Por Padre Roque Luiz Sibioni
Explorar o universo das juventudes é um desafio instigante e, ao mesmo tempo, uma oportunidade única e desafiadora para aprofundar o conhecimento e compreensão dos jovens e das juventudes na contemporaneidade. São inúmeras as facetas pelas quais as juventudes vivenciam e expressam suas próprias e singulares experiências, atravessadas por condições e circunstâncias determinantes ou transitórias, internas ou externas, que moldam suas identidades como sujeitos únicos, dotados de rostos, direitos e responsabilidades inalienáveis.
Uma primeira consideração a feita, ao dialogar sobre e com jovens e juventudes, é ter presente quem é ou quem são os sujeitos jovens com os quais se está dialogando, pelo fato de que os jovens são plurais e singulares. Não há um modelo, um padrão único de jovem, uma maneira única de ser jovem ou de viver a própria condição e experiência juvenil, mas, sim múltiplas, diversas, cada qual com suas riquezas, sonhos, dons, problemáticas, medos, inseguranças e outros. Há, sim, protótipos de jovens e juventudes produzidos e comercializados como “mercadorias”, pela sociedade consumista, vendidos em cada “esquina”, em cada clique ou rolar de telas, para todos os gostos, bolsos e desejos, sob múltiplas aparências e promessas.
A condição juvenil pode determinar e produzir diversas e múltiplas formas, estilos, linguagens, modos de ser, de experimentar e curtir a própria juventude, uma vez que ela também contempla componentes da condição socioeconômica, física, religiosa, sexo, gênero, escolaridade, local de moradia, estrutura e convivência familiar, acesso a oportunidades de educação de qualidade, trabalho, cultura, lazer, saúde e outros.
Cada jovem, em geral, carrega em si, um pouco dos valores, do “clima”, das características dos ambientes, das pessoas com os quais ele se relaciona, da sociedade na qual vive, da família, da cultura, dos grupo de amigos, das geografias, das condições socioeconômicas, dentre outros, ou seja, os jovens espelham a sociedade, no dizer de Regina Novaes. Para se conhecer e compreender as juventudes, deve-se por primeiro conhecer e compreender a sociedade, o clima social, político e econômico, a cultura, as micro sociedades e micro culturas nas quais e com as quais eles vivem e interagem, para não colocar um peso demasiado ou injusto sobre as costas das juventudes e, também, mitigar preconceitos, estigmas, juízos de valor postos sobre elas e eles.
As juventudes e os jovens, em geral, se desenvolvem, humanizam-se e se educam, assim também como são educados e humanizados, em sociedade, por um contexto mais amplo no qual, e a partir do qual, de alguma maneira, eles têm contato, quer seja para sentirem-se parte dele, rejeitá-los, rebelarem-se, e/ou contribuírem para a sua melhoria e transformação. Não há jovens ou juventudes que, de alguma maneira, não estejam inseridos, vinculados a um contexto histórico e de sociedade.
A juventude é uma etapa da vida humana que, geralmente, remete à vida adulta. O que se tem percebido e constatado, nas sociedades contemporâneas, é que esta “passagem” do jovem em direção à vida adulta não é mais linear, padronizada, determinada, igual para todas as juventudes, definida por uma faixa etária fixa, pois, cada sujeito jovem a vive de maneira única e singular, mesmo que possa-se afirmar que há características e componentes próprios da fase da juventude ou das juventudes, enquanto uma etapa da vida e condição juvenil.
O grande desafio que tem se colocado, cada vez mais, para as juventudes, em particular para as mais empobrecidas e vulnerabilizadas, é encontrar o seu espaço, o seu lugar, o seu reconhecimento, os seus direitos, a sua dignidade e valor enquanto pessoa humana, na sociedade na qual vivem. É preciso estarmos muito atentos para não se cair no risco ou no desvio de legitimar as ideologias neoliberais relacionadas à meritocracia, como se todo jovem gozasse, equitativamente, das mesmas condições, qualidade de educação, condições socioeconômicas, oportunidades, chances etc.
As sociedades desiguais e as desigualdades sociais, econômicas, de oportunidades, raciais, de sexo, de gênero, xenofóbicas, produzem juventudes desiguais ou disseminam e reforçam as desigualdades juvenis e muitos preconceitos, que precisam ser conhecidos e combatidos. Tanto nas juventudes quanto nos adultos, há riquezas e pobrezas, coisas boas e coisas ruins, sinais de esperanças e sinais de descrença no ser humano e no futuro.
