Joãozinho Bosco experimentou tempos de alegria, felicidade e de muito amadurecimento humano e espiritual nos três anos que passou no sítio da família Moglia.
Algumas histórias narradas nas Memórias Biográficas de São João Bosco nos ajudam a resgatar alguns de seus principais aprendizados desta época.
Um dia o velho José, tio de Luís Moglia, ao voltar do campo todo suado e com a enxada no ombro, viu de longe João se ajoelhar para rezar o Angelus. Era meio-dia e o sino da Igreja havia acabado de bater. Joãozinho fazia a oração que aprendeu de sua mãe. Com um tom de ironia, José disse: “Vejam só! Nós, os patrões, nos matamos da manhã à noite e já não aguentamos. E o empregadinho aí, na onda mansa, rezando em santa paz…”
Joãozinho rindo, mas com tom sério, respondeu: “Quando se trata de trabalhar, tio José, o senhor sabe que não me poupo. Mas minha mãe me ensinou que quando se reza, de dois grãos nascem quatro espigas. Se, ao invés, não reza, de quatro grãos nascem só duas espigas. É melhor, portanto, que o senhor também reze um pouco”.
Enquanto cuidava do gado, Joãozinho aproveitava para ler. Luís Moglia não se opunha, mas questionava o motivo de tanta leitura. “Quero ser padre”, respondia João.
O Pe. Pietro Stella, um grande estudioso de salesianidade, também atribui grande valor a este período que João Bosco passou com a família Moglia. Para ele, foi nestes anos que “se radicou de modo mais profundo em João o sentido de Deus e da contemplação”. Durante o trabalho do campo, aproveitava para manter um diálogo constante com Deus. E assim cresceu em sua fé em sua vida de oração e amadureceu o seu discernimento vocacional.
Entretanto, é fácil compreender que apesar de todo o bem-estar de João na casa da família Moglia, o coração de Mamãe Margarida continuava “apertado” por estar longe de seu filho e não poder ampará-lo em um momento tão decisivo de sua vida.
Por isso, ao terminar o contrato de trabalho de João, mandou seu irmão Miguel falar com ele. Perguntou ao menino se ele gostava ou não do sítio dos Moglia.
“Não. Todos me tratam muito bem, mas eu quero estudar. Os anos vão-se passando – já fiz 14 – e continuo parado no mesmo lugar”, respondeu João.
Após seu tio falar com os seus patrões, João preparou a sua trouxa, despediu-se de todos da família Moglia. Haviam se tornado amigos e assim seria pelo resto da vida.
Ao chegar em sua casa nos Becchi, junto com seu tio, foi acolhido com muito carinho por Mamãe Margarida. Ainda houve uma pequena tensão com Antonio, mas não guerra. Afinal seu meio-irmão já tinha completado 21 anos e iria se casar. Uma vez que lhe esclareceram que não teria que pagar pelos estudos e nem pelo sustento de João, não fez mais objeções.
Mas permanece a dúvida de João: o que devo fazer agora? A solução chegou de uma maneira inesperada. E reacendeu todas as esperanças de João. Continuamos na semana que vem.
Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
Animador das dimensões Vocacional, Missionária e de Evangelização e Catequese da Pastoral Juvenil Salesiana
E-mail: [email protected] / Facebook: www.facebook.com/glaucosdb
ESPAÇO VALCOCCO – CAPÍTULOS
Capítulo 1: Espaço Valdocco: somos Dom Bosco que caminha
Capítulo 2: Um começo de vida marcado pela pobreza e por uma fatalidade
Capítulo 3: Uma mãe corajosa, amorosa e cheia de fé
Capítulo 4: Antônio, José e João: três irmãos muito diferentes
Capítulo 5: O início dos estudos de João Bosco e o começo dos conflitos familiares
Capítulo 6: Um sonho que ficou gravado profundamente na mente
Capítulo 7: Um sonho que é memória e profecia
Capítulo 8: Um sonho que envia um pastor para os jovens
Capítulo 9: Um saltimbanco de Deus
Capítulo 10: Deus tomou posse do teu coração
Capítulo 11: A fúria de Antônio
Capítulo 12: Um lugar com a família Moglia
Capítulo 13: Uma experiência rica de família e trabalho
Capítulo 14: Um tempo para aprender a falar com Deus
Capítulo 15: Um amigo inesperado
Capítulo 16: Um pai para Joãozinho Bosco
Capítulo 17: Um desastre que desfalece as esperanças
Capítulo 18: “O vaqueiro dos Becchi” retorna para a escola
Capítulo 19: Mais dificuldades na escola de Castelnuovo
Capítulo 20: Um amigo para toda a vida
Capítulo 21: “Se eu for sacerdote, serei muito diferente”
Capítulo 22: Férias em Sussambrino
Capítulo 23: O sacrifício de pedir ajuda
Capítulo 24: Chieri, uma cidade repleta de história, piedade e estudos
Capítulo 25: O início dos estudos em Chieri
Capítulo 26: Uma memória extraordinária
Capítulo 27: O cuidado de João em escolher suas amizades
Capítulo 28: A Sociedade da Alegria: uma maneira de evangelizar os colegas
Capítulo 29: O cultivo da espiritualidade na Sociedade da Alegria
Capítulo 30: João Bosco, filho de Maria Santíssima e testemunho da santidade para os seus colegas
Capítulo 31: O ano escolar de 1832-1833: a crisma de João Bosco e a ordenação do Pe. Cafasso
Capítulo 32: O amigo Luís Comollo
Capítulo 33: Um trabalho exigente no Café Pianta
Capítulo 34: Uma presença que causava admiração e fazia a diferença
Capítulo 35: A amizade e a conversão do judeu Jonas
Capítulo 36: Um jovem com muitos talentos e habilidades
Capítulo 37: Crise vocacional de João Bosco e a decisão de fazer-se franciscano
Capítulo 38: “Deus te prepara outro lugar, outra messe”
Capítulo 39: O Pe. Cinzano, instrumento da providência divina no caminho vocacional de João Bosco
Capítulo 40: O dia em que João Bosco recebeu a batina
Capítulo 41: E finalmente João entra no seminário