Por Irmão César Francisco
Uma frase sempre chamou a minha atenção desde o início da minha caminhada vocacional e hoje, com o amadurecimento dos anos, consigo compreender melhor o seu sentido, a frase era: “Com Dom Bosco e com os tempos”.
Ao olhar a atuação pastoral de Dom Bosco, percebo que ele nunca se mostrou indiferente à realidade que o circundava, de modo particular, em relação à formação e ao bem-estar dos jovens. Sendo assim, ao tratar da temática do racismo estrutural e apoiado na audácia carismática do nosso fundador, realizo uma breve reflexão sobre esse assunto tão importante.
As situações do dia a dia promovem conflitos na vida dos jovens, gerando elementos de conflito e exclusão e o racismo, dentro das suas variadas expressões, é uma delas.
Ao falarmos sobre o racismo estrutural é importante perceber que ele se desenvolve na relação social permeada pelo preconceito e a discriminação racial tão presente na nossa realidade, dando um aspecto de “normalidade” a uma questão que leva à desigualdade.
Bem sabemos que essa extensão do racismo estrutural é dada pelo processo histórico brasileiro, de modo particular, com o eurocentrismo e o processo de colonização que subjuga outras culturas como inferiores e, posteriormente, com a abolição da escravatura, essa realizada sem nenhum projeto de reparação para os escravizados, gerando assim uma massa de marginalizados, sem casa, trabalho, estudo e direitos.
Embora passado mais de 130 anos da abolição, ainda encontramos resquícios do período da escravidão em estigmas pessoais e institucionais no nosso país devido a uma ação política opressora e uma economia impossibilitada de ascensão.
É de suma importância realizarmos aqui a diferenciação entre os conceitos de racismo institucional e racismo estrutural, pois o primeiro aponta uma realidade visível dentro da perspectiva de hegemonia de uma raça, privilégios e nos padrões estabelecidos socialmente e assumidos como modelo, já o racismo estrutural aponta para os elementos marcados pela ação objetiva e subjetiva da sociedade, como a própria estrutura de Estado e suas normas pautada pela lógica de poder.
Diante desse cenário, a representatividade plural contribuiu para que muitos jovens encontrem formas e meios de sobrevivência, sendo protagonistas da sua luta diária, procurando validar o seu espaço e lugar social. A nossa ação pastoral, hoje, requer elementos que possam dar suporte para que esses jovens se sintam pertencentes por completo, alcançando suas metas e sonhos sem constrangimento ou segregação. Por isso a luta antirracista deve fazer parte constante dos nossos projetos e atividades. Só realizando esse movimento que conseguiremos alcançar uma cultura realmente mais igualitária e emancipada.
Enfim, concluo essa reflexão retomando a ideia da frase de dom Bosco que expus no início desse artigo, pois não podemos nos fazer indiferentes a realidade que nos circunda, ainda mais quando as mais variadas formas de violências continuam a subjugar e sufocar de modo cruel as juventudes, ofuscando seus sonhos e projetos de vida.
Editoria: Ana Laet – Comunicação Social ISSP