Guaratinguetá.
1894 – Os Salesianos chegam a Araras. Tudo começa aos 29/01/1895.
1895 – Dom Nery funda o Liceu N. S. Auxiliadora de Campinas para os pobres e abandonados, vítimas da febre amarela.
1897 – Dom Nery entrega o Liceu para os Salesianos.
O Liceu N. S. Auxiliadora de Campinas, fundado em 1897, devia ser, segundo a ideia dos fundadores, uma réplica do Liceu de S. Paulo daqueles tempos, isto é, um estabelecimento de “Artes e Ofícios”, destinado principalmente aos órfãos da febre amarela. De fato, lá funcionaram oficinas para o ensino de diversas artes.
Segundo dados oferecidos pelo cronista Marcigaglia, o 2º diretor do Li¬ceu Nossa Senhora Auxiliadora de Campinas, Pe. Luiz Gonzaga Giudici tencionava abrir no centro da cidade uma escola para onde se transferisse ensino técnico e profissional ministrado no Liceu com bastante dificuldade.
Com essa finalidade reuniu cem contos de réis, quantia bastante significar. Mas não chegou a realizar sua iniciativa, pois foi substituído na direção do Liceu pelo Pe. Domingos Albanello.
O inspetor Pe. Pedro Rota, porém, decidiu levar avante a ideia. Foi ad¬quirida na rua José Paulino uma quadra central em boas condições de preço, para ali se instalarem as oficinas do Liceu. O que não aconteceu porquen nessa mesma época, porém, o governo abriu em Campinas um instituto profissional muito bem aparelhado.
Ficou então resolvido que se abriria um externato de ensino primário, um oratório festivo e uma capela pública. Dessa forma, atendia-se também ao pedido de Dom João Batista Correia Nery, grande amigo dos salesianos, e que então havia sido transferido para a diocese de Campinas, sua terra natal. Foi aliás, em sua homenagem que a nova obra chamou-se Externato São João, sendo inaugurado no dia 24 de junho de 1909 o oratório festivo.
Por outro lado, o bispo insistia para que se abrisse logo alguma obra salesiana. E ficou resolvido: um externato de ensino primário, um bom oratório festivo e uma capela pública. Tudo em benefício do povo. Foi assim que se abriu, em 1909, aquela nova casa: o Externato S. João. Nesse mesmo ano, a 24 de Junho, inaugurou-se a 1ª obra: o oratório festivo.
É fácil entrever, pelo nome da casa e pela data da inauguração, que os Salesianos queriam homenagear o nosso grande amigo e benfeitor, D. João B. Corrêa Nery, recentemente transferido para o bispado de Campinas. Em fevereiro de 1910 começaram a funcionar também as aulas do Externato.
No princípio, a casa era considerada sucursal do Liceu, sem diretor próprio, tendo como primeiro encarregado o P. Caetano Falcone. Só em 1912 começou a ter directores autônomos. Eis a série deles: (os que estiverem em vermelho chegaram ser bispos da Igreja Católica)
1. P. José dos Santos, 1912-1920; oito anos
2. P. Vicente Priante, 1921: * Barra Mansa (RJ), 17/10/1883, †São Paulo (SP), 04/12/1944 com 61 anos de idade, 32 nos de presbiterado, 11 nos de episcopado em Corumbá – MS.
3. P. Francisco Lanna, 1922-1925, quatro anos;
4. P. Teófilo de Melo, 1926-1933, oito anos;
5. P. José Valentin, 1934-1936;
6. P. João Batista Costa, 1937-19401; *Luiz Alves (SC), 22 de dezembro de 1902, † Porto Velho (RO), 16 de abril de 1996 com 93 anos de idade, 72 de vida religiosa salesiana, 63 de vida presbiteral, 50 anos de episcopado em Porto Velho – RO.
7. P. Benedito Cardoso, 1941-1946;
8. P. Pedro Baron,1947-1949;
9. P. Hugo Neves Ferreira, 1950-1952;
10. P. Rafael Chroboczek, 1953-1955;
11. P. Antonio Sarto, desde 1956-1958: * Lins (SP), 27 de fevereiro de 1926, †Campinas (SP), 29 de setembro de 2008, 82 anos de idade, 66 anos de vida religiosa salesiana, 57 anos de presbiterado, 37 anos de episcopado como bispo Coadjutor em Porto Velho e depois em Barra do Garças – MT. Está sepultado no Cemitério Flamboyant, em Campinas (SP), no túmulo de seus familiares;
12. P. João Baldan 1959;
13. P. Antonio Corso 1960-1965, seis anos;
14. P. Geraldo Martinelli de Souza 1966-1973, oito anos;
15. P. Rafael Kroboczek 1974-1975;
16. P. Geraldo Martinelli de Souza 1976-1981, seis anos, total de 14 anos;
17. P. Gilberto Theodoro Cucas 1982-1987, seis anos;
18. P. Olívio Poffo 1988-1990, três anos;
19. P. Antonio Carlos Reami 1991;
20. P. Carlos Luiz Senno 1992;
21. P. José Song Sui Wan 1993, último diretor com comunidade e atividades de escola. *Xangai, China – 16/05/1941, † Campinas, SP 15/11/2012 com 71 anos de idade, 41 anos de padre e 08 anos de bispo de São Gabriel da Cachoeira. Está sepultado em Campinas, no cemitério da Saudade no Jazigo dos Salesiano;
22. De 1994 em diante lê-se nos anuários Oratório, igreja pública e casa de acolhida até 2003;
23. P. Plínio Possobom 2004-2009, seis anos.
A razão social será agora Obra Social São João Bosco, a partir de 2006 com
24. P. Tetuo Koga 2010-2015;
25. P. Glauco Félix Teixeira Landim a partir de 2016.
Com funciona o Externato?
