Todos sabemos que Dom Bosco é muito conhecido também pelos seus muitos sonhos que, assim como aconteceu com este primeiro sonho aos nove anos, orientou o caminho da sua vida e da sua missão.
O sonho é um mecanismo natural que permite aos seres humanos restaurar a energia física e reorganizar a vida psíquica. Todos sonhamos embora nem sempre nos lembremos dos sonhos. Eles carecem de unidade lógica, de clareza em seus conteúdos e mensagens. Apresentam-se como fenômenos autônomos da intencionalidade do sujeito que os tem.*
Isto parece não acontecer em Dom Bosco. Suas narrações são claras e processuais, frutos de um pensamento organizado e racional. Esta também era uma virtude extraordinária de nosso santo fundador. De modo que podemos até chegar ao extremo de dizer que não se pode compreender Dom Bosco por inteiro, se deixarmos de lado os seus sonhos. “Falar de Dom Bosco sem os seus sonhos é como falar de Jesus sem as suas parábolas” (Fausto Jiménez).
Todos os sonhos convergem em um mesmo tema dominante: a salvação da juventude. Temos documentados mais de 170 sonhos de Dom Bosco. O primeiro é este que estamos estudando nestas semanas, que aconteceu quando ele tinha entre nove e dez anos. O último foi no final de novembro de 1887, aos 72 anos, dois meses antes de morrer.
Como já dissemos, Dom Bosco nem sempre deu a atenção devida aos seus sonhos. Ele passou a dar valor para eles a medida que se passavam os anos até chegar em um momento em que não duvidava mais daquilo que sonhava. Dom Bosco só narrou o seu primeiro sonho em 1858, ao Papa Pio IX, mais de trinta anos depois dele ter acontecido.
Provavelmente, o sonho dos nove anos aconteceu perto da festa da Anunciação em 25 de março. Algumas imagens que aparecem no sonho podem ter sido influencias pela pregação do Jubileu proclamado pela Igreja naquele ano. O papa Leão XII havia convidado a todos para uma reflexão sobre o serviço pastoral do Papa, dos Bispos e dos sacerdotes, buscando aproximá-los mais das necessidades espirituais do povo de Deus. Dom Colombano Chiaverotti, arcebispo de Turim entre 1819 a 1832, dizia que “todo padre deveria ser um bom pastor, seguindo o modelo de Jesus”. Temos muitos escritos de Dom Chiaverotti nesta época, na qual a ideia de que o clero deve ser formado por pastores que dão a sua própria vida pelo rebanho aparece constantemente.
No sonho, aparecem para Joãozinho um “homem venerando, nobremente vestido” e uma “senhora de aspecto majestoso, vestida de um manto todo resplandecente como o Sol”. Estes personagens indicam para o ele:
– o seu campo de trabalho (animais selvagens: jovens abandonados e em perigo e perigosos para o meio familiar e social);
– o método educativo (não com pancadas, mas com mansidão, com paciência e caridade);
– as qualidades do educador (saudável, humilde, forte e robusto);
– uma Mestra que ajuda (a Virgem, Nossa Senhora, sua mãe e sua mestra);
– e os frutos (a mudança integral da pessoa, de feras em mansos e felizes cordeiros).
Mamãe Margarida, na fé que este sonho era a manifestação de uma vontade superior e um sinal muito claro da vocação sacerdotal de seu filho, começa a ter um cuidado maior com a sua formação humana e espiritual.
E Joãozinho, por sua vez, mesmo ficando com a opinião de sua avó (que não deveria dar crédito para os sonhos), de uma certa forma começa a colocá-lo em prática, reunindo os seus amigos de brincadeira e os outros pequenos empregados que vivem nos sítios espalhados pela região. É o que começaremos a ver agora: o começo do apostolado de Joãozinho Bosco.
Mas faremos isso depois de uma pequena parada, por conta da Jornada Mundial da Juventude. Nos encontramos novamente na primeira semana de agosto. Que Deus nos abençoe!
* JIMÉNEZ, Fausto. Los sueños de Don Bosco. Editorial CCS, Alcalá – Madrid, 1989.
Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
Animador das dimensões Vocacional, Missionária e de Evangelização e Catequese da Pastoral Juvenil Salesiana
E-mail: [email protected] / Facebook: www.facebook.com/glaucosdb
ESPAÇO VALCOCCO – CAPÍTULOS
Capítulo 1: Espaço Valdocco: somos Dom Bosco que caminha
Capítulo 2: Um começo de vida marcado pela pobreza e por uma fatalidade
Capítulo 3: Uma mãe corajosa, amorosa e cheia de fé
Capítulo 4: Antônio, José e João: três irmãos muito diferentes
Capítulo 5: O início dos estudos de João Bosco e o começo dos conflitos familiares
Capítulo 6: Um sonho que ficou gravado profundamente na mente
Capítulo 7: Um sonho que é memória e profecia
Capítulo 8: Um sonho que envia um pastor para os jovens
Capítulo 9: Um saltimbanco de Deus
Capítulo 10: Deus tomou posse do teu coração
Capítulo 11: A fúria de Antônio
Capítulo 12: Um lugar com a família Moglia
Capítulo 13: Uma experiência rica de família e trabalho
Capítulo 14: Um tempo para aprender a falar com Deus
Capítulo 15: Um amigo inesperado
Capítulo 16: Um pai para Joãozinho Bosco
Capítulo 17: Um desastre que desfalece as esperanças
Capítulo 18: “O vaqueiro dos Becchi” retorna para a escola
Capítulo 19: Mais dificuldades na escola de Castelnuovo
Capítulo 20: Um amigo para toda a vida
Capítulo 21: “Se eu for sacerdote, serei muito diferente”
Capítulo 22: Férias em Sussambrino
Capítulo 23: O sacrifício de pedir ajuda
Capítulo 24: Chieri, uma cidade repleta de história, piedade e estudos
Capítulo 25: O início dos estudos em Chieri
Capítulo 26: Uma memória extraordinária
Capítulo 27: O cuidado de João em escolher suas amizades
Capítulo 28: A Sociedade da Alegria: uma maneira de evangelizar os colegas
Capítulo 29: O cultivo da espiritualidade na Sociedade da Alegria
Capítulo 30: João Bosco, filho de Maria Santíssima e testemunho da santidade para os seus colegas
Capítulo 31: O ano escolar de 1832-1833: a crisma de João Bosco e a ordenação do Pe. Cafasso
Capítulo 32: O amigo Luís Comollo
Capítulo 33: Um trabalho exigente no Café Pianta
Capítulo 34: Uma presença que causava admiração e fazia a diferença
Capítulo 35: A amizade e a conversão do judeu Jonas
Capítulo 36: Um jovem com muitos talentos e habilidades
Capítulo 37: Crise vocacional de João Bosco e a decisão de fazer-se franciscano
Capítulo 38: “Deus te prepara outro lugar, outra messe”
Capítulo 39: O Pe. Cinzano, instrumento da providência divina no caminho vocacional de João Bosco
Capítulo 40: O dia em que João Bosco recebeu a batina
Capítulo 41: E finalmente João entra no seminário