Por que São Francisco de Sales?
Bosco cultivou uma grande devoção e amor para com o Bispo de Genebra, São Francisco de Sales. Não temos dados precisos de como foi o “encontro” de João Bosco com Francisco de Sales. Deve ter acontecido no Seminário, em Chieri. Na época, Francisco era um santo de veneração nacional. É interessante notar que Bosco (1815-1888) e Sales (1567-1622) são conterrâneos, pois nasceram no mesmo “país”, ou seja, no Ducado, depois Reino da Saboia, que tinha como capital a cidade de Turim. No processo de unificação da Itália, pelo Tratado de Turim, de 1860, a parte onde estava o castelo do Sales passou para a França.
Com certeza João Bosco ainda seminarista leu dois livros: a Introdução à vida devota – Filoteia, de Francisco de Sales, e O espírito de São Francisco de Sales, do bispo João Pedro Camus. Foi deste último livro que ele copiou a frase: Da mihi animas caetera tolle. Na Igreja de São Filipe, próxima ao Seminário, havia uma capela com um quadro de São Francisco de Sales. Foi diante deste quadro que João Bosco rezou, quando estava em dúvida sobre o caminho a seguir.
Na vigília da sua ordenação sacerdotal, 5 de junho de 1841, toma como quarto propósito: “A caridade e a doçura de São Francisco de Sales guiar-me-ão em tudo.” Isso constituirá a chave do seu sistema educativo. Nos inícios de sua vida sacerdotal, Dom Bosco foi muito influenciado pelo padre José Cafasso, que era um dos diretores do Convito Eclesiástico, uma espécie de escola que formava os neossacerdotes para a vida pastoral. Cafasso vivia segundo os princípios de que a santidade não consiste em fazer “coisas extraordinárias, mas fazer as coisas ordinárias com perfeição extraordinária” e que “nunca se deve pedir nada nem recusar nada”. Ora, estas expressões foram vividas e escritas por São Francisco de Sales. Através de uma contínua direção espiritual, Cafasso orienta Dom Bosco a superar uma espiritualidade centrada em práticas ascéticas e na devoção ou temor por uma espiritualidade baseada no amor de Deus e na caridade pastoral pelo próximo. Diríamos hoje, uma “espiritualidade salesiana!”.
Nos inícios de sua obra com os Oratórios, Dom Bosco aponta os motivos pelos quais escolheu como patrono São Francisco de Sales: “Havíamo-nos colocado sob a proteção desse santo para que nos alcançasse de Deus a graça de imitá-lo em sua extraordinária mansidão e na conquista das almas. Outra razão era a de colocar-nos sob sua proteção a fim de que do céu nos ajudasse a imitá-lo no combate aos erros contra a religião, especialmente do protestantismo, que começavam a se insinuar insidiosamente nos nossos povoados, sobretudo na cidade de Turim”.
Espiritualidade baseada no Amor
Dom Bosco não se limita a tomar emprestado o nome de Francisco de Sales. Fixa-se no essencial do Bispo de Genebra: o Amor que ele vive e propõe desde a amabilidade, a doçura, a compreensão, a paciência, a simplicidade na entrega e no sacrifício, o perdão, a confiança. Dom Bosco assimila e faz sua esta mensagem, tendo em vista seu apostolado entre os jovens. Recentemente o padre Pascual Chávez escreveu que “Dom Bosco inspirou-se em São Francisco de Sales reconhecendo-o como mestre de uma espiritualidade simples porque essencial, popular porque aberta a todos, simpática porque carregada de valores humanos e, por isso, particularmente disponível à ação educativa.”
São Francisco de Sales tem como grande mérito “relembrar” a todos os cristãos o chamado à santidade. Dom Bosco o seguiu neste aspecto. Porque sua pedagogia é uma pedagogia da santidade. E propõe, como seu santo patrono: a santidade não é complicada, é fácil. Não consiste em jejuns, cilícios e dolorosas penitências. Não é tristeza e recusa da felicidade A santidade é um processo que é feito na vida cotidiana, no dever cumprido, na piedade e na alegria.
Tudo isso leva a confiança no ser humano, a uma visão otimista da vida e do mundo. Esta é a imagem de São Francisco de Sales que Dom Bosco contempla. Transmite este humanismo que começa a respirar-se em suas casas. André Ravier conclui sua biografia de São Francisco de Sales dizendo que “por ter ido direito ao essencial da vida cristã, e, sobretudo, ao essencial da vida religiosa, ele insuflou um novo ar na espiritualidade, um ar vindo diretamente dos cumes do Evangelho”. Este foi o ar que Dom Bosco também respirou e transmitiu para nós!
Pe. Leocildes Dalla Nora para Boletim Salesiano