“O vaqueiro dos Becchi” retorna para a escola

Com a morte do Pe. João Calosso, Joãozinho volta para a sua casa nos Becchi. Mamãe Margarida não queria que o seu enteado Antônio voltasse a criar um clima de guerra dentro de casa. Por isso, propôs a ele a divisão do patrimônio da família.

Além disso, Antônio estava prestes a se casar. Foi um bom motivo para Mamãe Margarida se apoiar para apressar a divisão da herança e assim dar paz para João e toda a família Bosco. Foram divididos os campos e a casa dos Becchi: Antônio com a sua esposa morariam de um lado da casa e Margarida, José e João, do outro lado.

No início de dezembro de 1830, Joãozinho, ainda triste com a morte do Pe. Calosso, deseja voltar para a escola. O problema é que as aulas na escola de Castelnuovo já haviam começado no dia da Festa de Todos os Santos, em novembro. Entretanto, Mamãe Margarida conseguiu realizar a matrícula de seu filho, talvez por influência de seu irmão Miguel, que era muito conhecido em Castelnuovo.

Era uma mudança desconcertante para João. Deixava de ter um professor particular para frequentar uma escola pública. Teve que recomeçar os estudos da gramática italiana, para só depois poder estudar novamente o latim.

Depois, havia o fator da distância da escola. Eram cinco quilômetros que separavam os Becchi de Castelnuovo. A escola possuía dois turnos, três horas pela manhã e três horas de tarde. Com toda a vivacidade dos seus quinze anos, João saía bem cedo de casa, voltava para o almoço e depois voltava para a escola à tarde. Eram 20 quilômetros de caminhada por dia, um ritmo que não era possível manter por muito tempo.

Seu tio Miguel novamente lhe ajuda, conseguindo uma semi-pensão na casa de João Roberto, alfaiate e músico de Castelnuovo. João ia para lá na hora do almoço, para comer o que levava de casa em sua marmita.

Mesmo assim, a caminhada era dura. De vez em quando, enfrentava a chuva ou a neve. Mas sempre com rosto tranquilo e sereno. Quando a neve apertava demais, não dava para voltar para a casa. Então o senhor João Roberto permitia que Joãozinho Bosco dormisse no vão da escada da sua casa. Depois de um tempo, Mamãe Margarida procurou o alfaiate para que ele pudesse dar pensão completa ao seu filho. Ela pagaria com dinheiro ou com vinhos e cereais. A partir desse dia, Joãozinho passaria a dormir todos os dias no vão da escada e ter direito a uma sopa quente no almoço e no jantar.

Outra dificuldade que João enfrentou na escola foi a adaptação com os seus novos colegas. Todos eles possuem 10 ou 11 anos, enquanto João já tinha 15. Zombavam dele por causa de vir de um lugar simples como os Becchi e também por causa da roupa que usava, um jaquetão desproporcional ao seu tamanho e um sapato bastante grosseiro. Seu apelido na escola era “vaqueiro dos Becchi”.

É realmente muito ruim não se sentir acolhido em algum lugar. Podemos imaginar o quanto Joãozinho sofreu neste período de sua vida, ele que era tão admirado em sua terra e pelos amigos de Morialdo e de Moncucco.

Teve, no entanto, a sorte de encontrar um professor que tinha muita estima por ele e que o ajudou muito. Era o Pe. Manuel Virano. Gentil e competente, era dotado de uma rara habilidade para lecionar, possuía grande entrada com os alunos. Sabia distribuir muito bem o tempo da aula e dar lições adequadas para o ritmo de cada aluno.

Com ele, João retomou a motivação para os estudos e empenhou-se pra valer. Os seus progressos eram tão visíveis que chamavam a atenção de seu professor. Certo dia, João escreveu uma redação tão boa que os professores da escola chegaram a duvidar se era ele mesmo o autor do trabalho. O Pe. Virano, após ler o trabalho para toda a classe, disse:

– Quem sabe escrever assim pode também dar-se o luxo de calçar-se como um vaqueiro. O que vale na vida não é o sapato, mas o cérebro.

Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
Animador das dimensões Vocacional, Missionária e de Evangelização e Catequese da Pastoral Juvenil Salesiana
E-mail:   [email protected] / Facebook: www.facebook.com/glaucosdb

 

ESPAÇO VALCOCCO – CAPÍTULOS

Capítulo 1: Espaço Valdocco: somos Dom Bosco que caminha

Capítulo 2: Um começo de vida marcado pela pobreza e por uma fatalidade

Capítulo 3: Uma mãe corajosa, amorosa e cheia de fé

Capítulo 4: Antônio, José e João: três irmãos muito diferentes

Capítulo 5: O início dos estudos de João Bosco e o começo dos conflitos familiares

Capítulo 6: Um sonho que ficou gravado profundamente na mente

Capítulo 7: Um sonho que é memória e profecia

Capítulo 8: Um sonho que envia um pastor para os jovens

Capítulo 9: Um saltimbanco de Deus

Capítulo 10: Deus tomou posse do teu coração

Capítulo 11: A fúria de Antônio

Capítulo 12: Um lugar com a família Moglia

Capítulo 13: Uma experiência rica de família e trabalho

Capítulo 14: Um tempo para aprender a falar com Deus

Capítulo 15: Um amigo inesperado

Capítulo 16: Um pai para Joãozinho Bosco

Capítulo 17: Um desastre que desfalece as esperanças

Capítulo 18: “O vaqueiro dos Becchi” retorna para a escola

Capítulo 19: Mais dificuldades na escola de Castelnuovo

Capítulo 20: Um amigo para toda a vida

Capítulo 21: “Se eu for sacerdote, serei muito diferente”

Capítulo 22: Férias em Sussambrino

Capítulo 23: O sacrifício de pedir ajuda

Capítulo 24: Chieri, uma cidade repleta de história, piedade e estudos

Capítulo 25: O início dos estudos em Chieri

Capítulo 26: Uma memória extraordinária

Capítulo 27: O cuidado de João em escolher suas amizades

Capítulo 28: A Sociedade da Alegria: uma maneira de evangelizar os colegas

Capítulo 29: O cultivo da espiritualidade na Sociedade da Alegria

Capítulo 30: João Bosco, filho de Maria Santíssima e testemunho da santidade para os seus colegas

Capítulo 31: O ano escolar de 1832-1833: a crisma de João Bosco e a ordenação do Pe. Cafasso

Capítulo 32: O amigo Luís Comollo

Capítulo 33: Um trabalho exigente no Café Pianta

Capítulo 34: Uma presença que causava admiração e fazia a diferença

Capítulo 35: A amizade e a conversão do judeu Jonas

Capítulo 36: Um jovem com muitos talentos e habilidades

Capítulo 37: Crise vocacional de João Bosco e a decisão de fazer-se franciscano

Capítulo 38: “Deus te prepara outro lugar, outra messe”

Capítulo 39: O Pe. Cinzano, instrumento da providência divina no caminho vocacional de João Bosco

Capítulo 40: O dia em que João Bosco recebeu a batina

Capítulo 41: E finalmente João entra no seminário

Os Salesianos em SP

Nós, Salesianos de Dom Bosco, somos uma organização internacional de pessoas dedicadas em tempo integral ao serviço dos jovens, especialmente dos mais pobres e abandonados.

Em qualquer lugar trabalhamos o desenvolvimento integral dos jovens, através da educação e da evangelização que está no centro do nosso compromisso.

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