“No estado do Mato Grosso, o capitalismo mais exacerbado se chama ‘agronegócio’ ”, destacam missionários salesianos que atuam em defesa dos Povos Indígenas

03/05/2023
Autor desconhecido

No último mês, celebramos o Dia dos Povos Indígenas e, para comemorar a data, a coluna desta semana traz o relato dos irmãos que atuam diariamente com os povos originários

Por Irmão Mario Bordignon e Irmão Antônio Teixeira 

Desde 1894, os Missionários Salesianos atuam no Mato Grosso. Especialmente, desde 1895, com o Povo Bororo e, a partir de 1952, com o Povo Xavante. Os Bororo, que se autodenominam Bóe, possuem uma população de quase 2 mil pessoas, contendo cinco terras demarcadas, sendo duas em processo de reintegração de posse devido às vendas à revelia da lei. Enquanto isso, o Povo Xavante, que se autodenomina Akwê, possui 7 terras demarcadas, com quase 30 mil pessoas, e é o povo mais numeroso do Estado. 

No Mato Grosso, há cerca de 54 mil indígenas e é um dos maiores estados brasileiros com o maior número de etnias. Quase todas as terras são demarcadas e há uma contribuição significativa dos missionários salesianos, assim como dos jesuítas e leigos, especialmente na década de 1970. O salesiano, Padre Rodolfo Lunkembein, morto por fazendeiros em 1976, foi o primeiro missionário assassinado em defesa das terras e da cultura indígena. É bom lembrar que em 1972, graças ao protagonismo dos missionários de Mato Grosso, nasceu o Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Porém, mesmo com as terras demarcadas, não faltam conflitos como invasões de fazendeiros, madeireiros e garimpeiros. Algumas terras, como as do norte do estado, onde há seis pequenos grupos isolados, livres, ainda precisam ser demarcadas. 

No passado, éramos quase os únicos a trabalhar com estes povos. Hoje, há também vários organismos ligados à igreja ou à sociedade civil, com os quais é mais fácil trabalhar, mas há organismos públicos que mudam de atitudes com as mudanças políticas e isso requer, de nós, um bom jogo de cintura. 

Entretanto, o maior desafio para o missionário salesiano é se adaptar às rápidas mudanças culturais que acontecem entre os povos indígenas, especialmente entre a juventude. A tecnologia e a mídia já chegaram nas aldeias, com seus efeitos bons e ruins. Outro fator é a pressão do capitalismo que exerce nos povos, contrariando o bem viver, a cultura e a espiritualidade. 

No estado do Mato Grosso, o capitalismo mais exacerbado se chama “agronegócio”. Ele já criou divisões entre os próprios povos. O nosso papel é resgatar as tradições econômicas indígenas e conciliá-las com os avanços da agroecologia e da agrofloresta, principalmente com o avanço populacional, garantindo a segurança alimentar.  

Nós, salesianos, temos uma presença missionária na terra de Meruri e uma em Rondonópolis, com um trabalho itinerante nas terras de Jarudóri, Tadarimána, Teresa Cristina e Perigara. Com os Xavantes, temos duas presenças missionárias nas terras de Sangradouro e São Marcos, além de uma residência em Nova Xavantina, com trabalhos itinerantes nas terras de Areiões, Marechal Rondon, Parabubute, Pimentel Barbosa e Maraiwatsêde. 

Nelas, nos sentimos queridos e amados. É uma alegria ver que, apesar dos problemas, a vida indígena tem valores humanos genuinamente evangélicos que também evangelizam os missionários. Constatamos, diariamente, os povos se organizando para defender seus direitos, principalmente o direito da mulher indígena. E o nosso trabalho de missionário é assessorar, dos bastidores, a luta pelos direitos indígenas. 

Editoria: Ana Laet – Comunicação Social ISSP

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