Realizado de 24 a 26 de junho, o II Congresso Salesiano de Educação Infantil reuniu 380 educadores de todo o país para refletir sobre o tema “Ampliando o olhar para a abordagem educativa de Reggio Emilia”, proposta educativa que inspirou a Coleção Girolhar. Foram três dias de muito aprendizado e partiha de conhecimentos.
Cerca de 380 educadores, de todos os polos da Rede Salesiana Brasil de Escolas, se reuniram entre os dias 24 e 26 de junho, para o II Congresso Salesiano de Educação Infantil. Com o tema “Ampliando o olhar para a abordagem educativa de Reggio Emilia”, o evento foi voltado para aprofundar a formação de professores e equipes pedagógicas da Educação Infantil e, além disso, constituiu uma oportunidade para a reflexão conjunta, a troca de experiências e o fortalecimento da Rede em âmbito nacional. O Congresso foi realizado pela RSB-Escolas no Colégio Salesiano Santa Teresinha, em São Paulo, SP, com o apoio da Editora Edebê.
“Neste ano nós implantamos a Coleção Girolhar, que foi desenvolvida pela Editora Edebê e é inspirada pela abordagem Reggio Emilia. Percebemos a necessidade de ampliar toda a fundamentação teórica dos educadores sobre essa abordagem e, também, refletir sobre como ela é colocada em prática na organização dos ambientes educativos e o porquê de determinadas escolhas feitas na coleção”, explica Ana Paula Costa e Silva, diretora executiva da RSB-Escolas.
A formação do olhar
A conferência de abertura, sobre “Pedagogia da infância: linguagens, interações e significados”, foi proferida pela Dra. Emília Cipriano Sanches, do Instituto Aprender a Ser e considerada uma das maiores especialistas em Educação Infantil no Brasil. “Ter a Drª Emília Cipriano em nosso evento é uma riqueza muito grande para a RSB-Escolas. Ela é uma pessoa apaixonada pela educação e traz grandes contribuições na área de concepção da infância, além de humanizar a educação”, diz a irmã Adair Aparecida Sberga, diretora-executiva da RSB-Escolas.
Emília Cipriano falou sobre o papel marcante que a professora ou o professor de Educação Infantil tem na vida dos alunos, e como o seu olhar e a sua escuta podem ser determinantes na formação da criança. Ela ressaltou também que essa “formação” não significa “colocar em uma forma” ou moldar, mas sim uma “forma de ação”, que incentiva o protagonismo do aluno desde a primeira infância – algo muito presente tanto na educação salesiana, quanto na proposta de Reggio Emilia.
“A iniciativa de um congresso dessa natureza é de grande contribuição para as crianças desse país no que se refere a abrir cada vez mais a possibilidade de fazer uma Educação Infantil com intencionalidade”, considera. Para ela, a importância da iniciativa vai além do conteúdo discutido: “O evento é inspirado em Reggio Emilia, mas também traz os educadores do país inteiro para compartilharem os seus olhares, as suas intenções, suas concepções. A Rede está de parabéns, acho que é um momento ímpar e essa convivência é fundamental: nunca se precisou tanto fortalecer redes humanas como no momento que nós estamos vivendo hoje”, afirma ela.
Olhar a criança como protagonista
Para aprofundar o tema do congresso, foram convidadas as professoras italianas de Reggio Emilia, Marina Castagnetti e Paola Strozzi. Elas conduziram uma verdadeira jornada de estudos que incluiu o conhecimento da história e dos projetos da “Cidade Educadora” italiana que é uma referência mundial na educação de crianças de 0 a 6 anos. A Reggio Emilia adota uma proposta educativa que, entre outros pontos, entende a criança como protagonista no processo de desenvolvimento e aprendizado; valoriza as linguagens (verbais e não verbais) e as potencialidades da criança; e é baseada em processos de participação, escuta e aprendizado em grupo.
As professoras fazem parte da “Reggio Children”, que há 25 anos atua na área de formação de professores e pedagogos em todo o mundo. “Trabalhamos na divulgação daquilo que é a experiência das crianças de Reggio Emilia para potencializar, comunicar e construir, de acordo com as especificidades em cada cultura, aqueles que são os direitos e as potencialidades de todas as crianças”, afirma Castagnetti. Atualmente, a experiência educativa “reggiana” dialoga com 142 países e territórios em todo o mundo, sendo que 34 desses países fazem parte da “Rede” Reggio Children.
