Mamãe Margarida encontra-se em uma situação muito difícil. De um lado, ela tem um desejo enorme de incentivar Joãozinho em seus estudos, sobretudo para que veja ele realizar seu ideal de ser padre. Por outro, já não conseguia mais contornar a intransigência de Antonio, que cada vez mais se opunha à possibilidade de João voltar à escola e que, já com 19 anos, tinha propensão em maltratar o irmão menor de apenas 12 anos. Além disso tudo, a frágil situação econômica da família era um obstáculo que criava ainda mais dificuldades para o caçula de casa estudar.
É quando Margarida toma uma das decisões mais difíceis de sua vida: a de mandar seu filho Joãozinho Bosco sair de casa, em busca de uma situação que lhe dê mais oportunidades para continuar os estudos. Antônio proibiu que Margarida enviasse qualquer ajuda ao menino neste período que estivesse fora.
Primeiro, passará um tempo com uns amigos da Casa Câmpora, que ficava na Serra de Buttigliera, perto da casa de João. Ali ele foi acolhido e hospedado com uma sincera amizade de amigos de sua mãe. No entanto, era inverno, e João pouco poderia ajudar nos trabalhos daquela casa. Por isso, ficou pouco por ali.
Em Murialdo, foi a outra família de conhecidos. Ali suplicou que lhe dessem um trabalho para poder ganhar seu pão: mas foi inútil. Ouviram seus problemas, compadeceram-se de seus dramas que lhe obrigavam a buscar um abrigo, mas não o receberam.
Não havia mais esperança, senão a casa da família Moglia, que ficava perto da cidade de Moncucco. A família Moglia conhecia Mamãe Margarida apenas pela sua fama de bondade. Eles eram ricos; diferente da família Bosco, que era extremamente pobre.
Joãozinho Bosco chegou ali no início de 1828, ao entardecer de um certo dia. Encontrou primeiro com um tio paterno do dono da casa, chamado José Moglia, que lhe disse: “Olá, para onde vai?”.
“Estou buscando um patrão para quem trabalhar”, respondeu o pequeno Bosco.
“Muito bem!”, respondeu o sr. José, despedindo-se.
João ficou por um instante confuso, perplexo; mas depois, recobrando o ânimo, entrou no terreno da casa, no lugar onde estava toda a família Moglia. Apenas o dono da casa lhe viu, já disse: “Está procurando quem, garoto?”.
“Procuro Luís Moglia”, respondeu.
“Sou eu. O que deseja?”.
“Minha mãe me disse que poderia procurá-lo para conseguir um trabalho de vaqueiro”.
“E quem é a tua mãe? E por que mandou você para fora de casa tão pequeno assim?”.
“Minha mãe se chama Margarida Bosco; como meu irmão Antônio me atormenta e quase sempre me bate, me disse ontem: ‘pegue este par de camisas e este par de lenços e vá a Bausone (uma pequena vila, perto de Chieri) e busca um trabalho de criado; e, se não encontrar, vá até a Granja Moglia, pergunte ali pelo dono e diga que é sua mãe que te manda ali e espero que ele te admita”.
“Pobre menino”, respondeu Luís Moglia, “não posso lhe admitir como criado; estamos no inverno e os vaqueiros que tinha já dispensei; só vamos admiti-los de novo depois da Festa da Anunciação. Tenha paciência e volte para a sua casa”.
“Admita-me, por favor! Não precisa me pagar, apenas me deixe ficar aqui com vocês!”.
“Não quero que fiques. Não vai me servir para nada”.
E eis que com essa resposta, Joãozinho começou a chorar e a repetir: “Admita-me, admita-me…”. Até um momento em que sentou no chão e disse: “Daqui não sairei, nem irei me mexer. Não vou sair daqui”.
