O Programa de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto dos Salesianos São Carlos promoveu, dias 3 e 4 de outubro, o III Seminário Adolescências e Juventudes com o tema: Direitos, Conflitos e Potencialidades. O evento foi sediado pelo SENAC – São Carlos, um dos parceiros do evento junto com o SESC e a Prefeitura de São Carlos.
Vivências e experiências na área de juventude levaram às rodas de discussões profissionais das mais diversas áreas como: educação, psicologia, direito, saúde e até mesmo culinária em âmbito da profissionalização. Mas não foram só profissionais de meios acadêmicos que tiveram voz nesse III Seminário, os jovens assistidos pelas medidas também se pronunciaram frente ao público estimado em mais de 150 participantes. Entre as apresentações culturais propostas por eles houve também as trocas de experiências vivenciadas dentro e fora do Programa de Medidas. Ocorreram também manifestações artísticas culturais que incluíram o grupo de teatro Coletivo Retalho, MC Rafa Gon Salves e apresentações musicais dos próprios adolescentes.
Abaixo segue um bate-papo com a coordenadora do Programa de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto, Thauana Letícia Felício (TF), e a Equipe de Comunicação dos Salesianos de São Carlos (EC).
(EC) Qual a emergência de levantar entre a comunidade acadêmica e não acadêmica o tema proposto para o III Seminário?
(TF) Compreendemos que a socioeducação se faz juntamente aos adolescentes e famílias nos atendimentos desenvolvidos no programa de medidas, mas concomitantemente deve ser realizada “extramuros”, enquanto forma de conscientização da sociedade acerca da importância da articulação dos serviços, comunidade, universidade, profissionais e estudantes no cuidado aos adolescentes, considerados em situação peculiar de desenvolvimento, que acabam se envolvendo com a prática infracional. Partimos da premissa de que todo individuo é responsável pela educação dos adolescentes, enquanto papel social, e que deve se responsabilizar na promoção do acesso a direitos básicos, enfrentamento de estigmas e participação social desses indivíduos, visando reduzir as desigualdades sociais.
(EC) Na sua apresentação você falou sobre a construção conjunta de uma utopia, qual seria esse sonho?
(TF) O sonho da equipe que atua junto aos adolescentes em prática infracional, e me incluo nela, é de que os mesmos possam ser tratados pela sociedade enquanto SERES HUMANOS, possam acessar seus direitos básicos, não vivenciar as diversas formas de violência a que são constantemente expostos e possam sonhar. Nossa utopia é a de que os adolescentes em acompanhamento possam viver a realidade.
(EC) Como você sente a participação dos assistidos no III Seminário?
(TF) A participação dos adolescentes, ao meu ver, foi a parte principal deste seminário. Visto que apesar de buscarmos sempre ser a voz dos mesmos e trazer a discussão o que vivenciamos junto a estes, poder contar com a fala provinda deles torna o som dessa voz mais autêntico e com maior potencial de sensibilização. Além disso, para os adolescentes, estar presente no Seminário representou o protagonismo, reconhecimento, despertar de diferentes habilidades e segundo os mesmos “Dona, me senti importante. Visível”.
(EC) Quais foram as dificuldades para a construção desse terceiro seminário?
(TF) As maiores dificuldades consistiram no desenvolvimento dos trabalhos mais práticos, tais como a divulgação, confecção de artes gráficas, forma de inscrição, organização de horário de palestrantes, entre outros. Essas são multiplicadas em meio a uma rotina de trabalho que intensa e densa, na qual temos que lidar com as histórias e experiências diárias da violência, negligência, dor.
(EC) Quais as certezas podemos ter pós Seminário?
(TF) Gostaria de poder ter apenas a certeza de ter sensibilizado as pessoas presentes a lidar com a adolescência que comete atos infracionais de forma mais igualitária, humana e acolhedora; mas não há posso ter. Fico então com a certeza de que atingimos nosso objetivo de trazer a discussão às pautas supracitadas, trazer a tona, tirá-las debaixo do pano que as esconde. A certeza de ter proporcionado aos adolescentes dois dias de diferentes sentimentos, vivencias e histórias saudáveis.
(EC) Nós podemos ter a certeza de um IV Seminário?
(TF) Podemos sim. Acredito que apesar de toda dificuldade e estafa, o evento é de extrema importância para a temática, o programa de medidas e principalmente os adolescentes. A data prevista é 2021.