Tem aulas regulares do ensino fundamental. Tem coroinhas para as cerimônias na igreja. Tem grupo de cantores, certames de catecismo e companhias religiosas (São Luiz, de modo especial).
O Oratório é muito animado. Daqui saíram vocações religiosas e sacerdotais como:
P. Ismael Simões, * Campinas, 22 de julho de 1921, † São Paulo, 13 de junho de 1992 com, 79 anos de idade, 56 anos de vida religiosa salesiana e 49 anos de presbiterado. Está sepultado no jazigo dos Salesianos no Cemitério do SS. Redentor em São Paulo.
P. Benevenuto Nery, *Bariri (SP) – Diocese de São Carlos, 01 de novembro de 1924. †Americana (SP) – Diocese de Limeira, 25 de novembro de 2014 com 90 anos de idade, 68 de vida religiosa salesiana, 60 de presbiterado. Está sepultado no jazigo dos Salesianos no Cemitério da Saudade em Americana.
P. Gutenberg dos Reis, * Campinas (SP) 24 de abril de 1930. † São Paulo, 6 de janeiro de 2014, com 83 anos de idade,
65 de vida religiosa e 54 de sacerdócio. Está sepultado no jazigo dos Salesianos no Cemitério do SS. Redentor em São Paulo.
P. Antonio Mobili, * Campinas (SP) — 15/04/1930, † Campinas (SP) — 12-01-1990 com 60 anos de idade, 39 de profissão religiosa salesiana e 29 de presbiterado. Está sepultado em Campinas no Cemitério da Saudade no Jazigo dos Salesianos.
No Externato funcionou sempre a Educação Infantil. O primário antigo.
Na década de setenta (1970), o Externato não conseguiu a renovação de seu Título de Entidade Filantrópica porque a Instituição existia, mas não estava em terreno próprio. O terreno era do Liceu N. S. Auxiliadora.
A Inspetoria Salesiana de São Paulo então, pediu ao Liceu (padre Narciso Ferreira era o diretor) e este vendeu simbolicamente o seu terreno da R. José Paulino com R. Duque de Caxias para o Externato São João que aí funcionava desde 1909.
Pelas leis Estaduais ou Federais o Externato foi obrigado a abrir o curso fundamental. Então, em 1974, no bicentenário da cidade de Campinas, no dia 25 de a gosto, foi lançada a primeira pedra de ampliação do Externato para a construção de novas salas de aulas para o ensino fundamental. Então, a partir de 1980 temos aqui a Educação Infantil e Fundamental com os diretores: lembro-me muito bem; o padre Martinelli não tinha o título civil de diretor de Estabelecimentos de Ensino. O padre Nery é que assinava os documentos escolares do alunos do Externato:
1. Geraldo Martinelli de Souza 1976-1981 – seis anos, total de 14 anos;
2. P. Gilberto Theodoro Cucas 1982-1987 – seis anos;
3. P. Olívio Poffo 1988-1990 – três anos;
4. P. Antonio Carlos Reami 1991;
5. P. Carlos Luiz Seno 1992;
6. P. José Song Sui Wan 1993 – Agora foi necessário acabar com a escola. Muitos alunos foram transferidos, não sem dor, não sem problemas de modo especial para a Escola Salesiana São José.
A administração do Externato volta para a diretoria do Liceu sem perder seus títulos de Utilidade Pública e Fins Filantrópicos. Começa a amadurecer a ideia de Casa de Acolhida, depois vem o núcleo Oziel e todo o movimento que hoje vemos liderados pela Obra Social São João Bosco: Externato, Oziel, Vida Nova etc., com seus oito núcleos:
São João Batista – Centro
360 atendidos e 29 educadores
Dom Bosquinho – Centro
90 atendidos e 11 educadores
Dom Bosco – Vida Nova
570 atendidos e 29 educadores
Nave Mãe Darcy Ribeiro – Vida Nova
506 atendidos e 64 educadores
Nossa Senhora Auxiliadora – Vila Taubaté
180 atendidos e 6 educadores
Vila Francisco Amaral – Vila Taubaté
324 atendidos e 52 educadores
Santa Rita – Jardim Dom Gilberto
180 atendidos e 10 educadores
São Domingos Sávio – Jardim Campo Belo II
180 atendidos e 7 educadores
3.390 atendidos, 3.390 famílias e 208 educadores liderados por quatro salesianos, um pré-noviço e voluntários.
Sabemos que a Paróquia, Salesianos Cooperadores, a ADMA (Associação dos Devotos de Maria Auxiliadora) e diversas capelas que dão vida religiosa, social e espiritual para o povo em geral.
O segredo de tudo está na comunidade educativa animada pelo núcleo dinâmico da Comunidade Religiosa.
Pe. Narciso Ferreira com informações pessoais e dos livros “Os Salesianos no Brasil”, de Luiz Marcigaglia e “A obra deDom Bosco no Brasil, de Azzi Riolado