Com estas palavras, a Sra. Dorotea Moglia se sentiu comovida com a situação de João e convenceu seu marido a aceitá-lo em casa pelo menos por alguns dias. Luís Moglia aceitou. Então, uma irmã de Luís, chamada Teresa, de apenas 15 anos, que não era contente por ter que cuidar do gado da casa, disse: “que este menino se encarregue de cuidar das vacas e dos bois; eu já tenho idade e força para ir ao campo e trabalhar com vocês”. A todos pareceu uma boa ideia. E Joãozinho se dedicou totalmente aos trabalhos próprios de um empregado do campo e a cuidar do estábulo.
Anos mais tarde, falando sobre este tempo de sua vida, Dom Bosco dirá que aquela foi a época mais bonita e romântica de sua vida, quando sozinho saiu para buscar a sorte no mundo. Entretanto, não quis deixar mais detalhes sobre este momento de sua vida. Tampouco deixou registrado em suas Memórias. Talvez por seu respeito à sua mãe ou por um temor de que sua decisão extrema fosse mal interpretada no futuro.
Na semana que vem, vamos saber mais sobre este tempo tão importante para de trabalho, de sadia convivência família e de profundo amadurecimento humano e cristão para João Bosco.
Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
Animador das dimensões Vocacional, Missionária e de Evangelização e Catequese da Pastoral Juvenil Salesiana
E-mail: [email protected] / Facebook: www.facebook.com/glaucosdb
ESPAÇO VALCOCCO – CAPÍTULOS
Capítulo 1: Espaço Valdocco: somos Dom Bosco que caminha
Capítulo 2: Um começo de vida marcado pela pobreza e por uma fatalidade
Capítulo 3: Uma mãe corajosa, amorosa e cheia de fé
Capítulo 4: Antônio, José e João: três irmãos muito diferentes
Capítulo 5: O início dos estudos de João Bosco e o começo dos conflitos familiares
Capítulo 6: Um sonho que ficou gravado profundamente na mente
Capítulo 7: Um sonho que é memória e profecia
Capítulo 8: Um sonho que envia um pastor para os jovens
Capítulo 9: Um saltimbanco de Deus
Capítulo 10: Deus tomou posse do teu coração
Capítulo 11: A fúria de Antônio
Capítulo 12: Um lugar com a família Moglia
Capítulo 13: Uma experiência rica de família e trabalho
Capítulo 14: Um tempo para aprender a falar com Deus
Capítulo 15: Um amigo inesperado
Capítulo 16: Um pai para Joãozinho Bosco
Capítulo 17: Um desastre que desfalece as esperanças
Capítulo 18: “O vaqueiro dos Becchi” retorna para a escola
Capítulo 19: Mais dificuldades na escola de Castelnuovo
Capítulo 20: Um amigo para toda a vida
Capítulo 21: “Se eu for sacerdote, serei muito diferente”
Capítulo 22: Férias em Sussambrino
Capítulo 23: O sacrifício de pedir ajuda
Capítulo 24: Chieri, uma cidade repleta de história, piedade e estudos
Capítulo 25: O início dos estudos em Chieri
Capítulo 26: Uma memória extraordinária
Capítulo 27: O cuidado de João em escolher suas amizades
Capítulo 28: A Sociedade da Alegria: uma maneira de evangelizar os colegas
Capítulo 29: O cultivo da espiritualidade na Sociedade da Alegria
Capítulo 30: João Bosco, filho de Maria Santíssima e testemunho da santidade para os seus colegas
Capítulo 31: O ano escolar de 1832-1833: a crisma de João Bosco e a ordenação do Pe. Cafasso
Capítulo 32: O amigo Luís Comollo
Capítulo 33: Um trabalho exigente no Café Pianta
Capítulo 34: Uma presença que causava admiração e fazia a diferença
Capítulo 35: A amizade e a conversão do judeu Jonas
Capítulo 36: Um jovem com muitos talentos e habilidades
Capítulo 37: Crise vocacional de João Bosco e a decisão de fazer-se franciscano
Capítulo 38: “Deus te prepara outro lugar, outra messe”
Capítulo 39: O Pe. Cinzano, instrumento da providência divina no caminho vocacional de João Bosco
Capítulo 40: O dia em que João Bosco recebeu a batina
Capítulo 41: E finalmente João entra no seminário