No ano letivo de 1833-1834, João Bosco resolveu fazer o curso de Retórica. De fato, gostava muito do estudo das letras e apreciava bastante os autores clássicos.
No entanto, o maior presente que João ganhou neste ano foi outro: foi um grande e inesquecível amigo, chamado Luís Comollo.
Falava-se nos corredores da escola que estava para chegar um aluno santo, que dizia ser o sobrinho do pároco de Cinzano, um sacerdote maduro e conhecido por sua vida exemplar.
Certo dia, um grupo de alunos da sala de João Bosco estava brincando momentos antes de começar a aula. Um garoto chamava a atenção de todos há alguns dias. Tinha cerca de 15 anos e aparentava ser uma pessoa simples. Quando chegava ao colégio, sentava-se no seu lugar e colocava-se a ler ou a estudar, sem que o barulho dos seus colegas o incomodasse.
Um colega, irritado com isso, aproximou-se dele, pegou-o agressivamente pelo braço, e insistia para que ele participasse da brincadeira.
– Mas eu não sei, nunca brinquei assim – respondia.
– Pois eu quero que venha do mesmo jeito, caso contrário vou fazer você vir com socos e pontapés!
– Pode bater como você quiser, mas eu não sei, não posso e não quero.
O colega ruim e mal-educado puxou o menino de vez pelo braço e lhe dou dois bofetões que ecoaram em toda a sala. Bosco ao ver aquela cena injusta, sentiu o seu sangue ferver e ficou esperando a reação do menino ofendido. Ainda mais porque era maior e mais velho do que quem lhe batia. Qual não foi a surpresa de todos quando o menino, com o rosto vermelho, lançou um olhar de compaixão ao mau colega e disse:
– Se isto basta para satisfazer você, vá em paz, eu já te perdoei.
João Bosco ficou impressionado com esta atitude heroica e quis conhecer melhor o menino. Pois era justamente Luís Comollo, o tal que era sobrinho do pároco de Cinzano. Desde aquele dia, Bosco procurou aproximar-se ao máximo de Comollo, tornando-se seu amigo íntimo. Dele, Dom Bosco escreve nas “Memórias do Oratório de São Francisco de Sales”: “dele aprendi a viver como cristão”. Uma afirmação forte, principalmente para quem já havia tido a experiência de ter Mamãe Margarida no itinerário de sua vida, mas que expressava a importância que João atribuiu a esta amizade de sua juventude.
João depositou em Comollo toda a sua confiança e ele, em João. Um precisava do outro. Luís era extremamente tímido e precisava de ajuda para se defender dos valentões da escola. João, por sua vez, dada a sua coragem e força física, era temido pelos colegas.
Sobre isso um outro fato que trouxe um grande aprendizado para João Bosco vale a pena ser lembrado. Um grupo de garotos ameaçava bater em Luís Comollo e em outro rapaz, muito pacífico, chamado Antônio Candelo. Bosco tentou intervir, mas ninguém lhe deu atenção. Até que em um certo momento, disse em voz alta:
– Ai de quem maltratar um deles.
Enquanto um bom número daqueles garotos se puseram em posição de ameaça e de defesa com João, duas sonoras bofetadas acertaram o rosto de Comollo. Foi o bastante para João perder a razão e recorrer à força física. Segurando um colega pelos ombros, usou dele para bater nos outros. Quatro deles saíram rolando pela terra, outros fugiram gritando e alguns ficaram pedindo piedade.
Foi quando, exatamente neste instante, entrou o professor na sala de aula. Encontrou aquela situação de grande desordem, com gente caída no chão, um barulhão insuportável e tapas para todos os lados. No entanto, quando o professor soube o que havia acontecido, perguntou se João poderia repetir a sua notável demonstração de força. Todos riram e no final ninguém saiu castigado.
Passado este fato, Comollo diz à João:
– Meu amigo, tua força me espanta; lembra-te, porém, que Deus não a deu para massacrar os colegas. Ele quer que nos amemos, que perdoemos, que façamos o bem a quem nos faz o mal.
A amizade com Luís Comollo crescia a cada dia. Dom Bosco, no futuro, reconhecerá a importância deste amigo em sua trajetória de vida, escrevendo a sua biografia para os jovens do seu oratório, apresentando-o assim como um modelo de vida e de santidade.
Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
Animador das dimensões Vocacional, Missionária e de Evangelização e Catequese da Pastoral Juvenil Salesiana
E-mail: [email protected] / Facebook: www.facebook.com/glaucosdb
ESPAÇO VALCOCCO – CAPÍTULOS
Capítulo 1: Espaço Valdocco: somos Dom Bosco que caminha
Capítulo 2: Um começo de vida marcado pela pobreza e por uma fatalidade
Capítulo 3: Uma mãe corajosa, amorosa e cheia de fé
Capítulo 4: Antônio, José e João: três irmãos muito diferentes
Capítulo 5: O início dos estudos de João Bosco e o começo dos conflitos familiares
Capítulo 6: Um sonho que ficou gravado profundamente na mente
Capítulo 7: Um sonho que é memória e profecia
Capítulo 8: Um sonho que envia um pastor para os jovens
Capítulo 9: Um saltimbanco de Deus
Capítulo 10: Deus tomou posse do teu coração
Capítulo 11: A fúria de Antônio
Capítulo 12: Um lugar com a família Moglia
Capítulo 13: Uma experiência rica de família e trabalho
Capítulo 14: Um tempo para aprender a falar com Deus
Capítulo 15: Um amigo inesperado
Capítulo 16: Um pai para Joãozinho Bosco
Capítulo 17: Um desastre que desfalece as esperanças
Capítulo 18: “O vaqueiro dos Becchi” retorna para a escola
Capítulo 19: Mais dificuldades na escola de Castelnuovo
Capítulo 20: Um amigo para toda a vida
Capítulo 21: “Se eu for sacerdote, serei muito diferente”
Capítulo 22: Férias em Sussambrino
Capítulo 23: O sacrifício de pedir ajuda
Capítulo 24: Chieri, uma cidade repleta de história, piedade e estudos
Capítulo 25: O início dos estudos em Chieri
Capítulo 26: Uma memória extraordinária
Capítulo 27: O cuidado de João em escolher suas amizades
Capítulo 28: A Sociedade da Alegria: uma maneira de evangelizar os colegas
Capítulo 29: O cultivo da espiritualidade na Sociedade da Alegria
Capítulo 30: João Bosco, filho de Maria Santíssima e testemunho da santidade para os seus colegas
Capítulo 31: O ano escolar de 1832-1833: a crisma de João Bosco e a ordenação do Pe. Cafasso
Capítulo 32: O amigo Luís Comollo
Capítulo 33: Um trabalho exigente no Café Pianta
Capítulo 34: Uma presença que causava admiração e fazia a diferença
Capítulo 35: A amizade e a conversão do judeu Jonas
Capítulo 36: Um jovem com muitos talentos e habilidades
Capítulo 37: Crise vocacional de João Bosco e a decisão de fazer-se franciscano
Capítulo 38: “Deus te prepara outro lugar, outra messe”
Capítulo 39: O Pe. Cinzano, instrumento da providência divina no caminho vocacional de João Bosco
Capítulo 40: O dia em que João Bosco recebeu a batina
Capítulo 41: E João finalmente entra no seminário