Por Anderson Bueno – Delegado para a Comunicação Social
Dom Bosco, já em seu tempo, sabia da importância que tem a comunicação na vida das pessoas e das organizações. O Papa Pio XI que, como padre conviveu alguns dias com Dom Bosco em Turim, por ocasião da sua canonização em 1934 relatou que o novo santo lhe dissera em terceira pessoa: “Nesses assuntos Dom Bosco quer estar sempre na vanguarda do progresso”.
Naquela ocasião Dom Bosco falava da tipografia que ele utilizava para fins de evangelização e educação e, também, para ensinar um ofício aos seus meninos. Os livros, naquele período, eram o que havia de mais moderno e permitiam, como o próprio Dom Bosco afirmou, entrar “mesmo em lares onde não entra o sacerdote”.
Dom Bosco sabia que, tão importante quanto comunicar para dentro – e como se comunicava bem no diálogo, nos gestos, na doçura inspirada em São Francisco de Sales, nos ritos, nos Bons-Dias e Boas-Noites! – era comunicar para fora. Em pleno Iluminismo, quando a religião católica era duramente atacada, lançou as Leituras Católicas. Depois veio o Bibliófilo Católico ou, como é vastamente conhecido, o Boletim Salesiano. Isso para citar as publicações mais conhecidas. “Quantas almas foram salvas por bons livros, quantas preservadas do erro, quantas incentivadas a fazer o bem! Quem dá um bom livro, não tivesse outro mérito além de despertar um pensamento de Deus, já teria conquistado merecimento incomparável junto dele” , dizia na carta enviada aos salesianos em 1885, mesmo ano da fundação do Liceu Coração de Jesus, segunda casa salesiana do Brasil.
Os livros não perderam a sua importância, mas deixaram de ser a vanguarda da comunicação. É necessário continuar evangelizando-educando por meio dos livros, que hoje podem ser disponibilizados também nas versões digitais, mas a comunicação e, com ela a sociedade como um todo, evoluíram de tal forma, que se a Congregação não buscar estar, assim como o seu fundador, na vanguarda, corre o risco ficar obsoleta e não conseguir mais dialogar com os jovens que são o objeto da sua missão. Quantos meios vieram depois dos livros! A rádio, a televisão, a internet e, com elas, as mídias sociais, transformadas em redes, uma virtualização do real, um novo ambiente, novos pátios!
É certo que não basta e nunca deverá bastar contentar-se com a propagação de informações pelos meios de comunicação social. Não basta escrever o comentário do Evangelho ou postar imagens com frases bonitas nas redes sociais. Não basta falar com eloquência pelas ondas na rádio ou transmitir simpatia pela televisão. É preciso ter a intencionalidade de fazer-se presente no mesmo ambiente em que os jovens estão, a fim de se relacionar com eles, de acompanhá-los, como bem escreve o Reitor-Mor em sua Estreia . É preciso fugir da tentação de alimentar o ego para focar na eficiência do serviço prestado em favor dos jovens e do Reino. “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mt20, 28).
Fazer-se presente nos meios de comunicação também não pode e não deve excluir a mais importante forma salesiana de se comunicar com os jovens: estar no pátio. Os pátios virtuais são extremamente importantes, mas nada substitui a mídia primária, o contato direto, olhos nos olhos, a familiaridade. “Familiaridade com os jovens especialmente no recreio, sem familiaridade não se demonstra afeto, e sem essa demonstração não pode haver confiança. Quem quer ser amado deve demonstrar que ama. O mestre visto apenas na cátedra é mestre e nada mais, mas, se está no recreio com os jovens torna-se irmão…”, disse Dom Bosco.
Mas assim como pensou Dom Bosco, a comunicação salesiana não pode ser voltada apenas para os jovens, mas deve ter sempre, como pano de fundo, a evangelização e a educação. Isso significa que é importante comunicar para outros públicos não menos importantes o que fazemos de bom por meio do jornalismo, da publicidade, do radialismo, das relações públicas, do cinema, do teatro, da música, da dança e de tantas outras formas para, assim, atrairmos mais jovens, mais benfeitores, mais parceiros que nos ajudem a manter nossas obras sociais, mais visibilidade para nossas paróquias, nossas escolas, nossas instituições de ensino superior, para continuarmos e ampliarmos a nossa missão, que é também missão da Igreja.
Um ditado popular muito falado no ramo da publicidade afirma que “quem não é visto não é lembrado”. Não se trata de ferir o princípio bíblico da discrição ao ser fazer caridade (Mt 6, 4), mas de buscar cumprir o pedido de Jesus de ir e anunciar o Evangelho a toda criatura (Mc 16, 15). Daí a importância de qualificarmos os nossos conteúdos e realizarmos uma comunicação em forma de sistema, como pede o Dicastério da Comunicação , cooperativa e em rede, como uma extensão da nossa vida em comunidade.
Se nos comunicarmos bem, significa que estaremos evangelizando bem, educando bem, fazendo o bem. E se fizermos o bem, os jovens ficarão felizes, os santos ficarão felizes, Deus ficará feliz.
Referências
ARTIME, Ángel Fernández. Estreia 2018 – Cultivemos a Arte de Escutar e Acompanhar. Brasília: Editora Edebê Brasil, 2018.
Carta de Dom Bosco aos Salesianos em 19 de março de 1885. – In: Lettere circolari di d. Bosco e di d. Rua ed altri loro scritti ai salesiani. Torino: Tipografia Salesiana, 1896, p.24-29.
CERIA, Eugenio. Memorie Biografiche di Don Giovanni Bosco. vol. 16, 1935, p.320.
Sistema Salesiano de Comunicação Social – Diretrizes para a Congregação Salesiana. Direzione Generale Opere Don Bosco. Tradução, Dom Hilário Moser. Série Literatura Salesiana. Rede Salesiana Brasil. Brasília, 2011.