Durante o Congresso, as palestrantes focaram bastante em questões como a importância da documentação; a necessidade de ter ambientes educativos que incentivem a imaginação, a criatividade e o aprender; e a cultura do pensamento e do agir projetual. “Algo importante para ressaltar é que a experiência educativa de Reggio Emilia não é um método, é um projeto – o que, em nossa língua italiana, implica em um conceito aberto, que permite possibilidades de interpretação”, considera Marina.
Paola, que conheceu a pedagogia salesiana quando criança, ao participar do Oratório mantido pelas Filhas de Maria Auxiliadora em sua cidade natal, reforça as afinidades com a proposta educativa de Reggio Emilia. “A experiência salesiana na educação é feita de atenção aos jovens, sobretudo os mais frágeis. Penso em Dom Bosco, que ia trabalhar nos cárceres, que se cercava dos garotos pobres para que construíssem algo ‘juntos’, e não com uma educação doutrinadora ou impositiva. Esse fazer do educador ‘junto’ com a criança é algo importante para nós”.
Múltiplos olhares
Essa forma de ver a criança já é muito clara na Educação Infantil das escolas salesianas. Ao serem questionadas sobre o que significa ser uma educadora salesiana, as professoras Fernanda Canale, Cristiane Siqueira, Luciana Camelo, do Instituto Madre Mazzarello de São Paulo, SP, respondem prontamente: “Ser educadora salesiana é enxergar na criança um diferencial, é vê-la como protagonista no processo educativo, capaz de idealizar e de construir coisas”.
Para Felipe Mesquita e Felipe Souza, ambos coordenadores pedagógicos no programa de educação bilíngue dos colégios Castelo, em Rio das Ostras, e Laura Vicunha, em Campos dos Goytacazes, RJ, a escola salesiana tem como diferenciais a acolhida, o afeto, a escuta atenta da criança e o incentivo à sua autonomia. Características que foram reforçadas com a Coleção Girolhar, inspirada na proposta educativa da Reggio Emilia. “No Congresso podemos aprofundar a formação sobre o material didático que a escola salesiana adota para a Educação Infantil, que está conectado com o que a gente faz também no curso bilíngue”, ressalta Mesquita.
“É uma oportunidade maravilhosa de aprimorar o conhecimento, de ter uma visão mais ampla sobre a Educação Infantil e sobre a própria Coleção Girolhar”, consideram as professoras Daiane Dias e Silbene Lara, do colégio Salesiano Santo Antônio de Cuiabá, MT. A opinião é reforçada pela coordenadora pedagógica de Educação Infantil e Fundamental I da escola, Liliana: “Nós temos poucos eventos voltados para a Educação Infantil. Participo de vários cursos e congressos para o Fundamental I, mas para a Educação Infantil não tem. A Rede Salesiana Brasil está indo em um caminho muito importante, especializando e abrindo oportunidades para as professoras e coordenadoras da Educação Infantil”.
Olhar em rede
Leoneide Rodrigues, assessora pedagógica da Rede Salesiana, destaca que, além da inspiração da Coleção Girolhar com a proposta Reggio Emilia, ela mantém os fundamentos da educação salesiana e está em conformidade com a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “A Coleção Girolhar tem sido um grande sucesso. A palavra é ‘encantamento’ com um material didático que envolve de forma muito consistente o sistema preventivo na educação integral, no desenvolvimento da pessoa e em elementos como o acolhimento e o respeito aos direitos da criança; que tem toda essa inspiração na Reggio Emilia e que já traz, bem antes do que a própria lei prevê, um alinhamento pleno com a BNCC”.
“A intencionalidade pedagógica de cada formação sobre a Girolhar e de cada ação é muito presente. O encantamento sobre essa coleção, por parte dos pais, da comunidade educativa e das crianças, é algo visível”, concorda Margarete W. Simões Pires, responsável pelo Laboratório de Avaliação e Pesquisa da RSB-Escolas e da Editora Edebê. O LAP acompanha todas as formações realizadas desde a concepção da Girolhar, avaliando e fortalecendo esse verdadeiro trabalho em rede que envolve a RSB, a Edebê, as escolas e a comunidade na proposta salesiana para a Educação Infantil.
Ana Cosenza – Boletim Salesiano