Por Anderson Bueno
Em 1993, Pe. Evaristo Higa aceitou um chamado para realizar um trabalho de três anos com trabalhadores brasileiros no Japão. Sua missão seria realizada na cidade Hamamatsu, na província de Shizuoka mas a comunidade salesiana mais próxima ficava em Kawasaki, na província de Kanagawa, há cerca de 250 quilômetros de distância. Hamamatsu é uma cidade industrial, por exemplo, das empresas Honda, Suzuki, Yamaha e Panasonic e, por isso, possui muitos operários brasileiros.
Frente ao desafio de mais de 5 horas de deslocamento diários, Pe. Higa foi então morar em seu local de missão, a Paróquia São Francisco de Assis e lá começou a celebrar missas em português. Após três meses de sua chegada a paróquia foi transferida para o interior da cidade e lá foi-se junto o padre e seu coração missionário.
Foi um começo difícil. Pe. Higa morou mais de dez anos sozinho, longe da comunidade salesiana. “Era uma paróquia japonesa, eu comecei as missas em português, não havia nada e português e eu comecei a rezar a missa em português nessa paróquia. Mas a paróquia foi transferida para a periferia da cidade, onde não chegava nem ônibus, aliás, não chega ainda hoje, é distante. Eu conversei com o bispo, então o bispo me permitiu morar em um apartamento. Morava no centro, perto da estação e a ali fazia todas as atividades, catequese, preparação para o Batismo… Morava nessa cidade mas não somente atendia essa cidade, atendia outras onze cidades”.
Pe. Higa organizou pastoralmente a paróquia, intensificou o trabalho com os imigrantes e criou um projeto tão ou mais significativo: o Grupo Esperança, um trabalho com moradores em situação de rua. “O primeiro choque que tive e que talvez muitas pessoas não saibam, e eu também não sabia, são os moradores de rua. A miséria de parte do Japão, isso eu desconhecia. E quando me ligou um senhor me dizendo que tinha um brasileiro morando na rua, me perguntando se eu podia ir com ele (atendê-lo) para acompanhar por que ele não falava português, na primeira vez que andei na rua junto com ele o que me impressionou eram japoneses na rua, dormindo na rua. Outra vez nós fomos buscando brasileiros e não encontramos. Aí comecei a falar na missa que tínhamos que fazer alguma coisa, aí comecei um trabalho e colocamos o nome de Grupo Esperança”. O trabalho começou logo que Pe. Higa chegou ao Japão, em 1994, e continua até hoje oferecendo alimentação a pessoas em situação de rua.
Em 2001, Pe. Higa iniciou lentamente um processo de transição da paróquia da diocese para os salesianos. “Morei onze, doze anos sozinho. Como não havia salesianos eu insistia muito que os salesianos pudessem trabalhar com os estrangeiros porque era uma missão de Dom Bosco, ele trabalhava cuidava dos jovens operários, então era uma missão salesiana. Depois de tantos anos a inspetoria do Japão optou por trabalhar com os estrangeiros”. Em 2007 a comunidade salesiana de Hamamatsu foi criada canonicamente, chegaram outros salesianos e, em 2010 foi inaugurado o centro pastoral da paróquia, abençoado pelo bispo de Yokohama, Dom Raphael Uemura.
O tempo que era para ser de três anos se estendeu por muitos mais. Vinte e três anos depois e deixando um legado, Pe. Higa retorna a São Paulo, sua inspetoria de origem. Após passar algumas semanas descansando com a família, assume a função de vice-diretor na comunidade salesiana do Instituto do Coração Eucarístico, em Pindamonhangaba, que compreende o Aspirantado Salesiano, onde outrora foi professor do atual inspetor, Pe. Edson Castilho, o centro social, oratório festivo e igreja pública.