Diante no que foi apresentado, até o momento, quer se afirmar que a sociedade é a grande educadora das novas gerações, acompanhada pelas instituições educacionais, religiosas, políticas, famílias, organizações e outros atores sociais que contribuem para a formação e/ou a deformação dos sujeitos, em seus respectivos tempos, contextos e história.
A maior missão e responsabilidade que a sociedade e as demais mediações sociais e educativas são chamadas a desempenhar é auxiliar as juventudes na construção de seus projetos de vida possíveis, que lhes ajudem a se autoconhecer, desenvolver seus dons e talentos, sonhar, assumir suas biografias, origens, valores e trajetórias de vida, questionarem e responderem sobre as perguntas e crises que a vida, a condição humana, as circunstâncias, as condições de vida lhes apresentam, em vista de ressignificá-las, viver o hoje possível, sem perder de vista o amanhã que se pode e se quer alcançar, alçarem voos mais certeiros, direcionados, programados e também preparar-se para enfrentar desafios, incertezas e inseguranças próprios da condição juvenil, humana, laboral, dos tempos nos quais se vive etc.
Para que isso seja alcançado, é essencial contar com o apoio afetivo, efetivo, empenho, implementação de políticas públicas de juventudes, para as juventudes, com as juventudes, adequadas, capacitação, formação, acesso a oportunidades, indivíduos íntegros e engajados na defesa e promoção dos direitos humanos e juvenis. Faz-se necessário priorizar a pessoa e sua vida, unir esforços, recursos, políticas e estabelecer colaborações de diversas naturezas, a fim de garantir que todos os jovens possam ter à disposição oportunidades e condições necessárias para se fortalecerem, reconhecerem sua dignidade, lutarem por seus sonhos, sentirem-se integrantes da sociedade e integrados na sociedade.
Além disso, é crucial que percebam que não estão sozinhos nesta batalha, pois precisam ter ao seu redor pessoas, instituições, organismos com os quais possam e podem confiar para se sentirem apoiados, encorajados e acompanhados. É preciso criar ou qualificar espaços, ambientes, pessoas, instituições que favoreçam o diálogo com as juventudes e entre as juventudes, ouvi-las, sobre seus sonhos, desejos, projetos, medos, inseguranças, incertezas, de modo particular num contexto “pós-pandêmico”, que trouxe sérias consequências e de diversas naturezas para todos, em particular, para as juventudes, no que tange a qualidade da formação educacional, perda de renda, desemprego, insegurança laboral, precariedade das condições de trabalho, problemas relacionados à saúde mental, falta de sentido para a vida, ansiedade e outros.
Aqui, invocamos Dom Bosco, “pai e mestre das juventudes” para reafirmar que “no coração de cada jovem há um ponto de acesso ao bem”, ou seja, no nosso entendimento contemporâneo deve significar o acolhimento incondicional de cada jovem como único e merecedor do melhor que temos, somos e fazemos como adultos educadores, comunidades educativas, instituições educacionais, familiares e a sociedade em geral.
A sociedade precisa dos jovens, das juventudes e eles também precisam dos adultos, da sociedade, pois todos são sujeitos que devem estar comprometidos uns com os outros na prática e na vivência do bem, da justiça, da equidade, do respeito, na transformação em vista de um mundo melhor para todos. Com isso, pode-se dizer que todo jovem, mesmo que de maneira embrionária, deve ter no seu coração algo que lhe alarga os horizontes, que deseja ser alcançado, que lhe traga esperança ao olhar para si, para o outro, para a sua condição, para o futuro e perceber que ele não está sozinho.
Um dos principais frutos e resultados do projeto de vida é cultivar esperanças no presente e “jogar luz” no futuro, mesmo diante de incertezas, medos, inseguranças e sem garantias. O planejamento em si é uma experiência de antecipar vivências e conquistas desejadas. Estabelecer propósitos significa, em primeiro lugar, que o indivíduo reconheça seu valor, seu potencial, seus limites, imaturidades, elementos que precisa crescer e exerça com coragem e determinação o seu protagonismo, questionando-se sobre as ações que pode realizar para promover mudanças que impactem, positivamente, sua própria vida e percurso existencial, de sua família, de seu grupo de amigos, de seu bairro e da sociedade como um todo.
Portanto, que possamos auxiliar os jovens e as juventudes, em particular os que têm menos oportunidades, formação, incentivo, dentre outros, na construção de projetos de vida capazes de ajudá-los a irem além da própria condição de vida, ampliar seus horizontes, viver com alegria, esperança, responsabilidade e determinação o seu melhor dom, que é a vida, desenvolver suas melhores potencialidades, competências, habilidades e lutarem por seus sonhos, desejos e projetos de vida.
Editoria: Ana Laet – Comunicação Social ISSP